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Maioria apoia CPI da Covid, mas avalia que ela fará apenas teatro, diz Datafolha

As duas conclusões constam de pesquisa do Datafolha realizada com 2.071 pessoas, de forma presencial, em 146 municípios, nos dias 11 e 12 de maio

Por FOLHAPRESS
Publicado em 14 de maio de 2021 | 18:38
 
 
Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid no Senado Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A maioria da população brasileira apoia a criação da CPI da Covid no Senado, mas também acredita que a investigação será apenas uma encenação.

As duas conclusões constam de pesquisa do Datafolha realizada com 2.071 pessoas, de forma presencial, em 146 municípios, nos dias 11 e 12 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Para 82% dos entrevistados, os senadores agiram bem em abrir a comissão. Apenas 11% consideraram um erro a instalação, 2% se disseram indiferentes e 5% afirmaram não saber.

A opinião favorável à investigação é majoritária mesmo na parcela do eleitorado que aprova a gestão do presidente Jair Bolsonaro, principal crítico da CPI.

Concordam com a criação 67% dos que avaliam o governo como ótimo ou bom, percentual que sobe para 90% entre os que reprovam o presidente.

A comissão, na verdade, foi instalada apenas por interferência do Supremo Tribunal Federal, uma vez que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), resistia em criá-la, embora as condições regimentais para isso estivessem todas cumpridas.

Ao mesmo tempo, a maior parte dos entrevistados demonstra ceticismo de que a CPI vá fazer uma investigação séria sobre erros cometidos no enfrentamento da pandemia, que já deixou mais de 430 mil mortos.

Estão esperançosos 35%, para quem a CPI vai levar a investigação até o fim a sério. Outros 57%, no entanto, avaliam que a comissão vai fazer apenas uma encenação, enquanto 6% não souberam responder e 2% deram outras repostas.

Em duas semanas de trabalho, a CPI teve uma série de depoimentos quentes, que trouxeram informações novas sobre as falhas do governo federal, mas também proporcionaram momentos de pugilato verbal.

A sessão mais controversa foi a que ouviu o ex-secretário de Comunicação Social Fábio Wajngarten, que chegou a ter sua prisão pedida por senadores, sob acusação de mentir em depoimento.
Também houve um bate-boca entre Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), que foi chamado de vagabundo pelo filho de Bolsonaro.

Apesar deste apelo midiático da CPI, metade da população brasileira afirma que não tomou conhecimento sobre a comissão. Disseram estar informados 52% dos entrevistados, uma situação de empate técnico com os 48% que afirmaram não ter conhecimento sobre a investigação.

Apenas 14% consideram-se bem informados a respeito da CPI, 27% mais ou menos informados e 10% mal informados.

Curiosamente, o apoio à CPI difere pouco entre as metades da população que se dizem informadas e sem conhecimento sobre a comissão. Entre os que estão a par do assunto, 84% defendem a investigação, índice que cai para 79% entre os que declaram desconhecê-lo.

O Datafolha também apresentou uma série de frases sobre a pandemia e quis saber se os entrevistados concordavam com elas. A maioria dos pesquisados mostrou alinhamento com afirmações negativas para Bolsonaro.

De acordo com o levantamento, 75% concordam que o governo federal demorou para comprar vacinas e perdeu boas ofertas de imunizantes.

A principal controvérsia é com relação à vacina da Pfizer, que se dispôs a fornecer doses ao Brasil ainda no ano passado, e teve o gesto recusado.

Além disso, 73% dos entrevistados consideram que o governo federal transformou a pandemia num problema político, e 72% afirmam que a gestão Bolsonaro agiu como se a Covid-19 não fosse grave.

O presidente, desde a eclosão da emergência, no início do ano passado, procurou minimizar seus riscos para a saúde da população, e chegou a chamar a doença de "gripezinha".

Bolsonaro também segue promovendo aglomerações, despreza o uso de máscaras e é contrário às restrições de mobilidade, com o argumento de que elas prejudicam a economia.

Também há concordância com as assertivas de que Bolsonaro deixou faltar remédios em hospitais, como o kit intubação (70%), criou dúvidas sobre a Coronavac, do Butantan (69%), e fez do Brasil o centro mundial da pandemia (64%).

Um dos pontos mais criticados na gestão da pandemia pelo presidente, o chamado "tratamento precoce", com drogas como cloroquina e ivermectina, também recebe críticas.

Dentre os entrevistados pelo Datafolha, 60% concordam com a afirmação de que Bolsonaro promoveu métodos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, contra 34% que se alinham ao presidente.

A resposta do governo para amenizar os efeitos econômicos tampouco agrada à maioria: 67% concordam que o programa federal de ajuda às empresas não foi eficiente, e 65% dizem que houve demora no pagamento da ajuda emergencial.

Por fim, 59% respaldam a afirmação de que o presidente entregou o Ministério da Saúde a militares sem expertise na área, caso do general Eduardo Pazuello. O mesmo percentual diz que o governo criou e espalhou notícias falsas sobre a pandemia.

Como esperado, a opinião nos segmentos que apoiam Bolsonaro sobre estas afirmações é diferente em comparação com o que pensa a totalidade dos entrevistados.

Entre quem considera o desempenho de Bolsonaro ótimo ou bom, 59% discordam da demora no pagamento do auxílio emergencial, 66% dizem que o governo não espalhou notícias falsas e 53% divergem da assertiva de que o Ministério da Saúde foi entregue a militares sem experiência.

Mesmo nesse segmento de bolsonaristas, no entanto, há empate técnico entre os que concordam e discordam sobre a demora na compra de vacinas e a promoção de tratamento precoce sem eficácia contra a doença, entre outros pontos.