Um consumo consciente, que pensa no futuro do planeta e nos impactos que os cosméticos e produtos de beleza podem causar ao meio ambiente e à saúde humana. Estes são os principais objetivos do conceito Slow Beauty, movimento que surgiu nos Estados Unidos e está cada vez mais forte no Brasil, influenciando tanto marcas quanto consumidores a repensarem as escolhas na área da beleza.

A popularização do conceito acontece em um momento importante. Agora que estamos mais próximos de 2050 do que dos anos 2000, pensar no futuro deixou de ser apenas uma escolha e tornou-se uma urgência. As consequências das mudanças climáticas, o excesso de consumo e os impactos da indústria no meio ambiente evidenciam a necessidade de mudanças nos hábitos no ramo da beleza.

“A indústria da beleza é marcada por uma artificialidade cada vez mais imposta. Muitas coisas que a gente viu nos últimos anos falavam sobre intervenções ou cosméticos que iam transformar completamente aquilo que é o natural. O que a gente vem tentando resgatar é colocar os cosméticos como parte de um bem-estar, de exaltar aquilo de melhor que já está em nós. Fazer com que os produtos de beleza tenham a função de ajudar a regenerar e não de levar a objetivos inalcançáveis de juventude e de padrões estéticos”, explica Jessica Silva, Co-CEO do Sistema B Brasil, organização que apoia, promove e certifica empresas a altos padrões de desempenho social, ambiental, transparência e responsabilidade legal.

Boas iniciativas

Se tornar sustentável e ter um consumo mais consciente pode parecer um ‘bicho de sete cabeças’ em meio ao capitalismo em que vivemos,  mas pequenas iniciativas, tanto de consumo, quanto de produção, podem mudar de forma significativa o impacto dos produtos de beleza no meio ambiente. A boa notícia é que já existem empresas nacionais preocupadas com o futuro. E se a indústria pensa em ser mais sustentável, a parte do consumo também se torna mais fácil.

Em Belo Horizonte, a marca ‘Calma’ surgiu durante a pandemia justamente com o propósito de ressignificar a maneira de produzir a beleza. Depois de trabalhar por anos como maquiadora e cabeleireira, Clarisse Padilha decidiu investir na produção de produtos artesanais com o intuito de oferecer para as clientes uma beleza a longo prazo.

“O nosso propósito é trazer cosméticos com ingredientes naturais e sem aqueles componentes tóxicos, como silicone e petrolatos, presentes nos produtos tradicionais, e que existem várias pesquisas que mostram o quanto eles podem ser prejudiciais principalmente à saúde da mulher e ao meio ambiente”, explica a proprietária da marca.

No catálogo da marca mineira tem xampus e condicionadores sólidos, produtos capilares e maquiagens. Todos os cosméticos são multifuncionais para incentivar o consumo consciente. “A nossa linha de sólidos não vem em um frasco plástico, e por isso não geram um resíduo plástico no planeta. Já as maquiagens são produtos multifuncionais, no sentido de que você não precisa ter tantos itens. Com um produto, às vezes você pode usar no cabelo, na pele. E se você compra menos, gera menos lixo e impacto no meio ambiente”, afirma Clarisse.

Clarisse Padilha mostra os produtos da sua marca artesanal desenvolvida durante a pandemia- Foto: Pollyana Sales- O TEMPO

Desafio para grandes marcas

A Natura é considerada a marca mais sustentável do mundo e divulgou um plano com boas práticas para se tornar regenerativa até 2050. Para grandes empresas, com produção em larga escala, os desafios são ainda maiores, mas não impossíveis. Um dos principais objetivos da marca nos próximos 25 anos é diminuir o lixo produzido a partir das embalagens: 

“ Vidro, a gente vem evoluindo também, então toda a nossa vidraria de perfumaria tem até 30% de vidro reciclado pós consumo das embalagens de perfume da Natura. Para 2050 a principal meta é a gente sair do uso de plástico de origem fóssil e garantir que sejam 100% biodegradáveis. Ou seja, que o plástico que a gente usa suma do meio ambiente sem impactar o solo, ou a água e a vida das pessoas”, explica Angela Pinhati,  diretora de sustentabilidade na Natura em entrevista ao O TEMPO.

O alumínio já é 100% reciclável no Brasil, e a embalagem do creme de mão da Natura é reaproveitada a partir das cápsulas de café da Nespresso. Além disso, a Natura também foi a primeira marca no mundo a lançar os refis, em 1987. “Óbvio que a gente continua evoluindo e sempre pensando em formas de ter um refil mais leve, com menor impacto”, afirma Pinhati.

O Boticário, outra empresa nacional grande no mercado da beleza, também conseguiu dados expressivos com a reciclagem de embalagens. Em 2024, os refis de perfumaria evitaram a geração de 92 toneladas de resíduos, o equivalente ao peso de 76 carros populares. Outro programa de destaque é o ‘Boti Recicla’ com mais de 4 mil pontos de coleta espalhados por todo o país. Desde 2006, o programa convida consumidores a descartar embalagens de cosméticos, de qualquer marca,  nas lojas do Boticário. Os materiais são encaminhados a cooperativas parceiras, onde têm o destino ambientalmente correto.

Veja exemplos de produtos de beleza sustentáveis:

01- Marca Calma

Toda a linha de produtos da marca Calma é feita a partir de ingredientes naturais. Estão disponíveis para venda xampu e condicionador sólidos, óleo multifuncional para os cabelos e pele e um coração sólido que serve como blush, sombra e batom.

02- Linha Biõme- Natura

Xampu e condicionador em barra, feito com embalagem 100% de papel e sem plástico. A linha também conta com uma saboneteira criada através de biometano, ou seja no momento da produção de plástico da saboneteira, ao invés de gerar carbono, ele captura carbono.

03- Creme Ekos Castanha concentrado- Natura

O produto é vendido em uma micro garrafinha de 30 ML. É um peso muito menor a ser transportado, muito menos plástico, ainda assim um plástico 100% reciclável. Cabe ao cliente final acrescentar água e transformar o produto em um creme. 

04- Arbo desodorante colônia- Boticário

o refil de Arbo é feito de alumínio, um material altamente reciclável, enquanto a tampa do novo Arbo Puro, lançado este ano, usa polipropileno de segunda geração, derivado de óleo de cozinha usado, alternativa que reduz em 51% as emissões de CO₂ em comparação com plásticos de origem fóssil.