O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), afirmou, nesta terça-feira (26), que manterá a proposta apresentada ainda no ano passado para renegociar a dívida de cerca de R$ 165 bilhões de Minas Gerais com a União. Apesar de ter reconhecido a alternativa apresentada pelo Ministério da Fazenda, que propõe a redução do indexador conforme contrapartidas na educação, Pacheco avalia que o plano não trata do cerne do problema, que é o estoque da dívida.
Para Pacheco, a proposta da Fazenda seria paralela à alternativa por ele apresentada, que, nas suas palavras, é estruturante. "A nossa proposta se mantém. É isso que nós vamos tramitar no Congresso Nacional. (...) Essa é a expectativa do Estado Minas Gerais, é essa a expectativa do povo de Minas Gerais, e, quero crer, que dos Estados que hoje estão endividados. Então, nós vamos nessa linha de um programa que seja estruturante para o pagamento da dívida e sem prejuízo de ideias que venham a se somar, como foi essa questão da educação", disse o presidente.
Além de propor a federalização da Codemig, da Cemig e da Copasa para abater parte da dívida do Estado com a União, Pacheco sugere que créditos em haver da União com o Estado, como, por exemplo, os R$ 8,7 bilhões em compensações da Lei Kandir e a parcela a que terá direito Minas na repactuação de Mariana, também sejam abatidos, que conforme já mostrou O TEMPO, foi orientada pela Advocacia Geral da União a ser rejeitada. O restante da dívida, então, seria dividido em parcelas iguais por 12 anos.
Conforme O TEMPO mostrou, os governos estaduais foram pegos de surpresa com o plano apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A avaliação foi de que todos viajaram até Brasília para conhecer um projeto que trataria sobre uma reformulação do Regime de Recuperação Fiscal (RFF), e não para terem ciência do “lançamento de um novo programa do governo federal que não resolve o cerne do problema” dos Estados.
Essa chateação foi levada por governadores até Pacheco, que recebeu o grupo na tarde desta terça-feira (26), após reunião com Haddad. O senador mineiro garantiu aos chefes dos Executivos estaduais que vai permanecer com a proposta relativa à federalização. Ele será o autor da proposta no Congresso Nacional. De acordo com interlocutores, o texto passaria com facilidade no Legislativo, diferentemente da proposta apresentada pelo governo federal.
Durante coletiva de imprensa, o presidente do Senado falou sobre a federalização das estatais como forma para abater parte da dívida. Até então, essa proposta vinha sendo vista com ressalva por interlocutores do governo de Minas e da União. "Esse pagamento inicial para o Estado endividado deve redundar em algum tipo de benefício sobre o saldo devedor. Se é possível fazer isso para empresas endividadas, com programas de regularização tributária, é fundamental que se compreenda que por um ente federado tem ter o mesmo tratamento" afirmou.
Para o senador, a transferência de controle de estatais para a União poderia amortizar uma grande parcela da dívida mais rapidamente. "Há na mesa uma série de alternativas de ativos dos Estados para poder pagar a dívida com a União. Esse esforço dos Estados em entregar os seus ativos é uma demonstração de boa fé e de intenção de pagar, o que deve redundar na sustentação de um programa que possa contemplar uma diminuição do saldo devedor, inclusive dos juros já pagos ao longo desse tempo", defendeu.
Subindo o tom em relação à proposta apresentada nesta terça-feira pelo Ministério da Fazenda, Pacheco ainda criticou o prazo de 60 dias sugerido por Haddad para consolidar a proposta relativa ao investimento no ensino médio técnico apresentada aos governadores. O senador mineiro afirmou que irá solicitar um prazo mais curto ao Ministério da Fazenda. Ele diz acreditar que 10 dias é um prazo razoável para apresentação da proposta da federalização no Senado. Nos bastidores já se fala que se o ministro não der uma resposta nesse período, o presidente do Congresso vai seguir com o texto na Casa.
"Acho que 60 dias é um prazo muito longo. Nós temos, inclusive, no caso de Minas Gerais a obrigação de darmos satisfações ao Supremo Tribunal Federal em relação a nossa dívida. É natural que com a apresentação do projeto, a designação que relatou no Senado, possamos fazer eventualmente um pedido de prorrogação ao Supremo Tribunal Federal. E eu estou muito confiante no espírito colaborativo do governo federal, dos governos dos Estados e do parlamento Brasileiro para poder equacionar o problema da dívida dos estados com um programa que seja sustentável que substitua um regime de recuperação fiscal que só sacrifica servidores", pontuou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou a um grupo de governadores, nesta terça-feira (26), uma proposta que condiciona a redução dos juros das dívidas dos Estados com a União ao investimento em ensino médio técnico (EMT). O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), foi um dos presentes. O Estado tem um passivo de cerca de R$ 165 bilhões que se tornou um percalço político. Para se tornar realidade, o plano precisa ser enviado para análise do Congresso Nacional.
A aposta da equipe econômica federal também reforça o esforço que o governo tem adotado em discurso, nas últimas quatro semanas, de se mostrar como uma gestão que se preocupa com educação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem tido agendas voltadas para educação e um dos motivos, segundo interlocutores, é conseguir se aproximar da população que é impactada diretamente pelos efeitos desses programas sociais. A expectativa é de que, com isso, a popularidade do petista e do governo cresçam.
A nova alternativa, chamada de "Juros por Educação", propõe que os Estados que aderirem ao pacto terão uma redução temporária (de 2025 a 2030) das taxas de juros aplicadas aos contratos de refinanciamento de dívidas. E a administração estadual que aderir ao programa poderá optar por diferentes taxas de juros. Cada uma das faixas demandará contrapartidas distintas.
A uma taxa de juros real de 3% ao ano, por exemplo, o ente federado precisa aplicar ao menos 50% da economia proporcionada pela redução dos juros na criação e ampliação de matrículas no EMT. Ao aderir a faixa que dá juros reais a 2,5% ao ano, o Estado precisa aplicar ao menos 75% da economia na ampliação de matrículas ensino técnico. Já na faixa com os juros mais baixos (2% ao ano), o investimento precisa ser de 100% do que foi economizado com juros.
Um ponto contemplado do plano de Pacheco é a amortização extraordinária com ativos, mas limitada. Isso significa que se reduzir 10% da dívida, os juros caem 0,5% dos contratos ao ano. Se a redução for de 20%, a queda nos juros será de 1%. De acordo com o texto, isso ocorrerá independentemente da adesão ao Juros por Educação.