Fraude em cartões

Quem é Ailton Barros, militar preso por fraude e suspeito de acordo com tráfico

Capitão reformado do Exército entrou no centro da investigação sobre fraudes em cartões de vacinação ao aparecer em escutas falando sobre Marielle Franco e golpe de Estado

Por O Tempo Brasília
Publicado em 05 de maio de 2023 | 09:25
 
 
 
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Um dos seis presos na operação desencadeada pela Polícia Federal na quarta-feira (4) contra um suposto esquema de falsificação de cartões de vacinação que teria beneficiado até o ex-presidente Jair Bolsonaro, o capitão da reserva e ex-candidato a deputado estadual Ailton Gonçalves Moraes Barros (PL-RJ) coleciona problemas com as justiça comum e militar.

Antes de ser preso pela PF acusado de intermediar inserção de dados falsos em cartões de vacinação da Covid-19, o capitão reformado do Exército já havia sido investigado por suposto acordo com narcotraficantes e expulso do Exército após uma série de punições disciplinares, que incluíam tentativa de abuso sexual de civis em acampamentos militares, mentiras em depoimentos e humilhação de colegas de menor patente.

Sem a farda, tornou-se advogado e ganhou certa notoriedade por defender Leniel Borel, pai do menino Henry Borel, morto no Rio de Janeiro, em março de 2021. Leniel foi o maior doador da campanha de Barros a deputado estadual pelo PL, em 2022: R$ 3 mil. Os outros R$ 2,5 mil foram doados pelo partido, o mesmo de Bolsonaro. As informações são do portal G1.

Proposta de tentativa de golpe e segredo sobre assassinato de Marielle

Agora, Ailton Barros ganha fama por estar no centro do maior escândalo político do momento. Investigação da PF diz que, além de participar do esquema de fraudes em cartões de vacinação, ele foi flagrado em interceptação telefônica autorizada pela Justiça dizendo ao tenente-coronel Mauro Cid saber quem é o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. 

Na quinta-feira (4), a CNN Brasil afirmou que um conjunto de áudios de posse da PF aponta que Ailton Barros discutiu detalhes da tentativa de um golpe de Estado com Mauro Cid. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro também foi preso na operação de quarta e é considerado o principal personagem no suposto esquema de fraudes de cartões de vacinação, da qual ele, mulher e filhos teriam se beneficiado.

Nos áudios, gravados em dezembro do ano passado, segundo a CNN Brasil, Ailton fala em pressionar o comandante do Exército na época, general Freire Gomes, para usar tropas de Goiânia para prender o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e impedir a troca de governo.

Ailton Barros dizia ser o “01” de Bolsonaro

Enquanto Mauro Cid era sabidamente o braço direito de Jair Bolsonaro nos quatro anos de Presidência da República, Ailton Barros se gabava de uma amizade de longa data com o ex-presidente. Tanto que em sua campanha por uma vaga na Assembleia do Rio de Janeiro, Ailton Barros se apresentava como o “01” de Bolsonaro. Ele conseguiu votos suficientes para ficar na suplência. Barros exibie em suas contas nas redes sociais diversas fotos com Bolsonaro. 

Ailton Barros sempre ressaltou o fato de ser um dos ex-alunos da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e de integrar a Artilharia da Brigada Paraquedista. Dos colegas de turma, sempre foi grande amigo de Jair Bolsonaro e Mauro Cid. Assim como o ex-presidente – que reposndeu a diversos procedimentos internos –, Ailton Barros era visto no Exército como um militar indisciplinado. 

Em 2006, o então capitão Ailton Barros foi apontado como negociador, com traficantes do Comando Vermelho, para a devolução de 10 fuzis e uma pistola roubados de um quartel da Força, em São Cristóvão, no Rio. O caso foi revelado na época pelo jornal Folha de S. Paulo. Oficialmente, o Exército sempre negou qualquer acordo, que chegou a ser investigado pelo Ministério Público Militar.

O G1 apurou, em conversas com militares que participaram da operação na época, que o capitão fez a proposta de acordo com os traficantes. O comando da ação, no entanto, recusou. Outros militares contam que, apesar de ser expulso dos gabinetes de generais e coronéis na ocasião, o capitão Barros seguiu com o plano e teve apoio de setores da Força. Um outro militar teria ido ao complexo penitenciário de Gericinó negociar com chefes do Comando Vermelho. 

“Incapaz de permanecer no serviço ativo do Exército”

Já respondendo a diversos processos na Justiça Militar, o episódio das armas só piorou a situação de Ailton Barros. “Considerado incapaz de permanecer no serviço ativo do Exército sob argumento de que tem reiterada conduta irregular de atos que afetam o pundonor militar e o decoro da classe”, diz uma das decisões, divulgada pelo G1. Durante o processo no Conselho de Justificação que resultou em sua expulsão, o capitão Barros foi promovido por antiguidade ao major. A expulsão foi decidida por unanimidade pelos ministros do Superior Tribunal Militar (STM).

Fora do Exército, mas com o dinheiro da aposentadoria garantido, ele decidiu estudar direito. Formado, tornou-se criminalista, e ampliou o leque de amizades influentes. Uma delas com o ex-vereador Marcelo Siciliano, que foi alvo de busca e apreensão da PF na operação de quarta, quando teve um telefone celular e um computador apreendidos.

Ailton Barros teria conseguido cartões de vacinação falsos para Siciliano e familiares viajarem para os Estados Unidos, por meio de contatos na Prefeitura de Duque de Caixas, um dos redutos bolsonaristas no estado do Rio de Janeiro.

Durante a investigação do assassinato de Marielle Franco e do motorista a vereadora, o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira acusou Siciliano de ser uma das pessoas que planejaram o crime. Siciliano sempre negou envolvimento, e tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público do RJ não o tratam como suspeito ou investigado no caso.

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