O filho de Adriana Smith, enfermeira negra com morte cerebral que estava sendo mantida há quatro meses devido à lei antiaborto da Geórgia, nos Estados Unidos, nasceu na última semana através de uma cesariana de emergência. O bebê, chamado Chance, pesa cerca de 830 gramas e está na unidade de terapia intensiva neonatal, informou a família.

A mãe de Smith, April Newkirk, comentou à emissora WXIA sobre o estado de saúde do recém-nascido. "Ele deve ficar bem. Ele está apenas lutando. Só queremos orações para ele. Continuem orando por ele", declarou a avó.

Smith estava hospitalizada desde fevereiro, quando buscou tratamento para dores de cabeça severas. A família planejava descontinuar o suporte de vida para a mulher, agora que tinham autorização para tal. Familiares foram obrigadas a manter Smith viva sob a proibição quase total de aborto do estado, conhecida como LIFE Act, que proíbe abortos após seis semanas de gravidez, com exceções limitadas.

Smith, que completaria 31 anos no domingo (15 de junho), também tem um filho mais velho. "É meio difícil, sabe. É difícil de processar", acrescentou a mãe da enfermeira.

Caso chocante

A paciente inicialmente procurou atendimento no Hospital Northside, mas foi liberada com medicação. Posteriormente, foi levada ao Hospital Emory Decatur e transferida para o Hospital da Universidade Emory, onde uma tomografia computadorizada revelou múltiplos coágulos sanguíneos em seu cérebro.

O Gabinete do Procurador-Geral da Geórgia afirmou em maio que nada na Lei LIFE "requer que profissionais médicos mantenham uma mulher em suporte de vida após a morte cerebral", segundo reportou a WXIA. O órgão disse que remover um paciente do suporte de vida "não é uma ação com o propósito de interromper uma gravidez."

O senador estadual republicano Ed Setzler, que patrocinou a lei de 2019, disse à Associated Press que apoiava as ações do hospital. "Acho totalmente apropriado que o hospital faça o que puder para salvar a vida da criança. Acho que esta é uma circunstância incomum, mas acho que destaca o valor da vida humana inocente. Acho que o hospital está agindo apropriadamente."

A Emory Healthcare declarou no mês passado que "usa consenso de especialistas clínicos, literatura médica e orientação legal para apoiar nossos provedores enquanto fazem recomendações de tratamento individualizadas em conformidade com as leis de aborto da Geórgia e todas as outras leis aplicáveis". 

A mãe de Smith expressou angústia no período em que o caso gerou repercussão. "Ela está respirando por máquinas há mais de 90 dias. É uma tortura para mim. Vejo minha filha respirando, mas ela não está lá. E o filho dela — eu o levo para vê-la", declarou sobre o neto mais velho.

Ela também manifestou preocupação com a saúde do bebê, pois os médicos informaram que ele tem líquido no cérebro."[Adriana] está grávida do meu neto. Mas ele pode ser cego, pode não conseguir andar, pode não sobreviver", disse a mãe de Smith à WXIA. Ela também lamentou: "Esta decisão deveria ter sido deixada para nós. Agora ficamos imaginando que tipo de vida ele terá — e seremos nós que vamos criá-lo".