Até o ator Anthony Hopkins, que encarnou o psicopata Hannibal Lecter em "O Silêncio dos Inocentes", surfou no furor causado pelo novo lançamento da marca de cintas de Kim Kardashian. A bandagem de tecido da grife milionária, uma espécie de modelador facial, lembra a máscara do serial killer.

Segundo a marca Skims, o "Seamless Sculpt Face Wrap" deve ser usado para dormir e tem efeito de lifting na pele do queixo, da mandíbula e das maçãs do rosto. Mas, segundo especialistas consultados pela reportagem, o uso desse tipo de compressor fora do contexto pós-operatório, com fins de rejuvenescimento, não tem respaldo científico.

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Como é a cinta facial

Preso no topo da cabeça, o tecido compressor envolve a face e parte do pescoço, deixando um espaço vazado para as orelhas e para o rosto. Em tons de bege, lembra ataduras pós-cirúrgicas usadas em procedimentos como lifting facial e bichectomia.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Armando Lobato, as ataduras pós-cirúrgicas têm três funções principais. Primeiro, a compressão. "A pressão constante no rosto e no pescoço diminui o inchaço e controla os hematomas após a cirurgia", diz.

Segundo, a estabilização. "Os tecidos ficam mais sensíveis e soltos e a bandagem funciona como um suporte." Por fim, ajuda na cicatrização. "A compressão melhora a circulação e pode até ajudar a redistribuição de colágeno".

De fato, para situações pós-operatórias, esse tipo de tecnologia traz resultados importantes. Segundo o cirurgião plástico Fernando Lamana, as bandagens melhoram o resultado cirúrgico e dão mais conforto aos pacientes. "Como as bandagens e cintas faciais têm o objetivo de conter o inchaço do trauma cirúrgico, não há indicação fora desse contexto."

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Função pós-cirurgia

O efeito é benéfico para controlar o inchaço do pós-operatório de cirurgias faciais. Mas não há indicação de realizar drenagens faciais fora desse cenário. "Não há respaldo em nenhuma literatura científica robusta", diz o cirurgião. "O uso é uma tendência, não um tratamento médico."

Segundo o Lobato, a compressão estimula o sistema linfático, principalmente no pescoço e na mandíbula, regiões ricas em vasos linfáticos. "Pode reduzir o inchaço, melhorar a sensação de rosto pesado de uma noite mal-dormida ou de alimentação salgada."

Ele diz que pode até haver um efeito de lifting após o uso cosmético desse tipo de tecnologia. "Mas é um efeito passageiro, não muda o rosto de forma definitiva e não elimina gordura localizada", afirma. "É mais um truque momentâneo do que um tratamento de longo prazo." Se a causa do inchaço não for tratada, ele volta rápido, diz Lobato.

Debate sobre o excesso de cuidados com a pele

O novo produto engrossa um debate comportamental em torno do excesso de passos sendo adotados em rotinas noturnas de cuidados com a pele. Nas redes sociais, mulheres compartilham rotinas que incluem o uso de ácidos, hidratantes labiais e capilares, "taping" (a prática de tampar a boca com uma fita), uso de toucas e fronhas de cetim.

Skims

As criações da Skims são polêmicas, caso do sutiã com relevo que imita mamilos rijos. As cintas modeladoras da marca, dispositivo comum em linhas de lingerie, são criticadas por endossar o sacrifício feminino em prol de um corpo padronizado, magro e curvilíneo. Kardashian chegou a afirmar que comeria até cocô se isso a rejuvenescesse.