O cardeal mineiro Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito da Arquidiocese de Aparecida, falou, na tarde desta segunda-feira (21), sobre a amizade que ele tinha com o papa Francisco. O pontífice argentino faleceu nesta madrugada, horas após realizar a benção pascal, no domingo de Páscoa, na praça de São Pedro, em Roma. 

Em entrevista à GloboNews, Dom Raymundo afirmou que tinha uma relação 'muito próxima' com o papa Francisco. "Era uma pessoa muito simpática, acessível", resumiu o cardeal mineiro, de 88 anos, que não poderá votar no conclave - processo para escolha do novo papa. 

O religioso, porém, pode ser votado e participará das assembleias que discutirão o futuro da igreja católica, no Vaticano. Durante a entrevista, na tarde desta segunda-feira, Dom Raymundo Damasceno falou sobre a relação com o pontífice argentino e relembrou encontros. 

"Eu conheci o papa Francisco desde quando ele era arcebispo de Buenos Aires. Eu era secrerário do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho), depois me tornei presidente do Celam, de modo que tive alguns encontros com o papa Francisco", disse. 

"Tive o prazer de ser o anfitrião da quinta Conferência-Geral do Episcopado Latino-Americano e o papa Francisco era o delegado, claro, da Conferência Episcopal da Argentina para a quinta Conferência, com outros bispos da Argentina, e ali ele permaneceu 20 dias hospedados em um hotel, em Aparecida", relembrou. 

Dom Raymundo contou, ainda, detalhes de outra passagem de Bergoglio ao Brasil, desta vez em 2013, na primeira viagem de Francisco como papa, durante a Jornada Mundial da Juventude. Na ocasião, o pontífice esteve no Santuário Nacional de Aparecida. 

"Ele quis consagrar e entregar, à proteção de Nossa Senhora Aparecida, a Jornada Mundial da Juventude, que estava para realizar no Rio de Janeiro. Então, foram várias oportunidades de encontro com o papa Francisco", relembrou. 

Quando esteve no Brasil, em 2013, o papa Francisco se reuniu com seminaristas, padres e irmãs no seminário Bom Jesus. "Ficou apenas um dia em Aparecida, depois retornou para a Jornada Mundial no Rio de Janeiro. Lá, ele foi recebido pelos seminaristas, alguns padres, as irmãs de clausura que eu liberei, porque elas não saem normalmente do convento, para que fossem até o seminário saudar o papa", completou. 

No seminário, o papa Francisco almoçou com os religiosos, plantou um árvore de espécime Pau-Brasil e abençoou uma imagem de Frei Galvão. "Ele deixou essa marca, realmente, ao introduzir várias novidades e modificações no Vaticano". 

Quem é o cardeal? 

Dom Damasceno é natural de Capela Nova, cidade do interior de Minas, localizada na região do Campo das Vertentes. Atualmente com 88 anos, o religioso, pelas regras do Vaticano, não poderá votar para a escolha do novo pontífice, por ter mais de 80 anos, mas pode ser eleito ao posto mais alto da Igreja Católica. Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis esteve à frente da Arquidiocese de Aparecida de março de 2004 a janeiro de 2017 e se tornou arcebispo emérito. 

Neste período, foi nomeado presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e eleito presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Recebeu o Papa Bento XVI em 2007 e o Papa Francisco em 2013 no Brasil. Ele também foi responsável pela criação do Santuário Arquidiocesano de Santo Antônio de Sant'Ana Galvão, em Guaratinguetá, e abriu as comemorações dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Como Cardeal, Dom Damasceno foi nomeado, em 2019, pelo Papa Francisco como Comissário Pontifício junto aos ‘Arautos do Evangelho’. A justificativa é de que o grupo tinha deficiências e, então, passou a ser acompanhado pelo religioso. Além da extensa trajetória na igreja, o bispo também elegeu-se membro da Academia Brasiliense de Letras em novembro de 2003.