Acusado de comandar um esquema de desvio bilionário de doações de fiéis e afastado das atividades eclesiásticas pela Igreja Católica, o padre Robson de Oliveira Pereira, 47 anos, quebrou o silêncio na noite deste domingo (19), após um ano e quatro meses distante das redes sociais.
Em publicação no Instagram, ele compartilhou uma mensagem de fé defendendo o “silêncio da escuta” e afirmando que, por vezes, “ficamos até perdidos diante dos acontecimentos”.
“Por vezes, acabamos não compreendendo os desígnios de Deus em nossa vida! Muitas vezes, ficamos até perdidos diante dos acontecimentos e dos fatos que não compreendemos, que não entendemos. É preciso aprender com São José a submissão a Deus na oração e no silêncio da escuta”, escreveu o religioso.
São José é conhecido por ser um dos santos mais populares da Igreja. Ele é o protetor da Igreja Católica, o padroeiro dos trabalhadores e das famílias. O post também está no YouTube, com a voz do padre pregando.
O religioso é investigado por suspeita de participar de uma movimentação de R$ 2 bilhões que deveriam ser destinados à construção do novo Santuário Basílica de Trindade, na região metropolitana de Goiânia. Porém, o padre teria comprado fazendas, casa na praia e até um avião, segundo o Ministério Público de Goiás.
O santuário atrai milhares de pessoas por ano, em especial durante a Festa do Divino Pai Eterno, comemorada entre o fim de junho e início de julho. Apesar de ser tradição do século 19, Padre Robson foi, durante anos, figura central da festividade e responsável por impulsioná-la.
O religioso teria pago R$ 750 mil como propina para três magistrados do Tribunal de Justiça de Goiás para que uma decisão proferida em novembro de 2019 fosse favorável à entidade presidida por ele na época, a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe).
“Sou o chefe da quadrilha”
Em novembro, a TV Record mostrou áudios em que o padre Robson de Oliveira discute estratégias com advogados da Afipe para dar aparência de legalidade a contratos e compras feitos por terceiros que poderiam ser alvo de investigação. Os áudios foram recuperados do celular do padre, de acordo com a emissora.
Em um trecho das conversas divulgadas pela TV, ele admite que participava de esquema para burlar contratos e sabia do risco de ser preso pela polícia. “Sou o chefe da quadrilha”, diz o padre.
Em outro trecho, uma das funcionárias questiona se um dos investimentos na área imobiliária pode ser considerado roubo. No momento, o padre responde: "Estou dando legitimidade para uma coisa ilegítima, porque eu considero que foi estelionato aquilo lá. Os caras lá já falavam: 'Olha, você vai passar por fora para mim tanto", disse ele.
Em outubro de 2020, a Justiça determinou que as investigações fossem interrompidas. Após recursos, o caso foi para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), que em maio, manteve a investigação bloqueada. À época, o desembargador Olindo Menezes considerou que as provas usadas pelo Ministério Público durante a operação foram compartilhadas de maneira ilegal de outra apuração.
No entanto, no mês passado, a Polícia Federal enviou ao STJ um pedido de prisão do padre Robson de Oliveira. O caso está sob responsabilidade do ministro-relator Benedito Gonçalves.
A denúncia é decorrente da Operação Vendilhões, que cumpriu mandados em agosto de 2020 para apurar os desvios. Robson e outras 17 pessoas foram denunciadas por organização criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro doado por fiéis.
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