O encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, afirmou que o governo norte-americano tem interesse nos materiais críticos em solo brasileiro. O tema foi debatido nesta quinta-feira (24) em encontro com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que representa mineradoras atuantes no Brasil.
No encontro, Escobar demonstrou atenção à Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos, que o governo brasileiro está elaborando, além das iniciativas parlamentares relacionadas ao tema. O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) reforçou nessa quarta-feira (23) que o plano está sendo finalizado.
Os representantes das empresas já ouvem o interesse dos EUA nesses materiais desde o governo Biden, e três meses atrás tiveram uma reunião semelhante também com Escobar. Os materiais interessam aos americanos para diferentes propósitos, inclusive para a indústria da defesa.
Eles não ouviram das falas de Escobar uma ligação direta entre o tema e a negociação sobre o tarifaço anunciado por Donald Trump. Mesmo assim, viram, dado o contexto das relações entre os dois países, uma chance de o assunto entrar nas negociações sobre a pauta de importações e exportações.
Mesmo assim, os representantes empresariais ressaltaram que qualquer interesse do governo norte-americano no assunto deve ser relatado diretamente ao governo brasileiro. Isso porque a União, pela Constituição Federal, é quem decide sobre o uso do subsolo nacional.
A princípio, relatam esses representantes, não há impedimento para que empresas norte-americanas atuem na mineração em solo brasileiro. Já há diversas companhias privadas estrangeiras fazendo esse trabalho, como chilenas e argentinas - mas não governos de forma direta.
O que são minerais críticos?
Os minerais críticos são insumos considerados essenciais para a economia e a segurança nacional de um país, embora enfrentem riscos elevados de escassez ou interrupções no fornecimento.
Isso ocorre, em boa parte, porque a sua produção está concentrada em poucos países, além da dificuldade de substituição por outros materiais e da alta demanda em setores estratégicos como energia limpa, tecnologia, defesa e mobilidade elétrica.
Esses minerais são fundamentais, por exemplo, para a fabricação de baterias, turbinas eólicas, veículos elétricos, equipamentos eletrônicos e sistemas militares.
Entre os principais minerais críticos frequentemente citados estão lítio, cobalto, níquel, grafite, nióbio, terras raras, tântalo, cobre e urânio. O lítio é vital para baterias recarregáveis de veículos elétricos, enquanto o cobalto e o níquel integram a cadeia das baterias.
As terras raras, um grupo ainda mais restrito de minérios, são essenciais para usos em itens como ímãs permanentes usados em turbinas e motores elétricos. Já o grafite natural é usado no ânodo das baterias, enquanto o nióbio está presente em ligas metálicas para a indústria e infraestrutura.
Os Estados Unidos têm buscado diversificar seus fornecedores desses minerais, especialmente para reduzir sua dependência da China, que domina a cadeia de suprimento global de diversos desses insumos.
Ibram acompanha questão do tarifaço
O Ibram tem acompanhado o tema do tarifaço anunciado por Trump com atenção. "Desde que os EUA comunicaram este fato ao governo brasileiro, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) tem mantido consulta junto às mineradoras associadas para avaliar os possíveis impactos", declarou o instituto, que é presidido pelo ex-ministro Raul Jungmann.
"A conclusão é que essa imposição unilateral, sem embasamento técnico ou econômico convincente, fere o ambiente de negociação que tem se perpetuado no comércio internacional de minérios, razão pela qual este IBRAM apresenta publicamente seu repúdio à atitude do governo norte-americano, e espera que tal anúncio não se concretize", afirmou o Ibram, em nota.
Ao incluir os minérios entre os alvos do tarifaço, declarou o Ibram, os EUA "surpreendem negativamente" e "obrigam o Brasil a buscar novos parceiros no mercado mundial, abandonando uma parceria histórica com os EUA, que beneficia ambos os países".
Na avaliação do Ibram, os impactos dessas novas tarifas vão além do setor mineral porque esta indústria responde por 47% do saldo positivo da balança comercial, conforme dados de 2024. E abalos na exportação de minérios sempre são preocupantes sob este aspecto.