Ignorando o ultimato de Donald Trump por um cessar-fogo, o governo de Vladimir Putin lançou mais um mega-ataque contra a Ucrânia nesta quarta-feira (16/7), com uma barragem de 400 drones e um míssil que atingiu alvos de sua infraestrutura energética.

Em Kiev, as dúvidas sobre a ajuda militar prometida pelo presidente americano especialmente em relação aos 50 dias dados a Putin para pactuar uma trégua com os rivais invadidos em 2022. Ninguém sabe dizer ao certo, ao menos publicamente, quais armamentos, em que quantidade e quando chegarão.

Enquanto esse hiato persiste, os russos atacam. Houve ataques contra 12 localidades na Ucrânia, resultando em 15 feridos. Um grande incêndio eclodiu em Kharkiv (norte), a segunda maior cidade do país, e houve grandes explosões em Kramatorsk (leste) e Krivii Rih (centro), terra natal do presidente Volodimir Zelenski.

Lá, um apagão atingiu cerca de 80 mil pessoas, e outras regiões também registraram falta de energia. Mais tarde, já no fim da tarde (fim da manhã no Brasil), 2 pessoas morreram e 27 ficaram feridas quando uma bomba planadora atingiu um shopping em Dobropillia, em Donetsk (leste), região onde os russos conquistaram mais duas vilas.

Em contrapartida, destroços de 1 dos 15 drones abatidos pela Rússia nesta quarta mataram uma pessoa em Voronej, cidade ao sul de Moscou. A violência da guerra aérea tem impulsionado geral do conflito. Ela coincide com a volta de Trump à Casa Branca, em janeiro, refletindo as oscilações do posicionamento

Ele primeiro aproximou-se de Putin e retomou negociações. Após idas e vindas, e um impasse sobre termos para uma trégua, Trump resolveu dar um ultimato na segunda-feira (14): se o russo não parar a guerra até setembro, será submetido a sanções que pode atingir países que compram seu petróleo e derivados, como China, Índia e Brasil.

Parte da tática é de pressão, com a OTAN (aliança militar ocidental) solicitando que os governos dessas nações potencialmente afetadas, todos parceiros de Putin no bloco Brics, pressionem o Kremlin a aceitar negociar.

Enquanto isso se desenrola, Trump prometeu dar defesas antiaéreas para Kiev dentro de um novo esquema, no qual os EUA venderiam as armas para países europeus da Otan, que por sua vez as repassariam para Kiev.

Seria uma forma de dividir o custo da ajuda militar americana, sendo de longe a maior entre as dos aliados de Zelenski. O próprio Trump não liberou um centavo novo de apoio desde que assumiu, apenas mantendo e ocasionalmente pausando entregas contratadas no governo de Joe Biden.

Segundo a Inteligência Militar da Ucrânia, não há clareza sobre o que será de fato enviado. Trump falou em 17 sistemas Patriot, o caríssimo sistema antiaéreo capaz de derrubar mísseis lançados contra os ucranianos.

No entanto, não está claro se ele se referia a baterias, que têm de 6 a 8 lançadores cada, ou às unidades que disparam os mísseis. Nenhum país da Otan tem 17 baterias além dos Estados Unidos, que operam ao todo 468 lançadores.

Dos sete países europeus da aliança equipados com o modelo, a Alemanha é quem tem mais lançadores, com 90 unidades, ou seja, talvez 15 baterias. Berlim declarou-se disposta a fornecer duas de suas baterias, fora do esquema de Trump, mas isso demorará ao menos dois meses por questões técnicas.

Analistas estimam que seis baterias estejam à disposição de Zelenski hoje, e o presidente ucraniano disse que precisava de ao menos mais sete para se defender dos mísseis.

Não é nenhuma panaceia, em todo caso. Os Patriot não são usados contra os drones lançados às centenas todas as noites pelos russos, pelo simples motivo de que cada um dos mísseis que dispara pode custar até US$ 4 milhões, em comparação com máquinas simples de US$ 25 mil, por vezes.

O combate a esses drones fica a cargo de sistemas mais simples de baixa altitude, com eficácia razoável, mas longe de perfeita. Segundo Kiev, dos 400 drones lançados nesta quarta, entre modelos de ataque e iscas para gastar defesa aérea, 198 foram derrubados e 145 se perderam devido a contramedidas eletrônicas.

Na terça-feira (15), Trump teve de ir a público solicitar que Zelenski não ataque Moscou, após o jornal britânico Financial Times relatar uma conversa entre os dois na qual o americano sugeria tal ação, recebendo em resposta que, para isso, seriam necessários mísseis de longo alcance dos EUA.

A Inteligência Militar ucraniana confirmou ter havido discussão, sem avanço, acerca dos poderosos mísseis de cruzeiro Tomahawk, e circulam especulações sobre outros modelos. Trump disse que esse fornecimento não está sendo estudado agora, enquanto o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que pode vir a ocorrer.

Moscou por ora observa. O porta-voz do Kremlin, Dimtri Peskov, disse nesta quarta que o país monitora o envio das armas. Até aqui, Putin mesmo não falou sobre o ultimato, rejeitado como tal pela chancelaria russa, que, no entanto, declarou-se aberta a mais negociações. a mais negociações.

No campo político, o Parlamento da Ucrânia aprovou nesta quarta a demissão do premiê Denis Chmihal, que estava no cargo desde 2020, iniciando uma troca de posições no governo proposta por Zelenski.

Ela ampliará os poderes de seu já influente chefe de gabinete Andrii Iermak, visto em Moscou como um dos mais belicosos membros do governo. Ele é o padrinho político da nova primeira-ministra, Iulia Sviridenko, que deverá ser aprovada a seguir. Chmihal poderá assumir a pasta da Defesa, por sua vez.