Após a "devastação" que os Estados Unidos alegaram ter infligido às instalações nucleares do Irã, Israel atacou Teerã novamente nesta segunda-feira(23) com uma "força sem precedentes". A República Islâmica prometeu retaliação aos bombardeios americanos de domingo (22, sábado no Brasil).

China, Estados Unidos e UE temem que o Irã feche o Estreito de Ormuz, por onde transita um quinto da produção de petróleo iraniano.

Bombardeios "sem precedentes" contra Teerã

Nesta segunda-feira, quando completaram 11 dias de guerra entre o Irã e Israel, e um dia após a intervenção dos EUA, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarou que seu exército está "atacando Teerã com uma força sem precedente".

Entre os alvos dos bombardeios está a Penitenciária de Evin, onde estão detidos presos políticos, opositores e estrangeiros. Estes presídios são conhecidos pelos maus-tratos e detenções.

A autoridade judicial iraniana confirmou que os bombardeios israelenses atingiram esta prisão localizada na capital, Teerã, e que os danos foram relatados em algumas partes da instalação.

As Aeronaves israelenses também atingiram o quartel-general da Guarda Revolucionária Iraniana, segundo o general Effie Defrin, porta-voz do Exército israelense.

Israel também atacou novamente as instalações nucleares de Fordo, enterradas sob uma montanha ao sul de Teerã, para "bloquear as vias de acesso", segundo o Exército. Esses ataques danificaram uma instalação de fornecimento de energia na capital iraniana e causaram breves cortes de energia.

Irã alerta para "extensão da guerra"

Em consequência dos ataques americanos com bombardeiros furtivos no domingo, que lançaram bombas destruidoras de bunkers pela primeira vez, o Exército iraniano alertou Washington para o risco de uma "extensão da guerra" na região.

"Os combatentes do islã infligirão consequências graves e imprevisíveis com poderosas operações (militares)", ameaçou o porta-voz das Forças Armadas iranianas, Ebrahim Zolfaghari, na televisão estatal.

Um assessor do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, afirmou que os Estados Unidos "não têm mais espaço" no Oriente Médio e "devem enfrentar consequências irreparáveis".

Citado pela agência de notícias oficial IRNA, o assessor anunciou que as bases utilizadas pelas forças americanas nos países do Golfo serão consideradas alvos "legítimos".

Preocupação com Estreio de Ormuz

Pequim instou todas as partes envolvidas no conflito para "evitar com determinação a propagação da guerra e retornar ao caminho de uma solução política". O gigante asiático, que importa petróleo iraniano, também alertou para o impacto da guerra na economia global e no comércio internacional no Golfo.

Sobre esta questão, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, instruiu a China a ajudar a dissuadir o Irã de fechar uma importante rota comercial do Estreito de Ormuz, por onde passa 20% da produção global de petróleo bruto.

Perto do Estreito de Ormuz seria “extremamente perigoso”, alertou a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas. Cerca de 84% do petróleo que transita por essa rota na costa do Irã tem como destino China, Índia, Coreia do Sul e Japão.

Ataques israelenses, alerta de mísseis iranianos

No 11º dia da guerra entre o Irã e Israel, o Exército israelense anunciou que bombardeou locais de lançamento e armazenamento de mísseis terra-terra na província de Kermanshah, no oeste do Irã.

Enquanto isso, o Exército israelense informou que sirenes de alerta soaram em várias regiões de Israel após vários salvamentos de mísseis terem sido lançados no Irã. Jornalistas da AFP ouviram fortes explosões no norte de Teerã, capital iraniana.

Diplomacia ou "mudança de regime"

O presidente russo, Vladimir Putin, chamou os ataques a Teerã de “agressão” injustificada, após receber em Moscou o chanceler iraniano Abbas Araqchi, cujo país é aliado da Rússia.

Para Araqchi, os Estados Unidos "traíram a diplomacia" ao atacar o Irã dois dias antes de uma nova rodada de negociações sobre o programa nuclear iraniano, marcada para 14 de junho em Omã.

O presidente Donald Trump sugeriu no domingo que uma “mudança de regime” no Irã é possível. 

"Não é politicamente correto usar o termo 'mudança de regime', mas se o atual regime iraniano não consegue tornar o Irã grande novamente, por que não haveria mudança de regime? MIGA!!!", publicou Trump em sua plataforma Truth Social, brincando com sua famosa sigla MAGA, o nome do movimento ultraconservador americano "Make America Great Again".

AIEA quer ver instalações nucleares

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) solicitou acesso às instalações nucleares do Irã nesta segunda-feira para avaliar o estoque de urânio altamente enriquecido, próximo ao limite para a fabricação de uma bomba atômica.

“Devemos permitir que os inspetores retornem ao local e verifiquem o estoque de urânio, especialmente os 400 kg enriquecidos a 60%”, disse Rafael Grossi no início de uma reunião de emergência da agência em sua sede em Viena, Áustria.

Ele revelou que Teerã lhe escreveu em 13 de junho, dia do ataque israelense, pedindo "medidas especiais para proteção de equipamentos e materiais nucleares".

Ciclo interminável de "retaliação"

Numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU no domingo, o secretário-geral António Guterres anunciou que o mundo corre “risco” de entrar em “um ciclo de retaliação após retaliação”.