Investigação

PF flagra ex-assessor da Casa Civil e ex-militar preso tramando golpe de Estado

Em mensagens de áudio, o coronel Elcio Franco não só demonstra saber como dá sugestões de como mobilizar 1,5 mil homens das Forças Armadas para um golpe de Estado

Por O Tempo Brasília
Publicado em 09 de maio de 2023 | 08:16
 
 
Mauro Cid e Ailton Barros tiveram conversa em que o segundo pregou golpe militar Foto: Reprodução

A Polícia Federal flagrou conversas sobre um plano de golpe de Estado entre o coronel Elcio Franco, ex-número 2 do Ministério da Saúde e assessor da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro (PL), e o ex-major Ailton Barros, preso semana passada acusado de envolvimento em suposto esquema de fraude de adulteração de cartões com informações falsas de vacinas contra Covid-19 que teria beneficiado o ex-presidente da República, familiares e assessores.

As interceptações feitas com autorização judicial no âmbito da investigação da fraude dos cartões e que também levaram à prisão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Entre muitas conversas entre os investigados, chamou a atenção dos federais o diálogo em mensagens de áudio em que o coronel Elcio Franco não só demonstra saber como dá sugestões de como mobilizar 1,5 mil homens das Forças Armadas para um golpe de Estado.

Os dois citam unidades do Exército e comandantes para a execução de tal plano. Eles falam em acionar o Batalhão de Operações Especiais do Exército para atropelar o então comandante Freire Gomes, caso recusasse deflagrar o golpe. Elcio Franco e Ailton Barros falam de uma suposta resistência de Freire Gomes para colocar a tropa na rua para fechar o Congresso Nacional e prender ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para a tomada do poder pelos militares.

As informações são da CNN Brasil, com base em documentação do inquérito que embasa as prisões de Mauro Cid e Ailton Barros, ex-major que circulava pela cúpula do Palácio do Planalto. A emissora de TV divulgou nesta segunda-feira (8) trechos das conversas entre Elcio e Ailton.

“Olha, eu entendo o seguinte: é Virgílio (comandante de um batalhão importante do Exército). Essa enrolação vai continuar acontecendo. O Freire não vai. Você não vai esperar dele que ele tome à frente nesse assunto, mas ele não pode impedir de receber a ordem. Ele vai dizer, morrer de pé junto, porque ele tá mostrando. Ele tá com medo das consequências, pô. Medo das consequências é o quê? Ele ter insuflado? Qual foi a sua assessoria? Ele tá indo pra pior hipótese. E qual, qual é a pior hipótese?”, diz Elcio.

O ex-número 2 do Ministério da Saúde prossegue ao telefone:

“Ah, deu tudo errado, o presidente foi preso e ele tá sendo chamado a responder. Eu falei, ó, eu, durante o tempo todo [ininteligível] contra o presidente, pô, falei que não, não deveria fazer, que não deveria fazer, que não deveria fazer e pronto. Vai pro Tribunal de Nurenberg desse jeito. Depois que ele me deu a ordem por escrito, eu, comandante da Força, tive que cumprir. Essa é a defesa dele, entendeu? Então, sinceramente, é dessa forma que tem que ser visto”.

Em outro trecho, Ailton Barros diz a Franco: 

“[É preciso convencer] o general Pimentel. Esse alto comando de m… que não quer fazer as p…, é preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1.500 homens”.

A CNN Brasil já havia divulgado um conjunto de áudios de posse da PF que Ailton Barros também discutiu detalhes da tentativa de um golpe de Estado com Mauro Cid.

Os advogados de Elcio Franco, Ailton Barros e Mauro Cid ainda não se pronunciaram sobre as revelações da CNN.

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