O presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol-MG), Wemerson Oliveira, acusou o governo Romeu Zema (Novo) de “enganar os servidores públicos” ao vincular o pagamento de recomposições salariais ao Programa de Pleno Pagamento (Propag) e aos vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao texto aprovado no Congresso. Ao Café com Política, Oliveira afirmou que a recomposição das perdas inflacionárias é responsabilidade exclusiva do estado e criticou o que considera uma tentativa do governo mineiro de “jogar para o governo federal” um problema que, segundo ele, é local. A entrevista foi ao ar nesta sexta-feira (11/7), no canal no YouTube de O TEMPO.
“É o oportunismo do vice-governador Matheus Simões (Novo) e do governador Romeu Zema em cima das forças de segurança pública. Até mesmo porque, recomposição de perdas inflacionárias é um direito do servidor público. Nós, das forças de segurança pública, já temos uma defasagem salarial de 44%. Hoje, nós, policiais civis, temos o quarto pior salário do país, enquanto o governador tem o segundo maior salário entre os governadores”, avaliou.
“Quando ele condiciona isso (recomposição) ao Propag, à derrubada dos vetos, isso é mais uma falácia, mais uma enganação, uma tentativa de ludibriar os servidores públicos, fazendo parecer que o problema é com o governo federal. Mas o problema não é o governo federal”, continuou.
Para o líder dos policiais civis, a responsabilidade pela recomposição é do governo de Minas. “Quando o governo não dá a recomposição inflacionária para os servidores públicos, não é por falta de dinheiro, é por falta de vontade de valorizar - em especial os servidores da segurança pública”, afirmou.
Sobre o Propag, Oliveira afirmou que o programa, elaborado com apoio da Frente Mineira em Defesa do Serviço Público, formada por entidades representativas de diversas categorias, é a “melhor alternativa” para o pagamento da dívida de Minas Gerais com a União. “O Propag é sem dúvida a melhor opção hoje para o saneamento das dívidas do Estado de Minas Gerais e também para garantir que a população não fique sem serviços essenciais.”
Ele rebateu a narrativa do governo sobre os impactos dos vetos de Lula no pagamento ao funcionalismo: “Isso é mais um subterfúgio do governo Zema para tentar ludibriar os servidores públicos e não dar aquilo que é um direito. [...] A lei (de Responsabilidade Fiscal) não proíbe recomposição de perdas inflacionárias; ao contrário, ela autoriza”.
‘Auxílio alimentação não é reajuste, é direito básico de se alimentar’, afirma
Wemerson Oliveira também fez críticas ao discurso do governo mineiro de que teria concedido reajustes à segurança pública ao conceder o auxílio-alimentação e o bônus vestimenta. Segundo ele, as perdas seguem acumuladas e o impacto das medidas foi pontual.
Sobre o auxílio alimentação, disse: “Estamos lutando por isso desde 2020, 2021”. Ele completou:” Dentro das categorias dos servidores públicos, os únicos que não recebiam auxílio-alimentação eram os servidores da segurança pública”.
O presidente do Sindpol-MG reconheceu que houve certa desmobilização com o anúncio do auxílio. “Houve sim, uma pequena desmobilização inicial, mas já estamos visitando as unidades policiais e percebendo que foi apenas um alívio momentâneo”, afirmou, acrescentando: “no final, o salário líquido permanece o mesmo”.
Presidente acusa governo Zema de usar discurso do militarismo e autoritarismo
Ao falar sobre os concursos anunciados pelo governo, Oliveira acusou Zema de priorizar a Polícia Militar e a Polícia Penal em detrimento da Polícia Civil, com uma estratégia que, segundo ele, tem viés autoritário e eleitoral.
“O que a gente percebe é uma tendência do governador Romeu Zema de defesa do militarismo e do autoritarismo. Parece que ele está em campanha política para a Presidência da República”, afirmou. Conforme o Novo, Zema é pré-candidato a presidente, enquanto seu vice, Mateus Simões, é pré-candidato ao governo de Minas.
O presidente do Sindpol-MG também questionou o argumento usado pelo governo de que estaria impedido de realizar novos concursos para a Polícia Civil. “Isso é uma inverdade. Ele disse que a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe concurso para a Polícia Civil. De onde ele tirou isso? E por que proibiria apenas para a Polícia Civil, mas não para Polícia Militar, Polícia Penal, Bombeiros e agentes socioeducativos?”
Para ele, o atual governo mineiro “engana a população” ao associar policiamento ostensivo à segurança real. “Quando a gente vê muito policiamento ostensivo na rua, não é motivo de tranquilidade; pelo contrário, é sinal de que a violência está aumentando".
Oliveira afirmou que a Polícia Civil sofre com contingenciamento, sucateamento e desigualdades internas. “O contingenciamento retirou mais de R$ 32 milhões da Polícia Civil, afetando diretamente delegacias especializadas”, relatou. “Hoje temos menos de 10 mil [policiais civis], sendo menos de 6 mil investigadores na ativa para atender os 853 municípios de Minas Gerais.”
Sobre o posicionamento político da categoria nas eleições de 2026, foi direto: “Nós, policiais civis, não somos nem de direita, nem de esquerda. Somos uma instituição de Estado, não de governo. Mas o governador Zema tenta se apropriar de um discurso de defesa da segurança, sem de fato investir nela.”
Ele concluiu com um alerta: “Ano que vem, se não houver avanços, pode haver mobilização ou greve maior".