Nas últimas semanas, o vereador de Nova Lima Tiago Tito (PSD) usou as redes sociais para expor chantagens e ameaças que recebeu pelo posicionamento na disputa da Mesa Diretora da Câmara Municipal da cidade.

Dias depois, começou a circular um vídeo de uma ex-servidora dele denunciando uma suposta prática de “rachadinha” no gabinete do parlamentar há pelo menos dois anos. 

O vídeo, segundo Tito, seria uma das supostas ameaças. Na publicação, a ex-servidora diz que foi nomeada em agosto de 2018, tinha o salário de R$ 3.000 bruto, e que “seguia normal, trabalhando decentemente” e que, durante o período, engravidou de gêmeos e programou para tirar férias um pouco antes de os filhos nascerem para ter o dinheiro do acerto com o intuito de “terminar o enxoval e resolver coisas pessoais”. 

“No dia do acerto, o pagamento não caiu e fui informada de que ele não cairia porque as minhas férias foram canceladas um dia antes do dia que eu receberia, então, dia 31 de julho elas foram canceladas e eu fui transferida para o cargo de assessora especial, (com salário) de R$ 11 mil. E, com isso, o chefe de gabinete me informou que o vereador precisou fazer essa mudança porque ele precisava de fundos para ajudar na campanha eleitoral do vereador e que eu receberia o valor de R$ 11 mil, pegaria a minha parte, que era o valor que eu recebia, de R$ 3.000 – o salário líquido era de R$ 2.300 –, e devolveria o restante do dinheiro para ele só nesse período de maternidade. Ele fez esse trâmite porque, como eu entrei de licença-maternidade, eles colocariam outra pessoa no meu lugar, e essa pessoa entrou recebendo os R$ 11 mil nesse período de seis meses, então eles tinham a ‘rachadinha’ comigo e com essa outra pessoa que entrou”, afirmou a ex-servidora. Ela afirmou que “infelizmente teve que participar desse mau-caratismo e permanecer nessa situação”. 

O vereador Tiago Tito negou veementemente a prática de “rachadinha” e disse que os funcionários “se organizavam para ajudar” as pessoas sem a concordância dele. “Várias pessoas de grupos políticos nossos tinham sido dispensadas da prefeitura, aí eles vieram com uma solução. Com muita persistência foram e acabaram fazendo um ajeitamento entre eles, entendeu? Que foi entre eles para pagar as pessoas”, explicou, ressaltando que não concordou com a atitude. 

A ex-assessora afirmou que não quis participar do suposto esquema e disse que queria devolver o dinheiro. “Infelizmente trata-se de pessoas de mau caráter, são pessoas desonestas e que eu acabei me envolvendo nessa situação tão constrangedora. E, como eu acabei não me enganando, nesse período eu devolvi, e logo em seguida, quando a minha licença estava acabando, precisei fazer uma cirurgia e tive que ficar mais 60 dias de atestado. Quando informei isso, fui simplesmente exonerada do meu cargo estando 60 dias de atestado, porque como a licença-maternidade terminaria, eu entraria de atestado e receberia auxílio-doença pelo INSS. Eu não receberia o valor integral, receberia muito menos do valor de R$ 11 mil. Recebi R$ 1.500 de auxílio-doença, então não teria dinheiro para devolver para o gabinete, e eles simplesmente me exoneraram”, afirmou. 

Segundo ela, o suposto esquema funcionava com outros assessores. “São pessoas extremamente desumanas, fazem com outros dois assessores do gabinete também”, disse a ex-servidora do município da Grande BH. Em vídeo, a ex-funcionária diz ter extratos bancários dos saques para repassar o valor ao chefe de gabinete, além de conversas em que era cobrada para repassar o montante. 

Tiago Tito diz que foi alvo de chantagem em disputa política

Sobre a exoneração da ex-servidora que fez acusações em vídeo, o vereador Tiago Tito afirmou que combinou com a funcionária que ela trabalharia um mês entre o fim da licença-maternidade e a cirurgia, mas ela emendou os dois períodos sem avisar previamente ao seu gabinete na Câmara Municipal de Nova Lima, prática com a qual ele não concordou, o que levou à dispensa da funcionária.

Segundo ele, ao fazer o acerto, em fevereiro de 2020, a servidora gritou no hall da Câmara de Nova Lima que o prejudicaria posteriormente.

No final do ano passado, segundo Tiago Tito, a ex-funcionária o procurou para “resolverem uma situação”. Segundo o vereador, o teor da conversa foi uma suposta ameaça. A ex-servidora deu nomes de pessoas do grupo adversário de Tito e falou sobre valores que outros candidatos prometeram a ela e não cumpriram. 

“Quando saí do encontro, ela liga e pergunta se alguém me procurou sobre a conversa. Disse que um delegado queria ouvir ela. Eu disse que ela poderia ir, que eu estava com a consciência tranquila”, contou o parlamentar. 

Já no dia 31 de dezembro, o parlamentar conta que um carro parou na porta da sua casa e ficou esperando de 7h30 até as 10h, quando ele saiu.

“Essa pessoa é uma das que ela fez ameaça, que está nomeada, aí essa pessoa, quando eu saí de casa, pulou do carro e falou que precisava conversar sobre eleição de Câmara, aí que foi mostrar o vídeo que ela fez e tentando falar que precisava que eu votasse na outra chapa (da eleição na Mesa Diretora), falando que não podia perder, que eu sabia o que estava por trás. Eu falei: ‘olha, a forma que vocês querem me levar pro grupo de vocês é me chantageando, me ameaçando, eu não vou’. Tive tranquilidade na conversa, só não consegui gravar, aí depois quando passou um tempo veio uma mensagem dela falando que o nosso acordo é que eu tinha que fazer o que a pessoa que me procurou mandou eu fazer”, conta Tito. 

Segundo o vereador, ele registrou as ameaças que recebeu por meio de mensagem. “Tenho o print. Tudo envolveu a Mesa Diretora. Se fosse algo que não tivesse interesse, ela teria resolvido isso em fevereiro, março, quando saiu do gabinete”, alega. Tito entregou o caso ao Ministério Público no início do mês e aguarda o prosseguimento do caso.