Análise

Cruzeiro: contradição entre discurso e prática na segunda demissão de técnico

A seis partidas para o fim da Série A do Campeonato Brasileiro, Raposa corre risco de rebaixamento e busca treinador disposto a aceitar o desafio

Por Rodrigo Rodrigues
Publicado em 13 de novembro de 2023 | 05:00
 
 
Pedro Martins, diretor de futebol do Cruzeiro, e Ronaldo Fenômeno, proprietário da SAF estrelada Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Quando o técnico Paulo Pezzolano decidiu que não seguiria à frente do Cruzeiro, em março deste ano, a diretoria da SAF estrelada foi ao mercado e garantiu que o português Pepa havia sido escolhido de forma bem criteriosa. Desconhecido no Brasil, o profissional de 42 anos havia impressionado os recrutadores. 

"Ao longo dos últimos meses, sabendo da possibilidade de saída do Pezzolano, o Cruzeiro fez um levantamento amplo sobre diversos treinadores que poderiam se incorporar ao projeto. A gente conseguiu identificar no Pepa a figura ideal para fazer essa transição, sabendo que é uma continuidade, um passo à frente para que o projeto do Cruzeiro fique cada vez mais forte", explicou, à época, o diretor de futebol Pedro Martins. 

Cinco meses e 25 partidas depois dessa declaração, Pepa foi demitido. A saída do português contrariou frontalmente o discurso da gestão estrelada. Contudo, o mesmo Pedro Martins voltou ao microfone para reiterar o planejamento bem delineado da cúpula cruzeirense. 

"Toda decisão tem um risco. A decisão de ficar é um risco. A decisão de tirar é um risco. E é por isso que a gente precisa ter convicção e clareza de onde a gente quer chegar e como quer chegar para tomar as decisões. E nesse aspecto o clube está bem definido e bem decidido", bradou, após anunciar a chegada de Zé Ricardo para a vaga do português.

A 'convicção' e a 'clareza' alardeadas por Martins viraram pó 67 dias depois. A retórica, mais uma vez, não se confirmou na prática. Zé Ricardo começou a trabalhar na Toca II no último 6 de setembro. Nesse domingo (12), foi demitido.

Sua passagem à frente da Raposa durou dez partidas. Uma estreia empolgante na vitória sobre o Santos por 3 a 0, na Vila Belmiro, além do triunfo no clássico contra o Atlético por 1 a 0, o primeiro da Arena MRV, e outro 3 a 0, neste caso, frente ao Bahia. Foram mais cinco derrotas e dois empates. 

Os homens que tomam as decisões na Toca II devem estar agora revirando o banco de currículos que possuem em seus arquivos, em busca do quarto treinador na temporada. Isso comprova que a diretoria falhou, mesmo dizendo que o processo seletivo é criterioso, assertivo...

Restam seis partidas para o Cruzeiro nesta Série A do Campeonato Brasileiro, e o rebaixamento se transformou em realidade. A Raposa soma 37 pontos, na 17ª colocação. O risco de queda é de 35,6%, conforme cálculos do Departamento de Matemática da UFMG.

A menos de um mês para o fim da competição, resta saber quem topará assumir a hercúlea missão. Desse modo, a realidade se impõe frente ao discurso de Ronaldo e sua trupe nesta temporada, mostrando-lhes o óbvio. Embora o copo esteja meio vazio, a água já bateu no pescoço faz tempo.