Não é de hoje que personagens de novela ditam tendências da moda e inspiram mulheres em todo o Brasil. Foi assim com as flores no cabelo volumoso de ‘Gabriela’ (1975), vivida por Sônia Braga, com os acessórios da Jade de Giovanna Antonelli, em O Clone (2001), e tantos outros papéis eternizados na teledramaturgia brasileira. A tendência da vez são os chanéis das personagens Maria de Fátima Acioly (Bella Campos) e Solange Duprat (Alice Wegmann) no remake da novela ‘Vale Tudo’.
A história do Chanel
O corte no estilo Chanel surgiu no início do século 20, por volta dos anos 1910-1920, em um momento em que as mulheres começavam a conquistar mais independência. Foi a estilista francesa Gabrielle "Coco" Chanel quem popularizou esse estilo. Diz a lenda que, em 1917, Coco teria queimado o cabelo ao acender uma lareira e, por necessidade, o cortou curto. Mal sabia ela que lançava uma tendência que passaria de geração em geração.
Na primeira versão de 'Vale Tudo', exibida em 1988, o corte também fez sucesso, quando o estilo chanel já simbolizava elegância e ousadia. Agora, a releitura desse visual ganha ares contemporâneos, principalmente com a versão cacheada usada por Bella Campos, que atualiza o clássico com a representatividade dos cabelos naturais e com curvaturas.
“O cabelo da Maria de Fátima transmite a personalidade da própria personagem. Ela é um pouco arrogante, ambiciosa, persuasiva, então um corte de base reta e com volume, na altura da mandíbula, traz essa ideia de imponência, de força, com a fusão do cacho que traz certa sensibilidade. Tem uma mescla na comunicação de imagem dela, de uma mulher audaciosa e forte, mas com certa delicadeza por causa da persuasão que a personagem tem”, avalia Márcia Nascimento, cabeleireira visagista.
Segundo Mabel Garcia, especialista em cachos e fundadora do salão Raízesse, localizado em Belo Horizonte, ter essa representatividade em uma novela das nove é importante para quebrar padrões e mitos:
“Ao contrário do que muita gente pensa, o Chanel não precisa ser liso para funcionar. Nos cabelos cacheados, ele traz leveza, valoriza o volume e o movimento natural dos fios. É o tipo de corte que molda o rosto com elegância, mas sem tirar a identidade do cabelo. Quando esse corte entra no universo dos cachos ganha uma releitura super contemporânea, cheia de personalidade”, explica a especialista.
O sucesso do corte já é refletido no salão que, desde o início da novela, recebe pedidos de cacheadas que têm o cabelo de Maria de Fátima Acioly como inspiração.
“As clientes chegam no salão com fotos da Bella Campos e dizem: ‘Quero esse corte!’ E não é só pela estética, é pelo o que o Chanel representa, uma mulher segura, moderna e que quer valorizar a textura natural do cabelo. Hoje as cacheadas estão mais empoderadas e querem cortes que destaquem o volume, o movimento e a identidade do cabelo”, afirma Mabel.
O cabelo de Solange
O chanel liso da mocinha Solange, interpretada por Alice Wegmann, também é sucesso, principalmente pela franja. O detalhe é essencial para construir a personalidade da personagem.
“Tem uma base reta ali na mesma proporção de mandíbula, que traz a ideia de força, mas a franja traz um pouco mais de autenticidade, criatividade, que tem tudo a ver com a personagem que é diretora de criação de uma agência”, analisa Márcia Nascimento.
Todo mundo pode usar chanel?
Apesar de ser um corte clássico, o cabelo curtinho ainda divide opiniões entre as mulheres e nem todas têm coragem de desapegar dos fios e aderir ao chanel. Mitos de que o corte não combina com todos os formatos de rosto também acabam afastando possíveis adeptas. Mas, para visagistas, essa teoria já caiu por terra.
“Todo mundo pode ter todos os tipos de cortes, o que vai demandar é a proporção, o equilíbrio de formas necessário para aquele formato de rosto”, explica Márcia Nascimento.
Segundo a especialista, mulheres com rostos alongados devem apostar em um chanel maior, com até um dedo abaixo do queixo. Já as que têm rostos menores sustentam bem um cabelo mais curtinho.
O chanel com a proporção ideal também pode se encaixar bem nos rostos redondos.
“O rosto redondo não tem quinas. A vantagem é que não tem um lugar específico que a gente tem que colocar um volume para equilibrar. Mas um formato curtinho pode evidenciar as bochechas. Para equilibrar essa sensação, o ideal é jogar volume para o topo. Dar uma leve ondulada nesse chanel ou usar o cabelo partido para o lado, o que dá a sensação de um rosto alongado”, explica Márcia.
Outra dica, especialmente para as cacheadas, é fazer o corte com os cabelos secos e finalizados para ver o caimento real. “Respeite o fator encolhimento. O que parece estar no queixo quando os fios estão molhados, pode acabar acima das orelhas quando seca”, explica Mabel Garcia.
Também é importante tomar cuidado com as inspirações, já que nem tudo o que está bonito na novela vai se encaixar na vida real.
“Não tenta copiar um corte sem levar em conta sua curvatura, densidade e estilo de vida. O Chanel precisa combinar com a sua rotina, e isso inclui entender como ele vai se comportar nos dias em que o cabelo não está super definido. O importante é personalizar, o Chanel não é um molde, ele é uma base que pode e deve ser ajustada para cada mulher se sentir linda e confiante”, finaliza a especialista Mabel Garcia.