Eleição 2020

Prefeito Kalil terá aliança maior na busca pela reeleição em BH

Atual gestão deve receber apoio de partidos como MDB, PP e PDT para disputa na capital mineira. Aliados minimizam ataques sobre restrições na pandemia e apostam em boa avaliação de Kalil.

Por Sávio Gabriel
Publicado em 23 de julho de 2020 | 03:00
 
 
Alexandre Kalil Foto: Flávio Tavares

Embora ainda não fale oficialmente sobre a disputa eleitoral, nos bastidores o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), deve contar com uma base aliada maior na campanha deste ano.

Segundo interlocutores do prefeito, ele deve disputar um segundo mandato à frente da capital com apoio do PDT, MDB e do Progressistas, além do próprio PSD e da Rede Sustentabilidade, partido do vice-prefeito, Paulo Lamac.

Nesse cenário, esses mesmos interlocutores informaram a O TEMPO, que aliados do prefeito também costuram articulações junto ao PV, que apoiou Kalil em 2016, e o Podemos, que absorveu o extinto PHS, legenda pela qual Kalil se elegeu.

Diferentemente de quatro anos atrás, quando se lançou à disputa com o apoio de apenas três partidos (PHS, Rede e PV), a coligação da chapa majoritária deverá contar pelo menos cinco legendas, podendo chegar a sete.

Os aliados do prefeito apostam na boa aprovação da gestão como elemento que justifique esse aumento da base de apoio. “É natural que os partidos compostos por pessoas que têm comprometimento, apoiem a reeleição ao ver o sucesso da gestão”, avaliou um interlocutor próximo a Kalil.

Presidente estadual do PDT em Minas, o deputado Mário Heringer confirmou que a tendência na sigla é de apoio ao mandatário. “Nossa posição preferencial seria ter um candidato ou candidata, e não acontecendo isso a posição de apoiar o prefeito Kalil é mais razoável”, disse. Nesse cenário, tem peso o fato de Kalil ter apoiado o pedetista Ciro Gomes na eleição de 2018. 

“Claro que isso vai passar por uma avaliação na comissão estadual para definir. Mas acho que não vai ter dificuldade, e (a tendência) vai ser de apoio sim”, disse o deputado federal do PDT.

O entendimento é o mesmo no MDB, onde a proximidade de Kalil com o ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas (ALMG) Adalclever Lopes é ponto de convergência. O emedebista chegou a ser cotado para sair como candidato a vice-prefeito e atualmente é consultor direto do prefeito da capital. “Somos muito simpáticos à causa dele. Temos aí a gestão dele bem qualificada e reconhecida, e pela própria relação com o prefeito não temos dificuldades em fazer esse processo (de apoio)”, explicou o deputado federal Newton Cardoso Jr, presidente do MDB no Estado. 

O Progressistas também já dá como certo o apoio à reeleição de Kalil. “O primeiro mandato do prefeito foi muito bom. Ele escalou um time fantástico de técnicos para assumir as secretarias e conduziu com maestria uma série de ações que transformaram a vida das pessoas que mais precisam em BH”, avaliou o deputado Marcelo Aro, presidente do partido em Minas.

Indefinição no PV 

Embora o apoio do PV seja especulado nos bastidores, a sigla ainda não bateu o martelo e pode, inclusive, integrar a chapa de outro candidato à Prefeitura de Belo Horizonte. “Nós não batemos o martelo com relação a nada. Acho que o Kalil é um bom prefeito, um bom administrador, mas o momento político hoje é outro”, afirmou Daniela Carvalhães, presidente do PV na capital mineira. 

Atualmente, o PV já não faz mais parte da administração municipal desde o ano passado, quando deixou a gestão da Secretaria de Meio Ambiente da capital.

“Hoje, isso não é mais realidade e não fazemos mais parte do governo Kalil. Independentemente de qualquer outra questão, é importante o momento que o Brasil está vivendo, esse movimento das forças progressistas e estamos abertos a conversar com outros partidos”, disse a dirigente do Partido Verde.

Procurado para comentar a questão, o prefeito reforçou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está “totalmente focado no combate à pandemia”.

Aliados minimizam críticas sobre atuação na pandemia

O fato de estar no comando da máquina municipal naturalmente tornou o prefeito Kalil principal alvo de adversários. Além do foco nos últimos quatro anos de gestão, um novo elemento entrou no rol das críticas: a condução do prefeito e de seus auxiliares durante a pandemia de coronavírus. Embora esse tenha sido um dos principais pontos criticados, aliados do prefeito não acreditam que a questão terá impacto na formação de alianças.

Na leitura dos auxiliares mais próximos de Kalil, aliar-se politicamente a partidos que desconsideram orientações científicas e sanitárias como forma de combate à pandemia não interessa à chapa majoritária.

“Se o sujeito acha que a construção científica não é a mais adequada, então ele tem que ir para outro lugar mesmo, porque nossa condição é essa”, informou um interlocutor do prefeito.
Na avaliação do MDB, as críticas terão pouco impacto nas urnas. “O verdadeiro grito está vindo das elites, que não conseguem ir ao shopping, nem fazer compras nas lojas de luxo da cidade”, afirmou o deputado Newton Cardoso Jr.

Segundo ele, o debate precisa ser focado na geração de empregos e no prejuízo que setores estão tendo em virtude das medidas restritivas. “Acredito que terá pouco efeito na reeleição, porque a maior parte da população, especialmente de baixa renda, está apoiando iniciativas tomadas a favor da cidade”.

“Como médico, avalio que Kalil fez um grande favor para Minas”, diz o deputado Mário Heringer. Ele explica que a imposição de medidas restritivas por tempo prolongado impediu que o vírus se propagasse na capital

Apoio garante mais tempo de TV e recursos 

A ampliação da base de apoio do prefeito Kalil no pleito deste ano é uma tendência natural, de acordo com a avaliação de Felipe Nunes, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo o especialista, existe expectativa de que o prefeito torne-se liderança de destaque no Estado.
“Em 2016 o Kalil era candidato azarão, um projeto de alguém que nunca tinha participado da política. Nesses casos, é comum que os projetos acabem sendo mais isolados”, avaliou Nunes, reforçando que o cenário é diferente neste ano. “É normal e natural que, como os cenários são diferentes, que a combinação de forças também não seja a mesma”.

Além disso, o aumento da chapa majoritária em relação a 2016 trará benefícios ao gestor, como tempo maior de propaganda eleitoral e acesso a mais recursos do fundo partidário, conforme explicou o cientista político.

A despeito das críticas, sobretudo em virtude da crise do coronavírus, o especialista avalia que a população ainda aprova a gestão. “As pesquisas mostram quadro de aprovação. Por outro lado mostram esgarçamento das relações sociais em torno da Covid, principalmente entre pessoas de renda mais alta”, diz, Nunes.