Ao Café com Política, a vereadora de Belo Horizonte Iza Lourença (PSOL) criticou a postura do prefeito Álvaro Damião (União Brasil) de evitar se posicionar sobre pautas ideológicas. Para a parlamentar, a neutralidade do chefe do Executivo acaba beneficiando a maioria conservadora e fundamentalista que domina o Legislativo na sua avaliação. A entrevista foi exibida nesta quinta-feira (3 de julho), no canal de O TEMPO

“Não interferir é deixar que essas pautas tomem conta de Belo Horizonte. É contribuir para que pessoas que têm outras religiões, que não as cristãs,  se sintam excluídas nas escolas, porque, afinal vai ler a Bíblia. É contribuir para que a gente tenha um dia para incentivar as pessoas a não usarem preservativos e ter um 'boom' de gravidez na adolescência e de doenças sexualmente transmissíveis. Não se posicionar, na minha opinião, é deixar com que os fundamentalistas e os extremistas da Câmara Municipal governem Belo Horizonte”, afirmou a vereadora. 

Iza faz referência a dois projetos: um que institui a Bíblia como material de “apoio e pesquisa” nas escolas e outro que cria o Dia dos Métodos Naturais. Eles não foram sancionados por Damião. No entanto, sem a assinatura do prefeito, as propostas seguem para aprovação diretamente pelo presidente da Câmara, professor Juliano Lopes (Podemos).

Ela reforça que a decisão do prefeito de não vetar esses projetos também configura uma posição política clara: “quando o prefeito decide não vetar esses dois projetos que eu citei - o da Bíblia e dos métodos naturais - sabendo que o presidente da Câmara, que é o Juliano Lopes, está alinhado com esse setor, ele (Damião) se posicionou. Porque se ele decidiu não vetar, ele sabia que alguém ia sancionar. Então, ele acabou decidindo pela sanção desses projetos”. 

Iza relatou que a bancada da esquerda já “sentou na mesa” com o prefeito. “A gente, enquanto esquerda, já se reuniu com ele algumas vezes. Ele tem um discurso de que é um prefeito de todo mundo, que não tem posicionamento. Mas eu acho que quem não se posiciona, se posiciona do lado do mais forte. E hoje nós temos uma Câmara Municipal que tem uma esmagadora maioria de extrema-direita. E temos uma bancada forte de fundamentalistas religiosos, e fundamentalista religioso não é religião, mas utiliza a religião para impor o posicionamento político dele sobre os outros”, disse. 

‘É problema da prefeitura garantir alimentação, não das professoras’, avalia Iza 

Sobre a greve dos professores municipais, que se estende por quase um mês, Iza também criticou a postura do prefeito. “Eu acho que ele foi intransigente quando faz uma medida de entrar na Justiça contra a greve. A Justiça indeferiu, ele perdeu na Justiça. A Justiça não declarou a greve ilegal, porque percebeu que a greve não era ilegal e disse que tinha que ter uma conciliação”, afirmou. 

A parlamentar também condena a decisão do prefeito de determinar a abertura das escolas em um sábado para garantir a merenda escolar durante a paralisação. “Ele faz uma declaração na sexta-feira à noite dizendo que as escolas têm que abrir no sábado para as crianças poderem merendar. Eu acho que isso foi cruel. Primeiro, se existe um problema de insegurança alimentar, ele precisa resolver esse problema e não colocar na conta das professoras. É problema da prefeitura garantir que as pessoas tenham alimentação. A escola é importante, mas a alimentação precisa ser garantida, independentemente da escola.” 

Apesar das críticas, Iza disse acreditar que o prefeito ainda pode reverter sua imagem. “Eu acho que ele ainda está em tempo de refazer essa imagem, de refazer a imagem do prefeito que foi para Israel enquanto as professoras começaram a greve, que entrou na Justiça, que corta ponto, que ameaça abrir escola com Guarda Municipal para enfrentar movimento grevista. Essa imagem está muito ruim”.