Foram 27 anos nadando quase todos os dias. Depois de disputar quatro Olimpíadas e conquistar oito medalhas em Pan-Americanos, a principal nadadora brasileira dos últimos anos anunciou, na última semana, que vai deixar as competições – mas as piscinas, nunca. Tanto que os planos de Joanna Maranhão para futuro e as atividades do presente envolvem natação. Além de seu projeto social – que tem aulas da modalidade para crianças de escolas públicas de Belo Horizonte – e da clínica de natação, ela também pretende dar aulas à beira da piscina e avisa: “Quero começar de baixo”.
“Tem muitas coisas que eu gostaria de fazer. Eu vou literalmente procurar emprego. Às vezes as pessoas falam que não é pra eu estar em borda de piscina, é para estar em coisa grande, mas eu não comecei grande. Acho que tem que começar de pouquinho, tendo chefe, dando aula, ganhando pouco, para ir construindo. Eu não tenho medo disso. Tenho medo de ocupar o lugar de outra pessoa que está há muito tempo batalhando. Eu não tenho pretensão de ser rica. Tendo o mínimo para pagar minhas contas e ter uma vida digna pra mim está suficiente”, ressalta Joanna.
A natação é uma modalidade muitas vezes solitária, em que o atleta passa horas olhando para os azulejos no fundo da piscina. Durante todos os anos de treino, Joanna passou por altos e baixos na carreira, principalmente em decorrência de um processo de depressão. A doença apareceu quando ela começou a falar sobre o abuso sexual que sofreu na infância. Após lidar com a questão na terapia, Joanna abriu o verbo para a imprensa.
“Eu acho que tem que falar mesmo. As pessoas têm muito preconceito, não sabem como funciona a depressão. Mas é muito sério. Eu não tenho problema nenhum em falar dessas questões”, destacou a ex-atleta.
Depois de tantos anos de carreira e conquistas, o momento mais marcante para Joanna Maranhão não foi exatamente a medalha de bronze nos 400 medley do Pan-Americano de Toronto, em 2015, mas ter conseguido baixar seu tempo na prova após 11 anos.
“O mais simbólico pra mim foi o Pan de 2015, no 400 medley, quando eu baixei o tempo de 4,40 depois de 11 anos. Era uma coisa que as pessoas não foram mais acreditando que eu podia. Então foi uma resposta. Foi uma conquista para mim e para minha família”, lembra a nadadora.
E a fase mais difícil para Joanna foi em 2009, quando estava passando pelo momento mais grave de depressão. “Eu nadei o Brasileiro nem sei como. Não estava nada bem, não tinha condições, não sei de onde tirei forças para nadar aquela competição e ainda ganhar provas”, destaca.
Oficialmente aposentada das competições, Joanna apela para as novas gerações de nadadoras. “Quero que quebrem meus recordes, sim, que ganhem medalhas. A natação feminina do país precisa disso, precisa melhorar”, conclui.
Piscina não vira tabu para ex-atleta
Joanna Maranhão se aposentou das competições, mas não das piscinas. A agora ex-atleta afirma que vai continuar treinando para manter uma rotina saudável. Ela garante que pretende manter a natação como uma de suas atividades.
“Eu ainda tenho prazer de vir para a água, nadar um pouquinho, fazer atividade física. Isso é muito difícil para atleta de alto rendimento, que treinou muito, ainda mais atleta que nada prova de meio fundo, como eu”, explicou Joanna.
A ex-nadadora conta que tem colegas que, quando encerraram a carreira de atleta, não quiseram entrar numa piscina por muitos anos. Ela ressalta que vai continuar nadando.
“Eu tenho amigos que pararam de nadar e ficaram anos sem cair na água. Isso é uma coisa que eu não cogito. Tem amigo que só entrou em piscina, depois que parou de nadar, com filho. Pra mim vai muito de como o coração se sente”, admitiu Joanna, após um treino de natação em BH.
Trabalho
Lado social. Joanna Maranhão mantém um projeto social em Belo Horizonte que se chama Emancipa Esporte e atende cerca de 80 crianças da rede pública de educação com aulas de natação no lar Dom Orione, na Pampulha. Além disso, ela tem a ONG Infância Livre e faz palestras em todo o Brasil com medidas profiláticas acerca do tema de abuso sexual de crianças. Quem quiser ajudar o projeto ou contratar a palestra da ex-nadadora pode entrar em contato com sua empresária, Rosane Carneiro, pelo telefone (21) 99911-3464 ou pelo e-mail contato@joannamaranhao.com.br.