Um vereador de Ibirité, região metropolitana de Belo Horizonte, disse que seu salário de R$ 5.900 é uma "vergonha". Artuzinho (DEM) fez a crítica durante uma reunião da Câmara Municipal na última segunda-feira (8): "Isso não é salário de vereador, isso é salário de vendedor de laranja, engraxate", disse.

Um vídeo com o momento foi publicado no próprio perfil do parlamentar no Facebook. Nele, Artuzinho aparece no vídeo com o contracheque em mãos. Na postagem, ele ainda escreveu: "A maioria da população acha que o salário de um vereador é superior a R$ 15.000, mas a realidade é que ganhamos 5.876,08, e a demanda do meu gabinete é extremamente alta. Lembrando que nós, vereadores, não temos acesso ao salário dos assessores", argumentou.  "O cara vai falar: é muito dinheiro, um cara que ganha o salário mínimo, mas para um vereador de uma cidade de 200 mil habitantes é pouco", comparou.

A declaração gerou uma enxurrada de críticas. Na publicação, alguns internautas pediam que o parlamentar renunciasse ao cargo já que não estava satisfeito com a remuneração e que ele já sabia o valor quando se candidatou.

Com a repercussão negativa, ele se desculpou nas redes sociais. "Minha intenção não foi, de modo algum, desqualificar ou desmerecer o trabalho do outro, mesmo porque entendo que todo trabalho digno deve ser valorizado. Minha intenção foi apenas mostrar a sociedade que o salário de vereador de Ibirité não condiz com a subjetividade da população, que imagina que o salário de vereador seja exorbitante. Sendo assim, peço desculpas e reafirmo o meu compromisso, respeito, admiração por todos os trabalhadores", escreveu em nota.

Pela Constituição Federal, o salário de vereador de uma cidade como Ibirité, que tem entre 100 mil e 300 mil habitantes, corresponderá a no máximo 50% dos vencimentos dos deputados estaduais. Atualmente, um parlamentar da Assembleia Legislativa de Minas Gerais ganha, por mês, o valor bruto de R$ 25.322,25.

De acordo com dados do IBGE atualizados pela última vez em 2018, o salário médio mensal dos trabalhadores formais de Ibirité era equivalente a 2,2 salários mínimos, fixado, à época, em R$ 954. Ou seja, naquele ano, a média salarial era pouco menor que R$ 2.100.

Além de Arturzinho, Ibirité tem outros 14 vereadores. A reportagem procurou por alguns deles, como Alexandre do Planeta Pizza (Republicanos), Carlos do Bote (Podemos), Neto do Salão (PV)e professor Wallace Andrade (PSC), mas todos estavam com o discurso ensaiado de que não poderiam falar sobre o assunto por telefone, apenas pessoalmente.  A reportagem perguntou ao professor Wallace Andrade se as respostas foram combinadas, mas o vereador negou. “É uma opinião minha, mas fico feliz em saber que todos comungam da mesma opinião, não é justo e correto falar sobre o colega por telefone”, afirmou.

Antes, a reportagem tentou contato com o presidente da Casa, Daniel Belmiro (Avante) e com a assessoria, mas foi informada de que todos estavam em reunião. Alguns vereadores que atenderam as ligações estavam no mesmo ambiente.  Depois, por volta das 16h55, Daniel Belmiro respondeu à reportagem e disse que passou o seu posicionamento “para a Procuradora da Câmara” e que poderia entrar em contato com ela. Embora o expediente oficial da Casa se encerre às 17h, ninguém atendeu as ligações mesmo cinco minutos antes do horário final. O presidente afirmou que se manifestaria apenas pela Procuradoria e que o colega se manifestou pela nota publicada.

A reportagem fez contato telefônico no gabinete do vereador nesta quinta-feira (11) e foi informada de que ele não vai se pronunciar sobre o assunto.