Morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, José Mujica, ou ‘Pepe’ Mujica, ex-presidente do Uruguai. O ex-guerrilheiro enfrentava sua última batalha: contra um câncer no esôfago, descoberto no fim de abril de 2024. Mujica é reconhecido mundialmente por suas declarações, atos progressistas e por inspirar a esquerda na América Latina.
José Alberto Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, no Uruguai. Descendente de bascos e italianos, filho de pequenos agricultores, cresceu em um bairro operário da cidade e perdeu o pai ainda criança, aos 7 anos, sendo criado somente pela sua mãe, Lucy Cordano. Na juventude, trabalhou como florista para ajudar nas finanças da casa.
Mujica começou sua vida política no Partido Nacional. Em 1962, deixou o partido e criou um grupo chamado União Nacional, que trabalhava junto ao Partido Socialista. Posteriormente se aliou ao Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, que, de forma armada, lutava contra o governo autoritário no país - e se tornou um dos seus dirigentes. Durante seu comando, em 8 de outubro de 1969, participou da chamada "tomada de Pando", cidade que fica a 35 km de Montevidéu, ação que terminou com a morte de um civil, um policial e três guerrilheiros.
Pouco tempo depois, ele quase morreu ao preparar um assalto a uma família rica de Montevidéu. Segundo versões sobre o caso, durante confronto com policiais, Mujica levou seis ou sete tiros e foi salvo por um milagre.
Depois disso, acabou preso por 14 anos, sendo 11 dentro de um calabouço, em condições degradantes. Ele chegou a fugir em 1971, junto com outros 110 presos em uma das maiores fugas da história, por meio de um túnel. Mas foi recapturado em 1972 pela ditadura, que chegou a pedir aos Tupamaros o encerramento das atividades em troca de sua vida. Mujica só saiu da prisão após a anistia, decretada em 1985, e criou o grupo Movimento de Participação Política (MPP), dentro da coalizão Frente Ampla.
Em 1994, foi eleito deputado. Depois, em 1999, senador. Em 2004, seu grupo se tornou majoritário dentro da Frente Ampla. Em 2005, tornou-se ministro da Agricultura do governo Tabaré Vázquez. Em outubro de 2009, Mujica foi eleito presidente e tomou posse em março de 2010. Ao lado de sua esposa, Lucía Topolansky, recusou-se a morar no palácio presidencial, preferindo continuar a viver em seu pequeno sítio, na periferia da capital, cultivando flores. Mujica era crítico do capitalismo e questionava a sociedade do consumo.
Um dos marcos de seu governo foi a aprovação das leis que legalizaram a venda de maconha no país e o aborto. Além disso, aprovou ainda, em 2013, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em virtude de seu estilo de vida e suas declarações humanistas, Mujica se tornou um dirigente conhecido mundialmente. Ele chegou a ser, inclusive, considerado o presidente mais pobre do mundo.
Após sair da presidência, foi eleito senador, cargo que ocupou até 2020, quando se afastou de vez da política. No entanto, continuou ativo nos debates de interesse da esquerda no país enquanto pôde. Uma de suas últimas aparições públicas ocorreu durante o evento de posse de Yamandú Orsi, candidato da Frente Ampla no Uruguai, em 2 de março de 2025.