Pandemia

Atletas com coronavírus precisam reforçar cuidados com o coração, diz médico

Médico analisa estudo e ressalta que atletas que contraíram coronavírus precisam de ficar afastados de atividades físicas de três a seis meses

Por Pedro Abílio
Publicado em 01 de junho de 2020 | 07:30
 
 
Clubes estão seguindo vários procedimentos, mas ainda estão aprendendo a lidar com a pandemia Foto: América/ Divulgação

Após a paralisação causada pela pandemia do novo coronavírus em boa parte do planeta, grandes ligas do futebol mundial já possuem sinal verde para o retorno, apesar de restrições e adaptações. No Brasil, a divisão regional evidencia que ainda não há consenso para que o esporte volte de forma segura. O trio da capital mineira já trabalha nos centros de treinamentos, mas, nos últimos dias, Matheusinho (América), Cazares (Atlético) e Vinícius Popó (Cruzeiro) foram diagnosticados com a Covid-19 .
São muitas as dúvidas e preocupações em caso de possível infecção e um desses problemas foi alvo de estudo de um grupo de cardiologistas dos Estados Unidos, publicado há duas semanas pelo JAMA (Journal of the American Medical Association), revista científica da Associação Americana de Medicina. 
O artigo “Um plano de jogo para a retomada do esporte e do exercício após a infecção por Covid-19” fala da relação entre a doença e o coração. Segundo o estudo, cerca de 22% de pacientes que ficaram internados tiveram incidência da miocardite, uma inflamação do miocárdio, músculo responsável pela contração do coração. Essa lesão é uma das situações que mais chamou a atenção do cardiologista Alan Max, que analisou o estudo para o SUPER.FC.
“O coronavírus tem uma atração pelo coração. Tem uma porcentagem muito grande de pacientes que têm o coronavírus e acabam apresentando lesões cardíacas. O grande problema dessa miocardite é que pacientes têm que ficar afastados de atividades físicas de três a seis meses, porque ela facilita muito arritmias, até arritmias malignas, principalmente durante atividades físicas”, analisou.
O médico explica que quem teve miocardite decorrente da Covid-19 precisa ficar afastado das atividades, seja atleta profissional ou amador. “Uma atividade forçada nesses pacientes pode ocasionar inclusive uma parada cardíaca e esse paciente vir a óbito”, concluiu o médico.
Não há números sobre a incidência da miocardite em pacientes que tiveram pouco ou nenhum sintoma, pois, sem a internação, eles não passam por exames cardiológicos aprofundados. O ideal é que, para retomar atividades, quem foi infectado seja avaliado por um cardiologista para que ele defina quais outros exames complementares serão necessários.

Dúvidas

Os clubes seguem rigorosos protocolos nesta volta, mas não há detalhes sobre o que acontece no caso de algum jogador infectado. O que está preestabelecido é que quem pegar a Covid-19 ficará em isolamento. O SUPER.FC  procurou os departamentos médicos dos três clubes da capital para esclarecer. 
André Jafeth, médico do América, explicou a posição do clube. Mesmo que um atleta tenha tido contato com o vírus, ele passa por novo exame e é submetido também a um eletrocardiograma. “Há uma avaliação clínica para ver se houve alguma coisa e a investigação pode ser estendida. Atletas sintomáticos, se houver suspeita de miocardite, são afastados por duas a quatro semanas e a investigação é mais minuciosa. Se comprovar, o afastamento é bem mais longo”, explicou Jafeth, que reconheceu a situação não é fácil, pois não se sabe muito sobre a doença. 

Riscos

Alan Max acredita que enquanto não houver uma vacina preventiva à Covid-19, os atletas vão continuar sendo testados periodicamente. “Tendo a infecção, entra em risco, principalmente se o atleta fizer o treinamento tendo o coronavírus. O exercício físico acelera a replicação do vírus também”. Ele alerta que se estes cuidados não forem seguidos, corre o risco de “presenciarmos nos próximos meses vários eventos de morte súbita”. 

Protocolo

Por meio do médico Sérgio Campolina, o Cruzeiro informou que seu protocolo prevê a liberação de um atleta após a infecção por coronavírus a partir do momento em que apresentar dois exames negativos, em um intervalo de três dias entre eles.
“Em termos de exames complementares, dois testes serão realizados: a avaliação de capacidade cardiopulmonar e a tomografia do tórax com ênfase ao estudo pulmonar”, disse o médico, demonstrando as preocupações do clube com possíveis complicações cardíacas. De acordo com Sérgio, esses exames têm validade porque "os jogadores realizam tais exames no início e também no meio da temporada".
 

Bateria de exames

De acordo com o cardiologista do Atlético, Haroldo Christo, o Covid-19 é uma doença sistêmica, que pode acometer diversos órgãos, incluindo o coração. "Embora o acometimento cardíaco pelo Covid-19 tenha sido descrito nos casos de maior gravidade, os que requereram internação em CTI, é recomendável que todo atleta com diagnóstico confirmado passe por uma avaliação cardiológica antes de retornar aos treinamentos", disse. 

Christo explica que a avaliação inicial é baseada no exame clínico, associado a um eletrocardiograma, mas outros métodos complementares como o ecocardiograma, testes de esforço, testes cardio-pulmonares, exames de sangue e até mesmo a ressonância cardíaca podem ser necessárias em casos específicos.