Um barco da Global Sumud Flotilla, movimento que tenta furar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza, foi atingido por um drone na noite de segunda-feira (8/9). O incidente ocorreu em águas tunisianas e envolveu uma embarcação que navega sob bandeira portuguesa e transporta membros do comitê diretor da iniciativa, segundo informou a própria organização.
O ativista brasileiro Thiago Ávila estava a bordo no momento do ataque, conforme informações que sua família compartilhou com a Folha. Apesar dos danos causados ao convés principal e ao compartimento de armazenamento do navio denominado "Barco de Família", nenhum dos seis tripulantes sofreu ferimentos.
Ativistas mantêm missão apesar de ataques anteriores
"Atos de agressão destinados a intimidar e sabotar a nossa missão não nos dissuadirão", declarou a Global Sumud em comunicado após o incidente. "A nossa missão pacífica de quebrar o cerco a Gaza e manifestar solidariedade para com o seu povo continua com determinação e resolução."
A flotilha conta com a participação da ativista sueca Greta Thunberg, que junto com Ávila foi detida e deportada por autoridades israelenses durante uma tentativa anterior da organização em junho deste ano. Além de Ávila, pelo menos outros 12 brasileiros integram a tripulação dos diversos barcos da missão.
Um vídeo divulgado pela Global Sumud documenta o momento do suposto ataque, mostrando um clarão seguido de fumaça. O registro temporal da gravação indica que o incidente ocorreu à 0h29 no horário local da Tunísia.
Em entrevista concedida à Folha antes da partida da flotilha, o major Rafael Rozenszajn, porta-voz das Forças Armadas de Israel, havia sinalizado que seu país impediria a chegada dos barcos a Gaza. "As Forças Armadas vão estar preparadas para garantir que o bloqueio seja aplicado de uma forma absoluta na Faixa de Gaza", afirmou na ocasião.
Tentativas anteriores de estabelecer corredores humanitários marítimos para Gaza foram interceptadas pelas forças israelenses. Em maio, a embarcação Conscience sofreu ataques de dois drones em águas internacionais próximas à Malta, quando se preparava para transportar 80 pessoas e suprimentos para o território palestino.
No mês seguinte, o veleiro Madleen foi interceptado a 180 quilômetros da costa de Gaza com 12 tripulantes, incluindo Greta Thunberg e Thiago Ávila. O brasileiro permaneceu detido por cinco dias em isolamento, segundo relatos de sua família. Após intervenção diplomática do Itamaraty, foi expulso de Israel.
A atual operação, denominada Global Sumud (termo que significa "resiliência" em árabe), reúne 80 embarcações de 44 países diferentes, totalizando aproximadamente 700 participantes. A previsão da organização é chegar à Faixa de Gaza em 13 de setembro, conforme cronograma estabelecido.
Esta iniciativa resulta da colaboração entre diversos coletivos: Global March to Gaza, Sumud Convoy, Sumud Nusantara e a coalizão Freedom Flotilla. Os organizadores informaram ter arrecadado mais de 90 mil euros (equivalentes a R$ 570 mil) em doações para viabilizar a missão.
Os ativistas argumentam que as rotas terrestres para Gaza estão sob controle de Tel Aviv, o que frequentemente resulta em atrasos e restrições à ajuda humanitária. Eles consideram o bloqueio israelense ilegal perante o direito internacional, caracterizando-o como punição coletiva que viola as Convenções de Genebra.
A estratégia de utilizar dezenas de embarcações menores e descentralizadas, em vez de grandes navios, foi adotada por ser mais econômica e ágil, menos sujeita a entraves burocráticos e por distribuir a responsabilidade pela ação entre múltiplos agentes.