O vereador de Nova Lima,na região metropolitana,Tiago Tito (PSD) e o chefe do gabinete dele foram presos, na manhã desta terça-feira (11), suspeitos de ameaçar uma assessora parlamentar que se negou a participar de um esquema de “rachadinha” (devolução de parte da remuneração de servidores públicos a políticos) organizado por eles. Segundo o Ministério Público, a ex-funcionária relata que chegou a ter o carro queimado a mando de Tito.

O vereador e o chefe de gabinete são investigados na Operação Contrato Leonino, que apura crimes cometidos dentro da Câmara Municipal da cidade, incluindo rachadinhas. A operação é realizada pela Polícia Civil em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais.

Ao MPMG, a assessora ameaçada detalhou o esquema. Ela recebia, em um primeiro momento, salário de cerca de R $3 mil, repassava quase R $2 mil e ficava com o restante. De acordo com o depoimento da vítima, as ameaças começaram quando ela recebeu um aumento e decidiu não mais participar do esquema.  “Ele passou a receber quase R $9 mil, continuaria recebendo R $2 mil e repassaria cerca de R $7 mil  para o parlamentar”, explicou o promotor Fabrício Fonseca

Com o aumento do salário, a ex-assessora teve benefícios cortados. Por isso ela deixou de repassar ao vereador parte do seu salário. Ainda de acordo com Fonseca, as ameaças teriam se intensificado quando em um rede social surgiu o rumor que a assessora iria denunciar o caso. 

Segundo o promotor, o valor desviado e a maneira como o dinheiro das rachadinhas era lavado ainda não foram descobertos. 

Além do crime de ameaça e rachadinha, os investigados são suspeitos de praticar os crimes de associação criminosa, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, dispensa irregular de licitação e lavagem de dinheiro. Se condenados, podem cumprir de 2 a 12 anos de prisão.

Troca de acusações

Em janeiro, conforme mostrou o jornal O TEMPO, a ex-assessora divulgou nas redes sociais vídeo acusando o parlamentar de rachadinha. Na ocasião, ex-servidora afirmou que não quis participar do suposto esquema e disse que queria devolver o dinheiro.

O vereador, na época, usou suas redes sociais para expor o que ele chamou de chantegens. Segundo ele, o vídeo estaria sendo usado para ameaça-lo pelo posicionamento na disputa da Mesa Diretora da Câmara Municipal da cidade.

Tito negou veementemente o crime de rachadinha e que as chantagens feitas pela servidora vieram depois que ela foi exonerada por ter emendado o fim da licença-maternidade com outra licença que ele tiraria para uma cirurgia sem avisar. 

Investigações   

A ação desta terça-feira corresponde à segunda fase da investigação da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção iniciada em 18 de dezembro do ano passado, também na Câmara de Nova Lima, que investigou fraudes no contrato de veículos. Na ocasião, as autoridades cumpriram mandados de busca e apreensão no gabinete de seis vereadores. 

Como desdobramentos, o promotor Fabrício Fonseca explicou que o MP e a PCMG investigam agora o esquema de rachadinha e se outros vereadores também participavam do esquema na Câmara. Até o momento, foi apurado apenas o envolvimento do vereador preso nesta manhã. 

Além disso, as investigações apontam para a prática de favorecimento ilícito de uma empresa do ramo da construção civil da cidade com ligação com o vereador. 

“Há indícios que esse empresário contribuiu para a campanha do vereador e recebeu em troca favorecimento nos contratos firmados com o município de Nova Lima”, explicou o promotor. Nesta terça-feira, a operação também cumpriu busca e apreensão na casa do empresário e também na empresa. O MP não divulgou o nome da empresa. 

São apurados também pela Operação desvios em contratos celebrados pela Câmara Municipal de Nova Lima.
E por último, os investigadores apuram também suspeita de loteamento de cargo no poder Executivo, que é quando parlamentares indicam pessoas a ocuparem cargos na Prefeitura em troca de aprovação de interesses próprios. 

O promotor ressalta que as investigações são referentes à atividades suspeitas feitas na última legislatura e não na eleita em nas eleições de 2020. O vereador Tiago Tito, preso na operação, foi reeleito no último pleito. 

Na manhã desta terça, agentes da Polícia Civil cumpriram mais 13 mandados de busca e apreensão em outros endereços contra assessores e um empresário da construção civil do município, supostamente favorecido em licitações fraudulentas.

Segundo o delegado Gabriel Fonseca, foram apreendidos celulares, notebooks, computadores e documentos que serão utilizados no prosseguimento das investigações. O vereador foi preso na sua residência e não resistiu à prisão. 

Respostas

A reportagem tentou contato com o gabinete de Tiago Tito e aguarda retorno. Já o PSD-MG, partido a que o parlamentar é filiado, disse que em nota que aguarda apuração dos fatos pelas autoridades competentes. 

"O Partido Social Democrático de Minas Gerais (PSD-MG) comunica que teve conhecimento sobre o caso citado envolvendo o vereador de Nova Lima, Tiago Tito, por meio da imprensa. Informamos que o caso está nas mãos dos órgãos competentes e aguardamos a apuração do ocorrido. Reiteramos que o PSD Minas Gerais tem como diretriz o exercício da política responsável e transparente" 

Procurada, a Câmara Municipal de Nova Lima afirmou que a instituição vai cooperar com as autoridades durante as investigações. 

"Com relação ao mandado de busca e apreensão direcionado ao gabinete do vereador Tiago Tito, na manhã desta terca-feira (11), a atual gestão da Câmara Municipal de Nova Lima reitera seu compromisso com a transparência, estando à disposição das autoridades competentes para contribuir no processo investigativo", diz a nota enviada à reportagem.