relatório confidencial

Informante na Petrobras repassou informações internas a investigadores

Funcionário não foi ouvido como testemunha e é mantido no anonimato nos autos de um dos 75 inquéritos abertos no decorrer da Operação Lava Jato

Por Folhapress
Publicado em 11 de dezembro de 2014 | 15:04
 
 

Um relatório confidencial de 17 páginas produzido pela Polícia Federal indica que um funcionário de carreira "de mais de 30 anos" na Petrobras tem ajudado os investigadores da Operação Lava Jato a indicar caminhos para investigações que atingem negócios feitos em diversas áreas da estatal, como aluguel de navios e suposto superfaturamento em projetos internacionais, incluindo a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.

As informações foram prestadas pelo informante há nove meses, mas não há indicação de que os dados tenham sido aprofundados ou confirmados pela Polícia Federal. Parte do depoimento foi revelado pelo jornal "O Globo" na edição desta quinta-feira (11).

O funcionário não foi ouvido como testemunha e é mantido no anonimato nos autos de um dos 75 inquéritos abertos no decorrer da Operação Lava Jato.

Segundo a PF, o funcionário se sentiu motivado a colaborar por estar "descontente com a administração da empresa e o sucateamento da Petrobras". Uma equipe de policiais federais de Curitiba (PR) foi até o Rio de Janeiro encontrá-lo, em abril de 2014, numa conversa que começou às 14h e terminou às 18h.

O informante afirmou que um ex-diretor da Petrobras, José Raimundo Pereira, que teria sido indicado pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, "teria enviado a Houston" (EUA) um homem de sua confiança "com o objetivo de realizar contratos de afretamento [aluguel] de navios" na refinaria de Pasadena. Porém, a sócia da Petrobras no empreendimento, a Astra Oil, não aceitou que os contratos fossem fechados.

O informante diz que a Astra desconfiou dos preços cobrados. Com esse empecilho, a Petrobras então alugou navios no Golfo do México, "um dos projetos da Petrobras América".

O informante acredita que os aluguéis foram feitos a "um custo três vezes maior" na comparação com "serviços similares na região da Bacia de Campos", no Rio, porém não exibiu provas de cotação dos preços.

A respeito da compra da refinaria, o funcionário da Petrobras disse que a estatal "aproveitou-se dos termos técnicos e a alta complexidade do assunto para ocultar diversos aspectos obscuros nesta transação" que, segundo ele, foi "fraudulenta".

Ele disse que o lobista Fernando Soares, o Baiano, um dos presos pela Operação Lava Jato, participou do negócio "intermediando toda a negociação com a Astra Oil". Ele afirmou ainda que a Astra abriu mão da parceria com a Petrobras na refinaria porque "estava preocupada com a 'má gestão proposital' da Petrobras".

Negócios na África

Sobre a Área Internacional da Petrobras então chefiada por Nestor Cerveró, o informante sugeriu que a PF investigue negócios que contrariaram "diversos pareceres técnicos que os rejeitavam". Citou como exemplo o bloco de exploração da Petrobras desenvolvido em Angola. Segundo o informante, os chefes do setor internacional da Petrobras receberam pareceres de geólogos que "apontavam indícios de que a Petrobras não deveria sequer participar do leilão, pois não havia indícios de lucros ou rentabilidade na exploração de tais áreas". A estatal então decidiu não participar da disputa.

Porém, anos depois, sempre segundo o informante, ela comprou "50% dos direitos de exploração destes poços arrematados no leilão pelo mesmo valor que a empresa inicial arrematou a totalidade dos direitos anos atrás".

Segundo o informante, o problema residiu no preço. Ela teria pago US$ 500 milhões por metade dos direitos. Porém, disse o funcionário da estatal, esse foi o mesmo valor pago anos atrás "por 100% dos direitos".

Os problemas continuaram, segundo o informante da Polícia Federal. A Petrobras abriu três poços para prospectar o petróleo no bloco, com o custo unitário que oscilou de US$ 80 milhões a US$ 120 milhões. Porém, "os poços mostraram-se secos".

"O prejuízo total deste projeto foi de cerca de US$ 700 milhões, sendo US$ 500 milhões utilizados para adquirir 50% dos direitos e outros US$ 200 milhões em perfuração de poços que já se sabia serem secos", afirmou a PF em relatório, com base nos dados fornecidos pelo informante.

Sobre a Nigéria, o funcionários da estatal colocou em dúvida a capacidade de dois auxiliares nomeados pela presidente da estatal, Graça Foster, que teriam feito um negócio ruim para os interesses da Petrobras. Segundo o denunciante, a Petrobras vendeu ao banco BTG Pactual por US$ 1,5 bilhão a metade de participação de seus negócios na África, incluindo poços na Nigéria. Porém, disse o informante, o valor real seria de US$ 3,5 bilhões. Ele afirma que avaliações independentes apontavam para esse valor.

Outro lado

A reportagem procurou nesta quinta-feira (11) as assessorias da Petrobras e do BTG, que não haviam se pronunciado até o início da tarde. Procurado, José Raimundo Pereira não foi localizado. Ao jornal "O Estado de S. Paulo", o BTG "confirma que o investimento foi feito e diz que a empresa ganhou o processo competitivo porque pagou o maior preço da licitação". Ao mesmo jornal, o ministro Edison Lobão afirmou que conhece Pereira, "mas não o indicou para o cargo. Trata-se de técnico da empresa e assim foi escolhido".