Na boca dos brasileiros nos últimos dias, o nome é o mesmo de um personagem interpretado por Almir Sater em uma novela exibida na década de 90, na extinta Rede Manchete. Apesar de sequer ter José no nome, foi como Zé Trovão que ficou conhecido Marcos Antônio Pereira Gomes, considerado o “líder” dos protestos de caminhoneiros que tomaram conta do país e fecharam diversas estradas entre esta quarta (8/9) e quinta-feira (9/9).
Caminhoneiro e youtuber nascido em São Paulo, mas que atualmente vive em Santa Catarina, Zé Trovão ficou famoso por seus vídeos defendendo, entre muitas coisas, o presidente Jair Bolsonaro, o chamado tratamento precoce contra a Covid-19, a intervenção militar e o impeachment dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). No YouTube e outras redes sociais, ele acumula milhares de seguidores, tendo influência especial sobre os caminhoneiros e apoiadores do presidente.
Considerado foragido da Justiça desde o último dia 3 de setembro, após autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, ao pedido de prisão apresentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Zé Trovão é investigado por ameaças à democracia na convocação de “atos violentos de protesto” durante as manifestações organizadas para a última terça-feira (7/9), Dia da Independência do Brasil. A mesma investigação resultou na prisão do blogueiro bolsonarista Wellington Macedo de Souza.
Além disso, desde o dia 20 de agosto Trovão está proibido por ordem judicial de se aproximar de um raio de um quilômetro da Praça dos Três Poderes. A mesma proibição vale para o cantor Sérgio Reis, o deputado Otoni de Paula e outras nove pessoas que, segundo a investigação, defendiam um ‘levante’ em Brasília no 7 de Setembro.
Pai do ‘levante’
Segundo a decisão que determinou as operações de busca e apreensão, no mês passado, a articulação para uma espécie de ‘levante’ no 7 de Setembro teve início com Zé Trovão. O caminhoneiro, diz o documento assinado por Moraes, “incitou seguidores, a pretexto de fazer um pronunciamento sobre uma suposta greve dos caminhoneiros, a invadir o Supremo e o Congresso Nacional e a ‘partir pra cima’ do Presidente e do Relator da CPI da Pandemia de modo a ‘resolver o problema (do aumento) dos combustíveis no Brasil”.
A PGR relatou ainda que o caminhoneiro bolsonarista se “empolgou” com a repercussão da live e seguiu postando vídeos convocando a população a ‘exigir a exoneração dos onze ministros do STF’, dizendo ainda ter feito um contato com ‘o agronegócio’, para ‘apoiar sua causa’. De acordo com a Procuradoria, havia uma ‘preocupação de se evitar que órgãos de segurança pública tomem conhecimento da conspiração em andamento’.
Após a decretação de sua prisão, o caminhoneiro chegou a dizer que estaria presente na manifestação ocorrida na avenida Paulista e desafiou que o prendessem no local, dizendo a Moraes: “que tal você mesmo vir à Paulista no dia 7 de setembro e me prender?”.
Passados os atos, onde ele não foi visto, na quarta-feira o caminhoneiro voltou a publicar nas redes sociais, desta vez pedindo que os motoristas fechassem as rodovias do país. “A partir de 6h da manhã do 9 de setembro, todas as bases brasileiras, fechem tudo, não passa mais nada, somente ambulância, oxigênio e remédio. Acabou. Não passa carro pequeno, não passa mais nada. Estão brincando com a democracia", disse Zé Trovão no vídeo.
Confira:
Fuga
Enquanto esteve foragido, os vídeos continuavam sendo publicados e rapidamente se espalhavam nas redes sociais. Em alguns momentos, o seu advogado chegou a dizer para veículos de imprensa que seu cliente não se entregaria às autoridades, e que ele estava em um lugar seguro, mas que se locomovia a cada seis horas de carro.
Entretanto, Zé Trovão foi localizado nesta quinta-feira pela PF, em um hotel na Cidade do México. Os policiais detectaram que ele havia deixado o Brasil antes mesmo da ordem de prisão, por meio de um voo para o México.
A expectativa é que o youtuber seja preso no país para, então, ser transportado de volta ao Brasil, que tem, desde 1933, um tratado de extradição com o México.
Antes de ser localizado, o caminhoneiro entrou com um pedido de asilo político no país da América do Norte, juntamente com o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, mas, até o momento, nenhum dos dois teve resposta do governo mexicano.
Áudio do presidente
Na noite de quarta-feira, após as primeiras rodovias começarem a ser interditadas pelo país, vazou um áudio em que o presidente pedia pela liberação das estradas.
Na mensagem, Bolsonaro apela para que os manifestantes desobstruam as vias porque "atrapalha nossa economia". "Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em espcial os mais pobres”, dizia.
Apesar disso, Zé Trovão desconfiou que o pedido não fosse verdadeiro e pediu que o presidente gravasse um vídeo para garantir a veracidade da informação.
Abandono de Bolsonaro
Nesta quinta-feira, o caminhoneiro gravou novo vídeo desabafando sobre ter tido sua “vida destruída” e de ser “perseguido politicamente”. Ele criticou Jair Bolsonaro nas imagens, alegando não ter tido apoio.
“[Estou] passando por tudo com risco de nunca mais ver minha família, porque eu não vou para cadeia, porque eu não sou bandido. Nós queremos que o senhor fale para o povo brasileiro isso, que o senhor faça um vídeo”, concluiu.
Já em outro vídeo, Zé Trovão afirmou que em breve será deportado para o Brasil. “Em alguns momentos eu devo ser preso, não vou mais fugir. Chega”, disse em vídeo postado em um grupo do Telegram.