Mudança

Novas regras devem ampliar número de candidatos em 2020

Fim das coligações na eleição proporcional e cláusula de barreira impulsionam chapas majoritárias

Por Jaki Barbosa
Publicado em 16 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
Alexandre Kalil Foto: Douglas Magno/O Tempo

O fim das coligações partidárias para as eleições proporcionais e a cláusula de barreira vão se refletir nas estratégias dos partidos para emplacar seus candidatos nas eleições municipais deste ano. A menos de oito meses para a abertura das urnas, o entendimento da maioria dos dirigentes partidários é “lançar o maior número possível de candidaturas a prefeito”.

Para o cientista político Felipe Nunes, professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), essa tendência de mais legendas terem seus representantes para o cargo de prefeito reflete a necessidade de colocar em evidência o número do partido, a ideologia e as posições para dar mais visibilidade também aos candidatos ao cargo de vereador. 

“Os partidos vão precisar cada vez mais construir maiorias dentro dos seus diretórios, e isso vai valer fundamentalmente para os pequenos, que, pela antiga regra, podiam se ancorar em grandes partidos e, com isso, eleger bancadas de vereadores. Este ano vai ser diferente: as coligações para o Legislativo estão proibidas. E a candidatura própria para prefeito tende a ajudar a conseguirem mais votos na eleição para vereadores”, analisa o professor.

O PSD, por exemplo, já soma 300 diretórios nomeados em Minas, e outras 416 cidades estão na fila para receberem as comissões oficiais. A ideia, segundo o presidente do diretório estadual, o senador Carlos Viana, é estar presente nesses 716 municípios e “onde for possível, com candidatura própria”. No pleito de 2016, o PSD lançou 130 nomes para o Executivo.

“No interior, temos articulado para manter nomes no cargo de vice, como Uberlândia e Montes Claros. Nas cidades menores, cada candidato a prefeito vai fazer aliança com, no máximo, três partidos para não dispersar os votos”, explica Viana.

Já o presidente do PSB em Minas René Vilela revela que, no ano passado, foram 247 municípios mineiros sondados pelo líder pessebista a fim de articular o pleito majoritário. “O partido está crescendo com qualidade. Estamos sendo muito criteriosos na constituição das direções e nas definições das chapas. Hoje temos candidaturas competitivas em algumas centenas de municípios no Estado”, afirma sem mensurar o número de nomes já consolidados. Em 2016, o PSB lançou 125 candidatos a prefeito em Minas. 

O impulso que o presidente Jair Bolsonaro deu ao PSL nas eleições de 2018 também deve respingar nessas eleições municipais mesmo após Bolsonaro ter se desfiliado. Enquanto em 2016 o PSL teve êxito em dez das 21 candidaturas às prefeituras mineiras, a expectativa do diretório estadual é que em 2020 o partido eleja mais de 80 prefeitos. Para isso, a ordem é lançar o maior número possível de representantes ao Executivo. “Algumas pesquisas vão nortear a consolidação desses nomes. Porém, o que mais vamos levar em conta é o perfil do candidato, que deve estar alinhado com a ideologia do partido: de direita, conservador e que sustenta pautas como o combate à corrupção, a defesa da família e o liberalismo econômico”, afirma o presidente da legenda em Minas, o deputado federal Charles Evangelista.

Grandes partidos

Com a segunda maior bancada de prefeituras no Estado (132 contra 164 do MDB), o PSDB tem como meta manter a atual presença. Os tucanos deverão estar nas urnas de “praticamente todos os municípios de Minas Gerais” no pleito ao Executivo, segundo Paulo Abi-Ackel, presidente do partido em Minas.

“Não posso mensurar números, mas estamos trabalhando para manter a base que o partido já possui. Onde há prefeitos do PSDB, esses irão concorrer à reeleição. Também queremos ampliar nossa atuação no Estado. Para isso, a orientação é lançar candidato onde for possível”, afirma Abi-Ackel, acrescentando que hoje o partido já soma 500 diretórios municipais e comissões provisórias. 

Já o PT, que perdeu 72 prefeituras no Estado nas últimas eleições (saiu de 113 em 2012 para 41 em 2016), pretende correr atrás do prejuízo e recuperar o protagonismo de quem já teve a terceira maior bancada de prefeitos no Estado. Para isso, o presidente da sigla em Minas, o deputado estadual Cristiano Silveira, garante que não descarta alianças com outros partidos de esquerda mesmo que o PT saia como vice. “Eu quero tentar repetir o número de candidaturas de 2012. Em torno de 300 a 340 candidaturas. Vamos apostar no retorno de companheiros que já comandaram algumas cidades e saíram bem-avaliados pela população, como é o caso da Marília Campos (hoje deputada estadual) em Contagem”, afirma.

Presente na maior parte das prefeituras no Estado, O MDB também pretende trabalhar para reeleger os prefeitos “onde for possível”. É o que garante Emílio Boaventura, primeiro vice-presidente do diretório estadual da legenda. Sem mensurar números, a liderança diz que o partido ainda aposta em novos nomes que estão se filiando à legenda.

“Vamos nos basear principalmente nas pesquisas para a escolha dos nomes que irão representar o MDB nas majoritárias”, afirma Boaventura, citando ainda a importância de ter um representante para o Executivo a fim de dar visibilidade ao partido e emplacar os candidatos a vereador.

Em crescimento, Novo e PSOL têm pretensões mais modestas 

Enquanto a maioria dos partidos faz planos de lançar candidatos no maior número possível de cidades dentro do universo de 853 municípios mineiros, PSOL e Novo, duas legendas que experimentaram crescimento nas últimas disputas, têm intenções um pouco mais modestas.

No partido do governador Romeu Zema, o processo seletivo aprovou a pré-candidatura dos pretendentes ao Executivo apenas em quatro cidades – nas eleições de 2016 o partido não havia tido nenhum dentro do Estado.

“Temos pré-candidatos já selecionados para Belo Horizonte, Poços de Caldas, Araxá e Contagem. Não teremos candidatos a prefeito em Juiz de Fora, apesar de o processo seletivo para vereador ainda estar aberto”, afirma Mateus Simões, vereador do Novo na capital mineira.

Ele, aliás, é pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte e disputa a indicação do partido com Rodrigo Paiva, que perdeu a eleição para o Senado no ano passado.

O presidente do diretório estadual do Novo, Ronnye Antunes, foi procurado, porém não respondeu às mensagens ou retornou o contato.

Já o PSOL, que em 2016 participou do pleito para o Executivo em 32 cidades, já sinalizou que deverá estar na disputa pela prefeitura em mais de 50 municípios mineiros.

“O entendimento que temos é de participar das eleições majoritárias não só encabeçando as chapas, como também firmando alianças com PCB e PSTU para consolidar uma frente de esquerda”, afirma Maria da Consolação, presidente da sigla em Minas, sem revelar possíveis nomes já colocados.

Nomes em análise

As convenções partidárias para a escolha dos candidatos só devem acontecer a partir de 20 de julho e até 5 de agosto, mas alguns nomes já são dados como certos dentro das legendas. 

No PSD, além da aposta em Alexandre Kalil para a reeleição em Belo Horizonte, o presidente estadual da sigla, Carlos Viana, adianta que já estão definidas as pré-candidaturas em Governador Valadares, Teófilo Otoni, Oliveira, Barbacena, Congonhas, Contagem e “praticamente todas as cidades do sul de Minas”. “A maior parte desses candidatos às prefeituras são novatos no partido”, revela.

O PSB também aposta nos recém-filiados. “Podemos adiantar nomes como Eloísio (Lourenço), em Poços de Caldas, Juninho da JR, em Ituiutaba. Em Governador Valadares estamos avaliando uma possível aliança, e em Uberaba estamos consolidando a filiação de um nome muito forte para concorrer à prefeitura”, resume.

Segundo o vice-presidente do MDB, Emílio Boaventura, além das cidades onde o partido vai tentar a reeleição, já tem fechadas as pré-candidaturas em Patos de Minas e Pará de Minas.

O deputado federal Charlles Evangelista, presidente do PSL em Minas, não quis revelar nomes, mas adiantou que parlamentares federais e estaduais do partido deverão alçar voos aos Executivos municipais.

No PSDB, além de Luisa Barreto, apresentada como pré-candidata à prefeitura da capital, o presidente da sigla, Paulo Abi-Ackel, diz que já há entendimento em Contagem, Betim, Nova Lima e Vespasiano. “Há muitas descobertas em andamento”.

Além de Marília Campos, pré-candidata pelo PT em Contagem, o partido do ex-presidente Lula também já consolidou os nomes de Margarida Salomão, em Juiz de Fora, e Leonardo Monteiro, em Governador Valadares.