Às vésperas das eleições municipais, a Câmara Municipal de Belo Horizonte mudou a correlação de forças entre as legendas. Dos 41 vereadores, 23 mudaram de sigla na janela partidária encerrada na última sexta-feira. A data era o limite para quem pretende disputar a eleição municipal mudar de partido.
Com as mudanças, a legenda do prefeito Alexandre Kalil, o Partido Social Democrático (PSD), foi o que mais cresceu no Legislativo. Ao todo, são 13 vereadores que compõem a bancada da legenda na Câmara, ou seja, quase um terço da Casa (que é composta por 41 vereadores), sendo que o único que não deve ser candidato nas próximas eleições é o vereador Orlei. “Eu fui só para não ficar sem chapa, porque realmente não sou candidato”, garantiu o parlamentar. Em 2018, a sigla elegeu dois parlamentares.
Essa grande debandada para o PSD pode ser explicada pelo fato de a eleição municipal deste ano ser a primeira em que os partidos não poderão fazer alianças para disputar as Câmaras, mas somente para as prefeituras.
“Como não podem mais ser feitas coligações, as opções são poucas para a maioria dos vereadores. No meu caso, o meu partido não me deu nenhuma liberdade para eu trabalhar a chapa. Então, eu precisei mudar de legenda e entendi ter mais chances e condições de continuar o mandato pelo PSD”, disse o vereador Irlan Melo, que deixou o PL para se filiar ao partido do prefeito.
O vereador Jair Di Gregório, que deixou o PP para se filiar ao PSD, disse que a intenção da grande filiação ao PSD foi montar uma chapa forte para disputar o pleito municipal em outubro: “Nós montamos uma bela chapa no PSD e vamos fazer pelo menos oito vereadores na capital”.
O projeto de eleger oito parlamentares por um único partido parece ambicioso para o especialista em direito eleitoral Leonardo Spencer. Ele afirma que o maior feito em Belo Horizonte ocorreu na eleição municipal de 1988, quando o PT elegeu nove dos 39 vereadores que compunham a Câmara na época.
No entanto, ele diz que a estratégia dos vereadores, apesar de arriscada, faz sentido, pois a chapa do prefeito é sempre uma chapa forte. “Os partidos que tiverem candidatos majoritários fortes tendem a ter chapas proporcionais com muitos eleitos, e Kalil é um candidato forte”, aponta Spencer.
Ainda segundo ele, não há uma explicação clara para o fenômeno, mas ele tem uma hipótese. “Um bom desempenho da chapa majoritária tende a refletir na chapa proporcional, e essa é uma tendência histórica que não tem causa clara – mas desconfio que seja porque nas eleições municipais vota-se primeiro para vereador, e muita gente só tem em mente o número do seu candidato a prefeito. Então, ela acaba digitando o número do prefeito e, assim, ela acaba votando na legenda achando que está votando no prefeito”, explica.
O segundo partido com maior número de vereadores da Câmara de BH é o Partido Social Cristão (PSC). Até então, a bancada era formada apenas por Autair Gomes e Ronaldo Batista. Agora, com a janela partidária, Autair também foi para o PSD, enquanto os vereadores Dimas da Ambulância, Eduardo da Ambulância e Flávio dos Santos se filiaram à legenda cristã – que passa a ter quatro representantes. Na sequência, com três vereadores está o Cidadania.
Os partidos que mais perderam filiados na Casa foram o Podemos e o Avante. O primeiro tinha quatro vereadores, mas todos deixaram a legenda na janela partidária. Atualmente, somente a presidente da Câmara, Nely Aquino, é filiada ao partido. Ela deixou o PRTB, pelo qual foi eleita, para se filiar à legenda. Já o Avante perdeu dois de seus quatro parlamentares e segue apenas com Fernando Borja e Juninho Los Hermanos.
Na eleição de 2018, os partidos que mais elegeram vereadores na capital mineira foram o PHS, que também era o partido do prefeito Kalil, e o PTN – cada um elegeu quatro vereadores cada. Porém, após as mudanças de legenda, nenhum vereador terminará o mandato por nenhum dos dois partidos.