Donald Trump aplica tarifas de importação contra outras nações sob a justificativa de proteger a economia dos EUA — o mesmo argumento que ele utiliza em sua perseguição aos imigrantes no país. Em um mercado globalizado, porém, os efeitos da estratégia tarifária são complexos e podem resultar em preços mais caros para os próprios norte-americanos.
A taxa de inflação de junho do país será divulgada nesta terça-feira (15/7). No acumulado de 12 meses divulgado em maio, ela permanecia estável, marcando 2,4%, com variação mínima em relação a abril. Veículos internacionais e especialistas, porém, já alertam sobre o risco de ela se acelerar nos próximos meses.
O entendimento é que os preços não subiram imediatamente devido à complexidade das cadeias logísticas. Muitos dos produtos exportados para os EUA já estavam embarcados em navios antes de as taxas começarem a valer, por exemplo — as primeiras foram iniciadas em fevereiro, mas os volumes mais significativos de tarifas começaram em abril. Além disso, fornecedores internacionais e domésticos podem absorver parte do aumento de custos para não perder as vendas e também ampliaram seus estoques desde o início do ano.
O economista e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan exemplifica como a taxa de 50% sobre os produtos brasileiros pode impactar diretamente o bolso dos norte-americanos. “Começando por algo simples, o café da manhã dos americanos. Aproximadamente 30% do atendimento da demanda de café nos Estados Unidos é do café brasileiro, não torrado, adaptado exatamente a uma estrutura produtiva americana. Será impossível repor de uma hora para a outra 30%. Com tarifa, portanto, o preço subirá. Não é diferente com o suco. Os americanos têm um hábito adquirido há décadas de tomar suco no café da manhã. A parcela brasileira no atendimento desse produto é de 70%. Dependendo da época do ano, é até maior. Logo ao despertar, a inflação baterá à porta de cada americano”.
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A meta de inflação dos EUA é de 2%, mas as estimativas atuais apontam para 3%. É uma diferença que pode significar um freio no crescimento do país neste ano. Uma das causas que aumenta essa pressão é a contenção do consumo pelos norte-americanos, sublinha o professor Leonardo Trevisan.
“A economia é uma ciência que lida com expectativas. Ao ler os jornais e ver os telejornais à noite, qualquer consumidor americano se preocupa e contém o consumo. Esse fato já teve impacto na economia americana. A inflação será o impacto seguinte”, diz ele. “É impossível não admitir que taxações da ordem de 50% interfiram na inflação doméstica norte-americana”, conclui.