O governo da Argentina apresentou os resultados de uma investigação que aponta a presença de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) operando no país. Em uma entrevista coletiva nesta terça-feira (5), a ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich, disse que a investigação detectou 28 pessoas ligadas à facção, com oito delas já detidas. Outras estão foragidas ou com pedido de expulsão e extradição.

Em maio, agentes da Fuerza Especial de Lucha contra el Crimen da Bolívia, em parceria com a Polícia Federal brasileira, prenderam Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, que estava foragido e já chegou a ser apontado como o número 1 da facção criminosa PCC fora dos presídios.

De acordo com o governo argentino, foram identificadas práticas da organização criminosa em prisões argentinas, como cerimônias de iniciação em que novos membros recebem um número de registro, similar ao que ocorre no Brasil. Exemplos disso incluem facções da Grande Rosário e um membro do PCC no presídio de Ezeiza, na Grande Buenos Aires.

Também foram citados Elvis Riola de Andrade e Sebastián Marset, envolvidos em tráficos intercontinentais de cocaína que passam pela Argentina.

Segundo a ministra, a investigação do PCC na Argentina buscará determinar "quantos são, onde estão", além de construir um plano sobre "como vamos procurá-los".

O evento tratou da nova estrutura do DFI (o recém-criado departamento de investigações), que transformará toda a operação da polícia em uma agência investigativa, com foco na luta contra gangues de crime organizado atuando no país.

A conferência contou com a presença do chefe do DFI, Pascual Bellizi, a secretária de Segurança, Alejandra Monteoliva, e do chefe da Polícia Federal, Alejandro Rollé.

"Impedir que se estabeleçam"

Segundo Bellizzi, não há uma infiltração importante do PCC na Argentina, em comparação com outros países da região, mas o objetivo é "impedir que eles se estabeleçam no país a todo custo, porque são organizações muito violentas e trazem consigo crimes".

O anúncio ocorre apenas quatro dias após a captura de Fábio Rosa Carvalho, 41, da facção Os Manos, que é ligada ao PCC. Ele foi preso na última sexta-feira (1º) no bairro de Caballito, em Buenos Aires.

A captura foi confirmada pelo governo argentino, e o Ministério da Segurança informou que está promovendo a extradição do homem, conhecido como "Fábio Nóia".

Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, tratava-se de um dos principais foragidos do estado. O detido tem antecedentes por tráfico de drogas, roubo e homicídios.

Carvalho foi beneficiado pelo uso de tornozeleira eletrônica em outubro de 2022. No entanto, rompeu o dispositivo em fevereiro de 2023 e passou à condição de foragido.

Ele é apontado como uma das principais lideranças da maior organização criminosa gaúcha, oriunda da região do Vale dos Sinos.

A Polícia Civil suspeitou de que ele pudesse estar no país, após um período na Bolívia, e entrou em contato com a divisão de Investigações Criminais da polícia argentina.

Em Buenos Aires, foram feitas diligências na semana passada, até que se confirmou que o homem estava em um apartamento do bairro portenho. Os agentes dos dois países acompanharam o deslocamento do foragido até uma barbearia, momento em que foi abordado e capturado pelas forças de segurança.

Fábio Nóia foi conduzido ao sistema prisional de Buenos Aires, para transferência até a cidade de Córdoba, onde tramitará seu processo de extradição para o Brasil. Ele não esboçou reação e não foram encontrados objetos ilícitos com ele.

Segundo o delegado Gabriel Lourenço, que coordenou a ação, a operação é um marco no enfrentamento ao crime organizado na região.

"Não tinha conhecimento do dado apontando a presença de 28 integrantes do PCC na Argentina, mas sem dúvida as ações integradas são fundamentais para o enfrentamento do crime organizado, cada vez mais globalizado", diz.