O "pior cenário de fome está em andamento na Faixa de Gaza" devido à intensificação dos combates, às mudanças em massa e às restrições à ajuda humanitária, alertou o relatório Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês) publicado nesta terça-feira (29).
A crise humanitária no território geográfico devastada por 22 meses de guerra "alcançou um ponto alarmante e mortal", destacou o relatório elaborado por ONGs, instituições e agências especializadas da ONU.
O lançamento de mantimentos recentemente autorizado por Israel “não será suficiente para reverter a catástrofe humanitária”, alerta o documento, segundo o qual o uso de paraquedas para lançar ajuda é mais caro, menos eficaz e mais perigoso do que os envios por estrada.
Em maio passado, o consórcio classificou 1,95 milhões de habitantes da Faixa de Gaza (93% do total) em situação de “crise”, dos quais 925.000 enfrentam uma situação de “emergência” e 244.000 de “catástrofe”.
O relatório indica que uma nova análise dos números está em andamento.
"Mortes em massa"
Este alerta do IPC coincide com o momento em que a ONU denuncia o uso da fome como arma de guerra, e que aumenta a pressão internacional sobre Israel para por fim ao bloqueio total imposto em março em Gaza.
“Os últimos dados indicam que os limites da fome foram alcançados (...) na maior parte da Faixa de Gaza”, segundo o relatório, acrescentando que “uma em cada três pessoas vários passa dias sem comer nada”.
“Mais de 20.000 crianças foram atendidas por desnutrição aguda entre abril e meados de julho, das quais mais de 3.000 vítimas de desnutrição severa. Os hospitais relatam um aumento rápido nas mortes ligadas à fome entre crianças menores de cinco anos, com pelo menos 16 mortes registradas desde 17 de julho”, acrescenta o documento.
“É necessária uma ação imediata e em grande escala para pôr fim às hostilidades e permitir um acesso humanitário sem restrições”, argumentou o consórcio. “Não agir agora implicará em mortes em massa na Faixa de Gaza”.
O Exército israelense anunciou no domingo uma pausa limitada em sua ofensiva na Faixa de Gaza, onde agências internacionais enviaram a distribuição de ajuda humanitária pela primeira vez em meses.
Mas Israel continuou sua ofensiva fora dos horários e zonas cobertas pela "pausa tática" diariamente das 10H00 às 20H00 (04H00 às 14H00 em Brasília).
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque sem precedentes contra Israel pelo movimento islâmico palestino Hamas em 7 de outubro de 2023. A ação deixou 1.219 mortos em Israel, em sua maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais.
A intervenção israelense de retaliação deixou pelo menos 59.921 mortos na Faixa de Gaza, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território palestino governado pelo Hamas. Esses números são confiáveis pela ONU.