Até o ano de 2020, Luciana Alvim ganhava a vida dando aulas de costura. Um trabalho que, como tantos outros, se tornou impossível com a pandemia da Covid-19, que exigia medidas de isolamento físico para conter sua proliferação naqueles primeiros anos, quando as vacinas eram só um sonho distante. “Eu precisei dar um jeito, me virar”, recorda. Com tanta gente em casa, veio a ideia: confeccionar pijamas. E deu certo. “As pessoas começaram a pedir, porque não achavam nas lojas. Então, eu fiz muitas peças, enviei para o Brasil inteiro, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Manaus, no Amazonas”, recorda.
Agora, cinco anos depois, os pedidos continuam chegando, dando mostras que o pijama entrou mesmo no gosto da população. Para muitos, o item inclusive já ultrapassou os limites do espaço doméstico. Caso do cineasta Ramon Navarro, que gosta especialmente do conforto do sleepwear – tanto que veste essas peças mesmo que não seja para dormir.
“As pessoas do prédio (onde ele mora, no centro de BH) morriam de rir porque eu descia de pijama para ir no supermercado”, recorda ele sobre as reações quando foi tomando gosto pelo traje, por volta de 2021. Com o tempo, mais que saídas rápidas, passou a vestir esses itens também quando saia para almoçar em algum restaurante próximo de sua casa. Mais tarde, em 2023, ele se deu conta: já estava tão habituado, que foi com um conjunto de dormir preto, que havia ganhado, na abertura do Festival de Cinema de Trancoso.
Esse jeito de vestir já gerou alguma implicância. “Uma senhora já me disse que eu era ‘barango’”, conta Ramon. Mas o estilo também lhe rendeu elogios. “Uma vez, na Savassi, outra senhora me parou para dizer que me achava estiloso e que tinha adorado a ideia”, comenta. Ele não sabe se ela adotou os pijamas para suas saídas, mas conta que o namorado, por exemplo, também já naturalizou o costume de sair com “roupa de dormir”.
O cineasta mineiro, aliás, está longe de estar sozinho quando o assunto é vestir sleepwear em ocasiões alheias ao sono. Ao contrário, está muito bem acompanhado.
Em 2022, por exemplo, Angelina Jolie foi fotografada vestindo um pijama marrom em uma viagem. Mais recentemente, a tendência das “festas de pijama” realizadas por adultos ganhou tração nas redes sociais, virou tema da festa de casamento do bilionário Jeff Bezos com a jornalista Lauren Sánchez e inspirou campanhas publicitárias, como a da marca italiana Intimissimi, que realizou um evento do tipo em uma mansão em São Paulo, reunindo as atrizes Camila Queiroz e Giovanna Antonelli.
Há também marcas mirando o público masculino, como a grife Dolce & Gabbana, também italiana, que apresentou uma coleção do traje na Semana de Moda Masculina de Milão. Já a Zara, em um editorial divulgado pouco antes do Dia dos Pais, apresentou combinações híbridas, que podem ser usadas na cama, mas também na rua: os modelos usavam, por exemplo, bóxeres xadrezes, com jeito de pijama, conjugadas a itens como cardigãs canelados e até gabardinas e blazers. O efeito é um estilo despojado e confortável.
Do que é feito um bom pijama
Para Luciana Alvim, é justamente essa combinação – de despojamento e conforto – que torna a moda sleepwear tão atraente. “Isso vem desde a época da pandemia. As pessoas começaram a usar e não pararam mais, porque acho que já está interiorizado”, opina. E está interiorizado, insiste, por uma razão muito simples: “depois que você se acostuma e entende que pode a usar uma roupa mais larga, não tem mais como voltar atrás, porque se vestir bem é bom, mas se vestir bem e com aconchego é melhor ainda”.
A frente do Atelier Luciana Alvim, que ocupa uma loja no terceiro piso do Mercado Novo, na região central de Belo Horizonte, a designer hoje diversificou sua produção. “Mas sigo fazendo pijamas por encomenda”, ressalta, indicando que os conjuntos saem a partir de R$ 280, custando até R$ 380, a depender do modelo escolhido.
Luciana ainda indica sugere uma série de características que conferem qualidade a essas peças. “Para começar, o tecido tem que ser de algodão, que permita que a pele respire. Eu não uso poliéster de jeito nenhum, em respeito ao meu cliente e ao meio ambiente”, alerta.
Entre os itens mais pedidos estão o estilo americano, com bolsa no casaquinho e botões na parte da frente. “Pode ser feito com manga curta e short, manga longa e calça ou misturando as duas coisas – ou seja, manga curta e calça, manga loga e short”, descreve, enquanto acrescenta que, no inverno, os modelos que saem mais são de flanela.
As estampas variam muito. “Motivos que remetem à noite saem muito, como estrelas. Nuvens também são populares. E o xadrez é sempre o curinga do catálogo”, relata. O conjuntinho, claro, tem seu lugar. Mas, como apontam as coleções mais recentes de grandes marcas, a combinação de peças está cada vez mais em voga. “O casaquinho xadrez com uma calça em um tom que dialoga, por exemplo, o povo ama”, garante.