O novo mandato de Donald Trump na presidência dos EUA começa nesta segunda-feira (20/01) e, com ele, inicia-se também um novo capítulo na história dos direitos LGTBQIAPN+ no país mais poderoso do mundo. Ainda não se sabe quais medidas ele implementará na prática, mas seu plano de governo traz algumas pistas.

O site oficial da plataforma de governo de Trump lista 20 promessas para “tornar a América grande de novo”. Em duas, cita políticas que podem interferir na população LGBTQIAPN+. Em uma delas, promete “cortar fundos federais de qualquer escola que promova teoria racial crítica, ideologia radical de gênero e outros conteúdos raciais, sexuais ou políticos às nossas crianças”. Em outra, diz que “manterá homens fora dos esportes de mulheres”.

Nos EUA, as escolas são encaradas como um campo de batalha cultural neste momento. Republicanos da ala mais conservadora do partido acusam professores de impor ideologia progressista a crianças, o que tem sido chamado de “cultura woke” (do inglês para "despertar"). É um contraponto à gestão de Joe Biden, de saída da Casa Branca, que expandiu direitos da população LGBTQIAPN+ no ambiente escolar e ampliou, por exemplo, o acesso de pessoas trans aos banheiros do gênero com o qual se identificam.

Já a menção de Trump aos esportes é referência à pressão da direita norte-americana contra atletas trans. Grupos argumentam especialmente que mulheres trans não poderiam competir nas categorias femininas, e a ideia tem ganhado tração nos EUA. Tanto é que tramita no Congresso uma lei que bane atletas transexuais de equipes nas escolas e universidades norte-americanas.

Outras forças poderosas além dos políticos profissionais se articulam nos EUA. O bilionário Elon Musk, que foi convidado por Trump a integrar o governo, anunciou a mudança da sede de sua empresa SpaceX da Califórnia para o Texas. O deslocamento foi associado por ele a um protesto contra as leis californianas que impedem as escolas de revelar aos pais de estudantes trans a identidade de gênero dos filhos.

No início deste ano, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, dona do Facebook e do Instagram, anunciou mudanças na política de controle de posts em suas plataformas. Publicações que associem pessoas LGBTQIAPN+ a transtornos mentais ou que se refiram a pessoas trans como “it” — pronome em inglês utilizado para falar sobre coisas, e não pessoas — já não serão mais restringidos automaticamente.

Em entrevista a O TEMPO, a professora de comunicação social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Grupo de Estudos em Lesbianidades (GEL), Joana Ziller, avaliou que permitir discursos sobre gênero e orientação sexual se inflamem nas plataformas é uma estratégia ideológica e política para maquiar problemas mais graves — como a desigualdade econômica e social que perdura em todo o globo. “Olhamos para o mundo, e o ódio é muito grande, a desigualdade é muito grande. Isso existe e não é culpa do gênero e da sexualidade, da raça ou dos imigrantes. Temos que pensar onde está a raiz desses problemas, e é bobo e ingênuo pensar que voltar ao passado nos costumes nos levará a uma vida melhor”, conclui.