O ex-ministro da Justiça Sergio Moro comparou, em entrevista à revista norte-americana “Time”, os governos de Jair Bolsonaro (sem partido) e do Partido dos Trabalhadores na falta de comprometimento com o combate à corrupção. 

Moro deixou o governo no dia 24 de abril após acusar Bolsonaro de tentar interferir em investigações envolvendo os filhos e pressionar o então ministro a fazer trocas pontuais no comando da Polícia Federal (PF).

Em longa reportagem que detalha a trajetória de Moro desde o papel na Lava Jato até a sua demissão no governo Bolsonaro, o ex-juiz afirma que relutou, a princípio, em aceitar o convite para assumir o Ministério da Justiça. 

“Mas várias pessoas me disseram que se sentiam mais confortáveis comigo dentro do governo que fora dele, porque, de dentro, eu poderia exercer uma influência potencialmente moderadora”, declarou ele.

Questionado se aceitaria o mesmo cargo de ministro se o resultado das eleições de 2018 tivesse sido diferente, Moro diz que não viu, na campanha, o PT reconhecer a participação nos escândalos de corrupção. 

“Eu simplesmente não acreditava que seria possível (para o PT avançar na agenda anticorrupção) sem reconhecer os erros do passado. Então, você tem que procurar um novo começo. É preciso haver um sério comprometimento”, diz Moro, que completa:

“Infelizmente, o governo que foi eleito também não possuía isso.”

Críticas

Moro diz que, durante o ano passado, ficou claro para ele, no cargo de ministro, que o governo atual não estava cumprindo as promessas de lutar contra a corrupção e de fortalecer as instituições. 

Ele cita como problemas a falta de suporte do governo ao Projeto de Lei Anticrime como um dos indícios principais e a recente aliança entre o presidente Bolsonaro e políticos acusados por corrupção. 

“Eu não posso estar em um governo que não tem um compromisso sério com a lei”, destaca Moro. “Não entrei no governo para seguir um mestre. Entrei para seguir a lei”, completa na frase que dá título à matéria.

O ex-ministro da Justiça também admitiu ter ficado desconfortável com a condução do presidente da República no combate à pandemia mundial do coronavírus, com a demissão de dois ministros da Saúde que relutaram em se pronunciar contra as medidas de isolamento defendidas por Bolsonaro. 

Por fim, Moro diz acreditar na sobrevivência da democracia brasileira, apesar dos seguidos abalos em suas instituições.

“Há uma percepção crescente na opinião pública de que devemos fortalecer os pilares da nossa democracia, inclusive o da lei. Esses desejos continuam, apesar das circunstâncias do momento”, finaliza.