Os 133 cardeais da Igreja Católica iniciaram nesta quarta-feira (7) o processo de escolha do novo papa, em uma instituição onde as mulheres representam mais da metade do 1,3 bilhão de fiéis mundiais, mas continuam impedidas de votar na eleição papal, tornarem-se cardeais ou celebrarem missas. Estas restrições históricas mantidas pelo Vaticano bloqueiam a participação feminina nos níveis hierárquicos superiores da instituição religiosa.
O papa Francisco, durante seus 12 anos de pontificado, nomeou sete mulheres para posições de média e alta relevância no Vaticano. A irmã Raffaella Petrini ocupa atualmente a presidência do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, posição que a torna a mulher com cargo mais elevado na Santa Sé, respondendo diretamente ao pontífice.
A manutenção de tradições centenárias e a resistência de setores conservadores explicam a persistência das limitações à participação feminina. Francisco sinalizou que ampliaria a presença de mulheres em cargos de comando, mas manifestou apoio à proibição do sacerdócio feminino estabelecida por João Paulo II em 1994.
As mulheres católicas, embora majoritárias entre os fiéis, permanecem excluídas da hierarquia eclesiástica formada por diáconos, padres, bispos, arcebispos, cardeais e o papa. Esta exclusão ocorre tanto no Estado do Vaticano quanto nas dioceses espalhadas pelos países onde a Igreja está presente.
Contraste
Os dados do anuário da Santa Sé de 2022 revelam um contraste significativo: aproximadamente 600 mil mulheres trabalham para a Igreja Católica globalmente, enquanto os homens somam menos de 50 mil. Apesar desta predominância numérica feminina, os cargos com poder decisório permanecem inacessíveis às mulheres.
Cerca de 200 católicas ao redor do mundo desafiam as normas eclesiásticas ao serem "ordenadas" por outras mulheres e celebrarem missas, mesmo arriscando a excomunhão. Movimentos de mulheres católicas nos Estados Unidos e em outros países organizam-se para defender reformas na estrutura da Igreja.
"O legado do papa Francisco sobre o lugar das mulheres na Igreja... é complexo", afirmou a professora da Universidade de Durham, no Reino Unido, Anna Rowlands à agência de notícias Reuters. "Ele fez mais do que qualquer outro pontífice para garantir que as mulheres fossem incluídas em maior número e em posições de maior autoridade. No entanto, a maior parte dessa mudança ocorreu precisamente dentro dos parâmetros existentes, flexibilizando o sistema um pouco", disse Rowlands, também colaboradora eventual do Vaticano.
A católica italiana Paola Lazzarini, integrante do movimento de mulheres católicas que defendem reformas, declarou: "Francisco foi o primeiro papa a ter plena consciência de que a Igreja sofre de um desequilíbrio flagrante e profundamente injusto. Mas sua maneira de responder a essa injustiça foi fazer nomeações individuais e estabelecer comissões que se estendiam indefinidamente e não levavam a nada".
Entre as nomeações femininas realizadas por Francisco durante seu pontificado (2013-2025) está a religiosa francesa Nathalie Becquart, designada Subsecretária do Sínodo dos Bispos, tornando-se a primeira mulher com direito a voto em uma assembleia sinodal. Francesca Di Giovanni foi nomeada subsecretária do Setor Multilateral da Seção para as Relações com os Estados, inaugurando a presença feminina em cargo diplomático no Vaticano.
O papa também designou a irmã Alessandra Smerilli como secretária do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Barbara Jatta assumiu a direção dos Museus do Vaticano e a brasileira Cristiane Murray tornou-se vice-diretora da Sala de Imprensa do Vaticano. A freira Simona Brambilla foi nomeada prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, uma importante organização da Santa Sé.
Três cardeais considerados favoritos para suceder Francisco demonstram apoio à ordenação de mulheres: Joseph William Tobin, dos Estados Unidos, Juan José Omella Omella, da Espanha, e Mario Grech, de Malta.