São Paulo. A operação Lava Jato encontrou contratos e notas fiscais de consultoria que envolvem sete empreiteiras acusadas de cartel e corrupção na Petrobras firmados com a Riomarine Oil e Gás, que pertence a Mário Frederico de Mendonça Góes. Preso desde o último dia 8, ele é acusado de ser um dos 11 operadores de propina na diretoria de Serviços da estatal e carregador de malas de dinheiro para o ex-diretor da estatal Renato Duque. Ele ainda atuaria em esquemas na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras no setor de postos.
Os documentos são os primeiros apontados pelo Ministério Público Federal como evidência de que a Andrade Gutierrez e a Odebrecht, duas das maiores empreiteiras do país, também participaram do esquema de corrupção.
As duas negam ter pago propina para obter contratos na Petrobras. Outras empresas que fizeram negócios com Mario Góes, como a Mendes Júnior, a OAS e a UTC, já são alvo de ações judiciais.
A força-tarefa da Lava Jato encontrou 31 notas fiscais da Riomarine emitidas para empresa Andrade Gutierrez, que totalizam R$ 5,3 milhões, e 14 notas para a UTC no total de R$ 9,7 milhões referentes a seis contratos – um deles uma parceria com a Odebrecht no valor de R$ 1,5 milhão.
Existem ainda seis notas para a OAS, no valor total de R$ 10,2 milhões; dez notas para a empreiteira MPE (R$ 9,3 milhões) e outras 22 notas que totalizam R$ 5,1 milhões para o Consórcio Mendes Júnior/MPE/Setal. As notas encontradas somam R$ 39,7 milhões.
Mário Góes foi um dos principais alvos da nona fase da Lava Jato, chamada de “My Way”. Único a ter prisão preventiva decretada na ocasião, há fortes indícios de que ele continuou atuando até novembro de 2014, segundo os investigadores, mesmo após deflagrada a operação.
O fato foi considerado “perturbador” pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos do caso. A suspeita dos investigadores é que foram firmados contratos fictícios de consultoria para encobrir o pagamento de propina. De acordo com o juiz, faltam detalhes do trabalho feito e a contratação de funcionários para realizá-lo.
Há, por exemplo, uma nota fiscal de R$ 124 mil em favor do Consórcio Mendes Júnior/MPE/Setal por serviços de consultoria “sem maiores detalhamentos do objeto da consultoria técnica”, registrou Moro. O magistrado lembra ainda que o próprio Ministério Público Federal observou que “não foram apreendidos quaisquer relatórios de consultoria ou assessoria que denotassem o efetivo cumprimento dos objetos dos diversos contratos milionários por tal empresa celebrados”.
O nome de Góes veio à tona nas investigações depois de ser mencionado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que fez acordo para colaborar com as investigações e afirmou ter recebido US$ 97 milhões em propina. Segundo o ex-gerente, o consultor foi seu sócio na compra de uma aeronave avaliada em US$ 1,3 milhão.
As buscas na casa de Góes e em suas empresas foram realizadas, no Rio de Janeiro. Para os procuradores, ele exercia um papel semelhante ao do doleiro Alberto Youssef, apontado como um dos principais operadores do esquema de corrupção. Seu papel seria o de “um intermediador profissional do pagamento de propinas por empresas privadas a dirigentes ou empregados da Petrobras”, segundo o despacho do juiz.
Em seu depoimento à polícia, Mário Góes manteve-se calado diante da maior parte das perguntas dos delegados.
Atualizada às 20h