Eleições

Mais da metade dos vereadores de BH trocaram de legenda

Dos 41 parlamentares, 23 mudaram de sigla já pensando na reeleição no pleito municipal. Partido do prefeito Alexandre Kalil saltou de 2 para 13 representantes

Por Thaís Mota
Publicado em 06 de abril de 2020 | 19:47
 
 
Câmara Municipal de Belo Horizonte Foto: DENILTON DIAS – 4.11.2016

Às vésperas das eleições municipais, a Câmara Municipal de Belo Horizonte mudou a correlação de forças entre as legendas. Dos 41 vereadores, 23 mudaram de sigla na janela partidária encerrada na última sexta-feira. A data era o limite para quem pretende disputar a eleição municipal mudar de partido.

Com as mudanças, a legenda do prefeito Alexandre Kalil, o Partido Social Democrático (PSD), foi o que mais cresceu no Legislativo. Ao todo, são 13 vereadores que compõem a bancada da legenda na Câmara, ou seja, quase um terço da Casa (que é composta por 41 vereadores), sendo que o único que não deve ser candidato nas próximas eleições é o vereador Orlei. “Eu fui só para não ficar sem chapa, porque realmente não sou candidato”, garantiu o parlamentar. Em 2018, a sigla elegeu dois parlamentares.

Essa grande debandada para o PSD pode ser explicada pelo fato de a eleição municipal deste ano ser a primeira em que os partidos não poderão fazer alianças para disputar as Câmaras, mas somente para as prefeituras. 

“Como não podem mais ser feitas coligações, as opções são poucas para a maioria dos vereadores. No meu caso, o meu partido não me deu nenhuma liberdade para eu trabalhar a chapa. Então, eu precisei mudar de legenda e entendi ter mais chances e condições de continuar o mandato pelo PSD”, disse o vereador Irlan Melo, que deixou o PL para se filiar ao partido do prefeito.

O vereador Jair Di Gregório, que deixou o PP para se filiar ao PSD, disse que a intenção da grande filiação ao PSD foi montar uma chapa forte para disputar o pleito municipal em outubro: “Nós montamos uma bela chapa no PSD e vamos fazer pelo menos oito vereadores na capital”. 

O projeto de eleger oito parlamentares por um único partido parece ambicioso para o especialista em direito eleitoral Leonardo Spencer. Ele afirma que o maior feito em Belo Horizonte ocorreu na eleição municipal de 1988, quando o PT elegeu nove dos 39 vereadores que compunham a Câmara na época.

No entanto, ele diz que a estratégia dos vereadores, apesar de arriscada, faz sentido, pois a chapa do prefeito é sempre uma chapa forte. “Os partidos que tiverem candidatos majoritários fortes tendem a ter chapas proporcionais com muitos eleitos, e Kalil é um candidato forte”, aponta Spencer.

Ainda segundo ele, não há uma explicação clara para o fenômeno, mas ele tem uma hipótese. “Um bom desempenho da chapa majoritária tende a refletir na chapa proporcional, e essa é uma tendência histórica que não tem causa clara – mas desconfio que seja porque nas eleições municipais vota-se primeiro para vereador, e muita gente só tem em mente o número do seu candidato a prefeito. Então, ela acaba digitando o número do prefeito e, assim, ela acaba votando na legenda achando que está votando no prefeito”, explica.

O segundo partido com maior número de vereadores da Câmara de BH é o Partido Social Cristão (PSC). Até então, a bancada era formada apenas por Autair Gomes e Ronaldo Batista. Agora, com a janela partidária, Autair também foi para o PSD, enquanto os vereadores Dimas da Ambulância, Eduardo da Ambulância e Flávio dos Santos se filiaram à legenda cristã – que passa a ter quatro representantes. Na sequência, com três vereadores está o Cidadania.

Os partidos que mais perderam filiados na Casa foram o Podemos e o Avante. O primeiro tinha quatro vereadores, mas todos deixaram a legenda na janela partidária. Atualmente, somente a presidente da Câmara, Nely Aquino, é filiada ao partido. Ela deixou o PRTB, pelo qual foi eleita, para se filiar à legenda. Já o Avante perdeu dois de seus quatro parlamentares e segue apenas com Fernando Borja e Juninho Los Hermanos. 

Na eleição de 2018, os partidos que mais elegeram vereadores na capital mineira foram o PHS, que também era o partido do prefeito Kalil, e o PTN – cada um elegeu quatro vereadores cada. Porém, após as mudanças de legenda, nenhum vereador terminará o mandato por nenhum dos dois partidos.