Vereadores da bancada de esquerda na Câmara Municipal de Belo Horizonte recorreram a uma tática inusitada para tentar adiar a votação do projeto que autoriza a cessão do terreno do antigo Hospital Galba Veloso, no bairro Gameleira, ao governo estadual. Durante a sessão, parlamentares trocaram provocações e “pequenos insultos” entre si para garantir direito de resposta e prolongar os debates em plenário.
Pelo regimento da Casa, sempre que um parlamentar é citado por outro, tem direito à réplica. A prática é comum para ampliar o tempo de fala de aliados, mas, quando é combinada, raramente vem acompanhada de ofensas. A manobra começou quando o vereador Pedro Patrus (PT) chamou o colega Bruno Pedralva (PT) de “careca cabeludo” ao criticar a condução dos trabalhos pela presidência da Câmara.
“Eu tinha direito de fazer questões de ordem e fui impedido. Vereador Bruno, o senhor – sempre careca e cabeludo – é impressionante. Eu fico muito triste e gostaria de poder atuar. A pior coisa que o senhor (presidente Juliano) pode fazer é cortar a palavra de um vereador”, disse Patrus. “São atitudes como essa que fazem com que a Comissão de Constituição e Justiça barre os projetos de esquerda e passe os de direita”, completou.
Na sequência, Pedralva recorreu ao artigo 94 do regimento para ampliar seu tempo de fala e aproveitou para criticar a proposta: “Me chamar de careca e barrigudo é igual o Zema está fazendo com o prefeito Damião, com vocês vereadores e com o povo de Belo Horizonte. Está querendo obrigar vocês a votarem um projeto de lei que ele não explicou; que vai fechar hospitais em Belo Horizonte; que não vai ter pronto-socorro”.
Pouco depois, Pedralva também recorreu à tática e chamou a vereadora Iza Lourença (PSOL) de “baixinha”, garantindo a ela direito de resposta. Iza defendeu o adiamento da votação até que uma audiência pública fosse realizada com representantes da prefeitura e do governo estadual para explicar os impactos do projeto.
A principal crítica da oposição é que o novo complexo hospitalar estadual previsto para o terreno do antigo Galba Veloso poderia resultar no fechamento de outras quatro unidades de saúde em Belo Horizonte: o Hospital Infantil João Paulo II, o Hospital Eduardo de Menezes, a Maternidade Odete Valadares e o Hospital Alberto Cavalcanti.
“Quer fechar hospitais em Belo Horizonte. Se fosse apenas para criar um novo hospital, estaríamos a favor de repassar o terreno. Sou a favor de ampliar vagas, mas que não feche outros equipamentos. Temos que discutir para ter algumas garantias. Garantir um pronto-socorro de portas abertas para a população”, afirmou Iza.
A proposta avançou rapidamente na Câmara após um acordo entre o governo de Minas e a prefeitura da capital, que articularam apoio entre suas bancadas para a aprovação. Apesar da obstrução da esquerda, o projeto foi aprovado em primeiro turno.
Mesmo com a derrota em plenário, vereadores da oposição afirmam que irão acionar a Justiça para questionar tanto o edital publicado pelo governo do Estado quanto a tramitação acelerada da matéria na Casa.