Durante a apresentação de parte do projeto de recuperação fiscal, ocorrida nesta quarta-feira (9), o governador Romeu Zema (Novo) voltou a defender que Minas se desfaça das empresas estatais. No projeto enviado à Assembleia Legislativa (ALMG), o governo prevê apenas a privatização da Codemig, mas Zema já adiantou que o plano é vender a Cemig, a Copasa e a Gasmig.

“O Estado não deve ser responsável por essas empresas. Não temos condição de investimento nas estatais. Sei do orgulho que elas nos deram no passado, contribuindo para o desenvolvimento de Minas”, disse Zema, pontuando, no entanto, que “a economia e as perspectivas mudam”. O gestor disse ser necessária a abertura ao mercado “para sermos competitivos e dar condições para que essas empresas possam contribuir ainda mais para o desenvolvimento mineiro”.

Apesar de Zema ter criticado publicamente, em diversas ocasiões, a atuação da Cemig, afirmando que ela atrapalhava o desenvolvimento de Minas, o Palácio Tiradentes optou por não enviar o projeto que autoriza a privatização da companhia nesse primeiro momento. A venda da Cemig encontra fortes resistências na Assembleia. Na semana passada, deputados trouxeram parlamentares de Goiás, que falaram sobre a experiência com a venda da concessionária de energia naquele Estado. Na avaliação deles, o impacto foi negativo.

No entanto, representantes do governo negaram que a Cemig tenha sido poupada nesse primeiro momento devido à falta de ambiente político na ALMG. “Vamos por etapas. Até as empresas que abrem capital fazem a venda de um lote de ação em um mês, outro lote em dois meses. Você não inunda o mercado com ofertas. Até porque não há investidores talvez essa semana, ou mês que vem disponíveis”, disse.

Com relação às dificuldades enfrentadas na ALMG para aprovar as privatizações, Zema disse que tem tido um bom diálogo com os líderes da Casa. “Tenho mostrado que nosso governo não levantou bandeira de partido A, B ou C. É a bandeira de Minas. E temos que estar unidos”. O parlamentar disse que “montou um time para mudar Minas”. “Eu tenho meus afazeres, que são muitos, fora da esfera pública. E estou numa missão: resgatar o Estado e vou fazer o possível”.

Zema disse ainda não se importar com possíveis desgastes à sua imagem política. “Já falei para eles (deputados) que não me importo meio de ser visto como bicho papão. Se alguém tiver que pagar por isso, que seja eu. Até porque fui eleito para consertar o Estado. Se eu conseguir fazer isso, é o meu objetivo. Se eu ficar mal visto, é o efeito colateral. Paciência”.

Prioridades
Segundo membros do governo, a priorização da Codemig se deu pela importância da empresa. “A decisão nossa de priorizá-la foi em função do que ela efetivamente significa na importância do fluxo de caixa para o Estado. É uma empresa que vai trazer um pouco mais de tranquilidade para que possamos realizar a venda, quando a Assembleia autorizar, e isso vai nos trazer um ganho financeiro que é significativo para o planejamento da recuperação fiscal de Minas”, disse Bilac Pinto (DEM), secretário de governo.

O secretário de Planejamento e Gestão, Otto Levy Reis, disse que a autorização de venda não significa que a empresa será privatizada de imediato. “Primeiro, estamos pedindo a autorização. Na segunda etapa, terá a valorização do ativo. Na minha opinião de investidor, a Codemig é a empresa que mais vale. Outro motivo (pela escolha) é porque a empresa não mexe diretamente com a população. Ela não vende energia elétrica, nem água”, explicou.

Os membros do governo não informaram quanto pretendem arrecadar com a venda da Codemig. Dizem apenas que está sendo feito um estudo para levantar o valor real da companhia. “A valorização de empresas parece ser uma coisa objetiva, mas tem muita subjetividade”, argumentou Zema. Ele disse que as projeções atuais tomam como base o valor que a estatal tem na Bolsa de Valores, multiplicando o valor das ações do Estado pelo valor dos papéis. “Só que esse valor não é real. Quem vende o controle tem um prêmio, e como o Estado tem um controle, ele iria recebê-lo”, disse Zema, que não informou valores exatos.

De acordo com o secretário de Fazenda, Gustavo Barbosa, desde o início do ano o governo tem recebido instituições interessadas em comprar as estatais mineiras. “Isso é normal. Principalmente quando o governador claramente tem o indicativo de privatização, faz parte”, disse, sem citar o nome das empresas.

Detentor de 49% das ações da Codemig, o governo de Minas pode se desfazer do controle acionário da companhia. Em 2018, a ALMG aprovou um projeto do ex-governador Fernando Pimentel (PT) permitindo a venda dos papeis.