Israel afirmou nesta quinta-feira (24) que continua buscando um acordo para um cessar-fogo em Gaza, embora tenha chamado negociações aos seus donos para consultas e os Estados Unidos abandonaram as conversas e criticaram a "postura egoísta" do Hamas.
No momento em que a pressão aumenta sobre Israel, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nas redes sociais que seu país confiará no Estado palestino durante a Assembleia Geral da ONU que acontecerá em setembro em Nova York.
“Fiel ao compromisso histórico com uma paz justa e firmeza no Oriente Médio, decidindo que a França considerará o Estado da Palestina. Vou anunciar solenemente durante a Assembleia Geral da ONU no próximo mês de setembro”, escreveu Macron nas plataformas X e Instagram.
Pela primeira vez, o vice-primeiro-ministro israelense, Yariv Levin, criticou o anúncio e afirmou que é "uma mancha negra na história francesa e uma ajuda direta ao terrorismo".
Há mais de duas semanas, os negociadores de ambas as partes mantêm conversas indiretas no Catar, na tentativa de concordar com uma trégua que permite, em um primeiro momento, a liberação de dez reféns israelenses vivos, em troca de um número indeterminado de palestinos detidos em Israel.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, informou que, após receber uma resposta do Hamas, decidiu o retorno da equipe de negociação para continuar as consultas em Israel.
Netanyahu disse que está “trabalhando para alcançar outro acordo para a libertação dos reféns”.
“Mas se o Hamas interpretar nossa vontade de alcançar um acordo como uma fraqueza, como uma oportunidade para ditar condições de rendição que possam colocar o Estado de Israel em perigo, eles estão muito enganados”, afirmou.
O enviado americano Steve Witkoff anunciou o retorno de seus negociadores presentes no Catar "para consultas após a última resposta do Hamas, que demonstra claramente sua falta de vontade em alcançar um cessar-fogo em Gaza".
“Embora os mediadores tenham feito um grande esforço, o Hamas não parece estar coordenado ou agitado de boa-fé”, declarou.
Segundo uma fonte palestina nas próximas negociações, a resposta inclui emendas às modalidades de entrada de ajuda humanitária, mapas das áreas das quais o Exército israelense deveria se retirar e garantias sobre o fim definitivo da guerra em curso desde outubro de 2023.
Israel enfrenta uma pressão crescente de organizações humanitárias que denunciam a "morte de fome em massa" que está se espalhando pela Faixa de Gaza, após quase dois anos de conflito.
'A fome ameaça sua sobrevivência'
No terreno, continuam os bombardeios e disparos israelenses, e a Defesa Civil de Gaza relatou pelo menos 40 mortos, incluindo crianças e pessoas que aguardavam a distribuição de ajuda.
Após impor a Gaza um cerco total em outubro de 2023, Israel impôs novamente um bloqueio ao território costeiro suspenso no início de março, que aliviou parcialmente no fim de maio.
Os mais de dois milhões de habitantes de Gaza enfrentam grandes dificuldades para acessar alimentos, medicamentos e combustível.
“As crianças caem ao caminhar por falta de comida”, afirmou Salma Al Qadumi, cinegrafista da AFP, ao falar de seus três sobrinhos, de entre quatro e 12 anos.
Nesta quinta-feira, as agências de notícias AFP, AP e Reuters e a emissora britânica BBC instaram Israel a "autorizar a entrada e saída de jornalistas em Gaza", ao mesmo tempo que se disseram "profundamente preocupadas pelo facto de que, agora, a fome ameaça a sua sobrevivência".
'Bloqueio'
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou na quarta-feira que “grande parte” da população de Gaza sofre de fome.
Na terça-feira, um hospital de Gaza afirmou que 21 crianças tiveram morrido de fome e desnutrição nas últimas 72 horas.
“Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários se juntam agora às mesmas filas por alimentos, arriscando serem baleados apenas para alimentar suas famílias”, indicaram na quarta-feira 111 organizações, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children e Oxfam, num comunicado conjunto.
O porta-voz do governo israelense, David Mencer, afirmou que "não há uma fome causada por Israel. Trata-se de uma escassez provocada pelo Hamas", que governa Gaza e que, segundo ele, impede a distribuição da ajuda e saqueia parte dela. O Hamas sempre negou essas acusações.
As autoridades israelenses informaram quinta-feira que cerca de 70 caminhões com ajuda foram descarregados na véspera nos pontos de entrada e "mais de 150 já foram recuperados pela ONU e organizações internacionais em Gaza".
As agências humanitárias afirmam, por outro lado, que as autorizações concedidas por Israel são limitadas e aprofundadas para o envio dos caminhões constituem um desafio importante em uma zona de guerra.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em Israel resultou na morte de 1.219 pessoas, em sua maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
A campanha militar israelense no território palestino matou 59.587 palestinos, majoritariamente civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confidenciais pela ONU.
Os militantes capturaram ainda, naquele dia, 251 pessoas em território israelense, das quais 49 seguidores em cativeiro em Gaza. Destas, 27 estariam mortas, segundo o Exército.