Antifascistas

Ministério da Justiça entrega ao Congresso relatório sobre opositores do governo

Medida antecipou uma série de requerimentos que estavam sendo protocolados por partidos de oposição exigindo os dados

Por Folhapress
Publicado em 11 de agosto de 2020 | 20:16
 
 
André Mendonça, ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU) defende a utilização de recursos livres de outros Poderes pelos Executivos dos Estados em crise Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil - 28.5.2019

O Ministério da Justiça encaminhou ao Congresso Nacional o relatório produzido pelo governo Jair Bolsonaro sobre a atuação de 579 policiais e professores identificados como antifascistas.

Na última sexta-feira (7), o ministro André Mendonça admitiu a existência do documento em sessão virtual fechada da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso. "O relatório existe. O que não existe é um dossiê", disse aos congressistas presentes.

O documento foi entregue impresso ao senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que preside o colegiado. De acordo com informações de dois congressistas consultados pela reportagem, o acesso ao documento deve ser feito apenas presencialmente.

A entrega antecipou uma série de requerimentos que estavam sendo protocolados por partidos de oposição exigindo os dados. O movimento também esvazia o mal estar causado com a negativo da pasta fornecer informação ao MPF (Ministério Público Federal).

Na reunião de sexta, o ministro André Mendonça, por mais de uma vez, afirmou que a comissão era o ambiente correto para discutir as ações de inteligência ao justificar porque não atendeu ao pedido do STF sobre o caso.

Na última quinta-feira, a pasta afirmou à ministra do STF Carmém Lúcia que não produz "dossiê" contra opositores e que nunca monitorou adversários com "viés investigativo, punitivo ou persecutório penal".

Em resposta à Corte, o ministro disse que não nega a existência deste tipo de levantamento, mas afirma que a pasta atua conforme a lei que disciplina a atividade de inteligência do governo federal. A ministra do STF cobrou explicações, mas não exigiu o envio do relatório.

Aos congressistas, o ministro afirmou que a palavra "dossiê" é uma expressão inadequada para a atividade de inteligência. "Dossiê é algo feito às escuras para fins indevidos, que não estão no sistema. Que não está relatado oficialmente. Dossiê não é algo que você distribui", disse o ministro durante reunião da comissão.

No encontro virtual, o ministro ressaltou que o documento fosse algo ilegal não teria os registros e protocolos feitos no sistema do ministério e nem distribuído às forças de segurança locais.

"Se houvesse qualquer tentativa de levantar dados para fins ilícitos ou indevidos não fazia uma divulgação dessa manta", afirmou o ministro aos congressistas. "O relatório está registrado, tem número e está dentro do sistema", completou.

Nota

Nesta terça-feira (11), em nota, o Ministério da Justiça (MJ) disse que encaminhou à comissão informações e documentos necessários para a realização da atividade de controle e fiscalização externos da atividade de inteligência.

O MJ informou ainda que vai encaminhar ao colegiado o resultado da sindicância investigativa para apuração dos fatos envolvendo o relatório.

A nota diz que que "não é verídica a informação de que não foram atendidas as solicitações do Ministério Público".

"Na forma do § 4º do art. 8º da LC nº 75/93, quando o atendimento a uma solicitação deve ser feito por autoridade de determinada hierarquia, como é o caso de Ministro de Estado, essa atribuição é única e exclusiva do Chefe do Ministério Público da União e não de outros membros da instituição", diz o documento.

Segundo a reportagem do UOL, o ministério produziu um relatório com nomes e, em alguns casos, fotografias e endereços de redes sociais das pessoas monitoradas.

Conforme o jornal "Folha de S.Paulo" mostrou, a atuação da Seopi para monitoramento político de adversários e críticos do governo Bolsonaro foge de suas atribuições, mas não é completamente atípica na pasta.

Reservadamente, ex-integrantes do Ministério da Justiça dizem que a pasta já acompanhou grupos políticos ou organizações sociais durante eventos como Jornada Mundial da Juventude (2013), Copa do Mundo (2014) e Jogos Olímpicos do Rio (2016).