Na segunda-feira (29), Lula recebeu o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto, e causou desconforto em ala do PT e em parte dos aliados. O encontro marcou a retomada da relação diplomática entre o Brasil e o país vizinho. Além de divergências dentro da sigla, o encontro gerou grande repercussão nas redes sociais nas 24 horas seguintes. Na ocasião, o petista reconheceu a dívida da Venezuela com o governo brasileiro, que atingiu US$ 1,2 bilhão, segundo o Ministério do Desenvolvimento.
A maior parte dos aliados do presidente, ouvida por esta reportagem, diz acreditar que a reunião foi importante para a retomada das relações do Brasil com outros países, já que a medida faz parte da pauta do petista. Outros lulistas, no entanto, dizem se preocupar com a repercussão negativa que o assunto pode gerar no cenário internacional.
Trata-se da primeira visita de Maduro ao Brasil desde julho de 2015, quando participou de uma cúpula do Mercosul em Brasília, durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Nos últimos anos, quase 60 países condenaram o governo de Maduro e reconheceram Juan Guaidó, líder da Assembleia Geral, como presidente interino autodeclarado da Venezuela. O Brasil, sob o governo Bolsonaro, também estava nessa lista.
Nesta terça-feira (30), o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, criticou as declarações de Lula em relação ao regime de Maduro. Lacalle, que também esteve no Brasil para reunião de presidentes da América do Sul no Itamaraty, na qual Maduro esteve presente, expressou surpresa com as palavras do mandatário brasileiro. "Fiquei surpreendido quando se falou do que acontece na Venezuela, de que é uma narrativa. Já sabem o que pensamos a respeito da Venezuela e do governo [deles]”, criticou.
Lacalle se refere ao discurso de ontem (29), quando Lula disse que Maduro precisa "construir uma narrativa” para rebater a má reputação de seu regime perante a comunidade internacional”.
Além do uruguaio, Gabriel Boric, presidente do Chile, disse, no mesmo evento, que a situação da Venezuela “não é uma questão de narrativa, mas de direitos humanos”.
Repercussão nas redes
Entre os aliados de Lula críticos ao regime venezuelano está o influenciador Felipe Neto, que disse condenar “veementemente a relação de companheirismo com ditadores sanguinários”. O comunicador declarou apoio ao petista em 2022, contra Jair Bolsonaro (PL), mas disse que seguirá vigilante em relação às ações do governo.
Continuo condenando veementemente a relação de companheirismo com ditadores sanguinários.
Esse é meu discurso há muito tempo e continuará sendo.
Quem não respeita os Direitos Humanos não pode ser tratado com sorrisos. pic.twitter.com/UR4uRDmqkc
A oposição também demonstrou descontentamento com a relação dos dois países. Os senadores Sergio Moro (União-PR) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, publicaram tweets em repúdio ao encontro. "O Brasil voltou a receber com honras de Estado ditadores sul-americanos, desta vez Maduro. Outro sinal negativo para a comunidade internacional pelo governo Lula. Será cobrado do ditador o restabelecimento da democracia e dos direitos humanos na Venezuela?", escreveu Moro. A publicação está com mais de 400 mil visualizações.
Maduro não foi recebido pelo Lula, ele foi, sem qualquer pudor, elogiado e festejado pelo atual Presidente. O Brasil se meteu em uma grande enrascada.
— Sergio Moro (@SF_Moro) May 29, 2023Flávio afirmou que houve "falta de compromisso com a democracia" da parte de Lula. "[Maduro é] acusado de crimes contra a humanidade, como assassinatos, tortura, agressões, violência sexual e desaparecimentos". "Lula desrespeita não só os brasileiros como também os venezuelanos", disse ele.
- EUA ofereceram recompensa por Maduro, acusado de narcoterrorismo
- ONU acusa governo de Maduro de crimes contra a humanidade
- E no Brasil? Recebido pelo seu grande parceiro Lula com toda pompa e honraria!
Ao receber Maduro, Lula deixa um recado para o mundo: O BRASIL APOIA A… pic.twitter.com/inFTJIAymt
Acusações contra Maduro
Organizações como a Anistia Internacional, a Human Rights Watch e a Organização das Nações Unidas (ONU) apontam o governo liderado por Maduro como uma ditadura que recorre à violência para manter o controle. Os meios utilizados envolveriam atos de execução, sequestro, violência sexual e detenção de opositores. Iniciado por Hugo Chávez, o movimento político de Maduro - conhecido como chavismo - governa a Venezuela de maneira contínua desde 1999.
Proibição de Bolsonaro
Maduro foi proibido de entrar no Brasil pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por meio de medida em 2019, quando os países romperam. Em março de 2020, o Brasil retirou seus diplomatas que trabalhavam na embaixada do Brasil na Venezuela, em Caracas, capital do país. A medida foi revertida em 30 de dezembro de 2022 pelo governo Lula.
Encontro com a América do Sul
Além de Maduro, Lula recebeu outros nove presidentes de países da América do Sul e um representante do governo do Peru nessa terça-feira para uma reunião no Palácio Itamaraty. São eles:
- Alberto Fernández (Argentina)
- Luís Arce (Bolívia)
- Gabriel Boric (Chile)
- Gustavo Petro (Colômbia)
- Guillermo Lasso (Equador)
- Irfaan Ali (Guiana)
- Mário Abdo Benítez (Paraguai)
- Chan Santokhi (Suriname)
- Luís Lacalle Pou (Uruguai).
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