Especial Cozinha Mineira (V)

Em Paracatu e Itapecerica, culinária já é uma referência para os visitantes

Duas cidades já têm projetos e festivais de valorização da cozinha e das tradições mineiras

Por Paulo Campos
Publicado em 07 de dezembro de 2021 | 09:01
 
 
O centro histórico de Paracatu é tombado pelo Iphan desde 2012; na foto, anfiteatro em ruínas da Casa de Cultura Secretaria de Cultura e Turismo de Paracatu/Divulgação

Cidades como Itapecerica e Paracatu estão definitivamente inseridas na rota da cozinha mineira. Em Itapecerica, no Centro-Oeste de Minas, o Festival de Gastronomia Rural, há 25 anos, apresenta nossos principais pratos de forma original. Já Paracatu, na região Noroeste, criou no dia 5 de agosto deste ano o 1º Polo Gastronômico da Cozinha Mineira.

Ambas as cidades querem manter vivas as tradições e fortalecer toda a cadeia produtiva da região, levando o turismo a outro patamar. No caso de Paracatu, a proposta é transformar a cidade em um grande centro de gastronomia e de promoção da cozinha mineira, criando, segundo Igor Araújo Diniz, secretário Municipal de Cultura e Turismo, um projeto de economia criativa.

Em Paracatu, existe desde 2015 o Festival do Patrimônio Gastronômico e Cultural. O evento acontece em julho e envolve as quitandas e a culinária de quintal. Desde o Ciclo do Ouro, explica Diniz, a gastronomia é forte no município e vem principalmente das quitandas – broas, bolos, biscoitos, rosquinhas, pães de queijo e outros quitutes.

A palavra “quitanda” tem origem no dialeto africano “kitanda” e se refere ao tabuleiro em que se expõem as mercadorias dos ambulantes. Com o passar do tempo, esses “tabuleiros reunidos” passaram a denominar pequenas feiras e mercadinhos, que ainda se fazem presentes em muitas cidades do interior. Para Minas, quitanda é também tudo aquilo que se come acompanhado de um cafezinho.

Conhecida como a Terra das Quitandas, Paracatu é famosa por causa de produtos, como queijadinha, desmamada, brevidade, empada de massa fina, bolos mané pelado (ou descascado) e de domingo e o pão de queijo cujo modo de preparo não é escaldado, mas produzido com massa crua.

Muitas dessas iguarias ainda são assadas no forno de barro. Hoje, já existe, inclusive, uma Rota das Quitandas no município. O próximo passo, segundo Igor Diniz, é a construção de um centro cultural com cozinha comunitária no núcleo histórico.

"Comida de roça"

Em Itapecerica, a chamada “comida de roça” mobiliza cerca de 2.000 pessoas da comunidade todos os anos no feriado de Corpus Christi, durante o Festival de Gastronomia Rural.

Barracas, fornos gigantes e caldeirões são montados na praça do Coreto, no centro, para que moradores e turistas experimentem a culinária típica e aprender em os modos de preparo em oficinas.

Além de cozinhas-show com chefs renomados, pode-se degustar nas barracas trem de milho, pastel de angu, linguiça, chouriço, vaca atolada, carne de porco na lata com farofinha e muitos outros pratos.

Um projeto da prefeitura é a construção de um complexo cultural no local da antiga rodoviária, que pretende reunir em um só espaço, segundo o prefeito de Itapecerica, Wirley Rodrigues Reis, o Têko, mercado municipal, memorial e centro de gastronomia, agregando toda a culinária do festival.

Araxá

Em agosto, a Prefeitura de Araxá assinou, em parceria com a Secult-MG, decreto que cria na região o Polo Gastronômico da Cozinha Mineira. A cidade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba tem tradição nas quitandas, nos doces, no queijo artesanal e na cachaça.

Há 28 anos, um grupo de amigos também criou o Clube da Cozinha Araxaense, que se reúne mensalmente até hoje para confraternizar, trocar experiências culinárias e reinventar pratos da culinária rural.

Mário Moraes Marques, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhorb Araxá), cita ainda a influência dos árabes e italianos e da coleção “Araxá Põe a Mesa”, que resgata as receitas de famílias locais.

Hoje, o município tem festivais importantes de gastronomia, como o Sabores e Saberes, e o ExpoQueijo, que em sua segunda edição neste ano se firma como um dos maiores eventos de queijos do mundo, com participação de cerca de 260 competidores com 809 queijos de dez países, classificados em 54 categorias.

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