Os promotores do processo que condenou a ex-presidente argentina Cristina Kirchner por corrupção pediram ao tribunal que não lhe conceda prisão domiciliar para cumprir uma pena de seis anos, informaram fontes judiciais nesta terça-feira (17).
Os promotores Diego Luciani e Sergio Mola, considerarem que "as razões humanitárias que a justificam não são evidentes", segundo o parecer divulgado pelo Ministério Público Fiscal.
Kirchner, de 72 anos, pode solicitar o benefício por ter mais de 70 anos, mas a decisão fica a critério dos juízes.
A defesa também alegou razões de segurança, citando a tentativa de assassinato que sofreu em 2022, quando um homem tentou atirar à queima-roupa em sua cabeça, mas o disparo falhou.
Se os juízes atenderem ao pedido da acusação, Kirchner cumprirá pena em uma prisão comum.
Cristina Kirchner, presidente do Partido Justicialista e principal líder da oposição, anunciou que se apresentará à Justiça na quarta-feira para começar a cumprir sua pena.
Apoiadores da duas vezes presidente (2007-2015) e vice-presidente (2019-2023) convocaram uma marcha maciça até o tribunal na quarta-feira, com delegações de várias partes do país.
O tribunal que julga o caso pode notificar Kirchner remotamente para evitar sua presença acompanhada de uma grande mobilização popular.
"Não está sozinha"
Nas portas da casa de Kirchner, a presença de apoiadores é constante, apesar das baixas temperaturas do inverno austral.
"Venho de Rosario, 340 km ao norte de Buenos Aires, vim de trem com a bicicleta e trouxe o saco de dormir para passar a noite aqui e amanhã acompanhar a marcha", contou à AFP Huara Gatti, de 33 anos e funcionária da área de Cultura da prefeitura de Rosario.
Os manifestantes compartilham mate, uma infusão típica, e outras bebidas quentes para amenizar o frio. "É preciso estar aqui porque é um momento muito importante, muito triste, doloroso. É uma forma de dar um abraço à distância e que ela saiba que não está sozinha", disse Gatti.
Alguns decidem ficar, outros passam para expressar apoio e continuam com suas atividades. Motoristas buzinam em sinal de solidariedade, mas há também quem grite contra os manifestantes: "Vocês todos vão acabar presos!".
"Eles têm tanto ódio, querem a foto, estão fazendo tudo para vê-la com tornozeleira eletrônica, com o cartaz de presa, querem o mórbido", reflete Gisela Cava, uma vendedora de 45 anos que usa uma camiseta com a frase de Kirchner "A pátria é o outro".
- Fraude -
O chefe de gabinete, Guillermo Francos, avaliou nesta terça-feira que "a reação inicial (da militância peronista) não será a mesma ao longo do tempo".
"Teremos que ver se isso se torna um espetáculo permanente. Esse não é o objetivo de uma condenação judicial", acrescentou em declarações ao canal A24.
Na última terça-feira, a Suprema Corte confirmou a pena de seis anos de prisão e a inabilitação perpétua contra Kirchner por fraude em contratos públicos na província de Santa Cruz, no sul do país.
A decisão foi tomada dias após a ex-presidente anunciar sua candidatura a deputada nas legislativas provinciais de Buenos Aires, em setembro. Se eleita, obteria imunidade legislativa por quatro anos.
A Suprema Corte, composta por três membros e com duas cadeiras vagas, recusou-se a revisar o caso, conforme solicitado por Kirchner, alegando parcialidade e falta de provas.
O presidente ultraliberal Javier Milei tentou preencher as vagas na Corte nomeando dois juízes por decreto, mas a decisão foi rejeitada pelo Congresso.
Kirchner pediu para cumprir sua pena em um apartamento no bairro de Constitución, na capital argentina, a poucos minutos do Congresso Nacional.