A aviação comercial mundial mantém uma tendência consistente de redução no número de acidentes entre 2005 e 2023, segundo dados da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) e do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) dos EUA. A análise realizada pela BBC Verify contradiz a percepção de um suposto aumento na frequência de desastres aéreos nos últimos meses.

Usuários de plataformas digitais têm sugerido que acidentes aéreos estariam ocorrendo com maior frequência, mas os registros oficiais mostram o contrário. Conforme investigação conduzida pela BBC Verify, o transporte aéreo continua sendo o meio de deslocamento mais seguro, com estatísticas de incidentes em queda nas últimas duas décadas.

David Spiegelhalter, professor emérito de Estatística da Universidade de Cambridge, explicou à BBC Verify por que as estatísticas de mortalidade podem variar drasticamente. "Se você conta o número de mortes em vez do número de acidentes, é inevitável que o resultado seja extremamente volátil e sensível a um único grande acidente", disse.

A percepção de aumento nos acidentes pode estar relacionada à ampla cobertura midiática e à rápida disseminação de imagens nas redes sociais. Uma pesquisa da Associated Press em fevereiro indicou que essas imagens afetaram parcialmente a confiança dos consumidores americanos no transporte aéreo.

Os especialistas alertam que ver conexões entre acidentes recentes pode levar a conclusões equivocadas. "Eventos aleatórios não acontecem de forma uniforme — eles tendem a se agrupar. Então, infelizmente, podemos esperar que acidentes aéreos pareçam estar conectados, mesmo quando não estão", afirmou Spiegelhalter.

Ismo Aaltonen, ex-chefe de investigação de desastres aéreos da Finlândia, compartilha essa visão. "Foi muito azar termos esse período com tantos tipos diferentes de acidentes, mas as pessoas não deveriam tirar conclusões com base nisso porque são casos muito distintos", declarou.

Marco Chan, ex-piloto e professor sênior na Universidade Nova de Buckinghamshire, na Inglaterra, observa que "os acidentes estão recebendo cada vez mais exposição nas plataformas de mídia social", contribuindo para uma percepção distorcida sobre esses eventos.

A ICAO classifica como acidentes aéreos não apenas casos com feridos graves ou mortes, mas também incidentes onde a aeronave sofre danos que necessitam reparos ou quando desaparece. Os registros de fatalidades em acidentes aéreos globais também mostram queda no período analisado, com aumentos pontuais em anos específicos devido a grandes desastres.

Em 2014, houve um aumento nas estatísticas de mortes devido a dois eventos com a Malaysian Airlines: o desaparecimento do voo MH370 em março, com 239 pessoas a bordo durante trajeto entre Kuala Lumpur e Pequim, e a queda do voo MH17 em julho, atingido por um míssil de fabricação russa no leste da Ucrânia, causando quase 300 mortes.

Os dados do NTSB indicam que nos EUA, os acidentes aéreos registrados em janeiro de 2025 totalizaram 52 ocorrências, número inferior ao mesmo período de 2024 (58) e de 2023 (70), confirmando a tendência de redução.

Entre os acidentes recentes que chamaram atenção mundial está o desastre com um avião da Jeju Air na Coreia do Sul em dezembro de 2024, que resultou em 179 fatalidades. Em janeiro de 2025, uma colisão entre um helicóptero e uma aeronave da American Airlines próximo a Washington D.C. causou 67 mortes. Mais recentemente, um voo da Air India caiu logo após decolar em Ahmedabad, resultando em 241 mortes entre as 242 pessoas a bordo.

As estatísticas do Departamento de Transportes dos EUA mostram que em 2022, mais de 95% das mortes relacionadas a transporte no país ocorreram nas estradas, enquanto menos de 1% estava associada a viagens aéreas. O National Safety Council (NSC) registrou apenas 0,001 morte de passageiro por 100 milhões de milhas voadas (161 milhões de quilômetros) em companhias aéreas americanas, em comparação com 0,54 mortes em veículos de passageiros no mesmo período.

A Organização Mundial da Saúde compilou dados sobre mortalidade no trânsito em 2021, identificando os países com as maiores taxas: Guiné (37,4 mortes por 100 mil habitantes), Líbia (34,0) e Haiti (31,3).

Aaltonen oferece uma recomendação para viajantes: "Tenha cuidado ao fazer o trajeto até o aeroporto. Essa é a parte mais perigosa da viagem, se comparada ao próprio voo."