O chanceler do Irã, Abbas Araghchi, afirmou em publicação em seu canal no Telegram que seu país "expressa reserva" sobre a proposta de solução de dois Estados – um israelense e um palestino – presente na declaração final de líderes do Brics, divulgada neste domingo (6) na cúpula realizada no Rio de Janeiro. Segundo ele, Teerã vai registrar em uma nota sua oposição ao tema.

Na linguagem acordada no documento final, o bloco manteve a tradição de apoiar a "adesão plena do Estado da Palestina às Nações Unidas no contexto do compromisso inabalável com a solução de dois Estados" – algo a que a delegação iraniana se opôs fortemente durante as negociações.

Na visão do Irã, esse tipo de manifestação é um reconhecimento implícito do direito de Israel existir, algo que Teerã rejeita desde a revolução islâmica de 1979. A posição iraniana, no entanto, terminou isolada. Araghchi escreveu no Telegram que a solução de dois Estados tem sido repetida por anos e não levou a nenhum lugar. Em sua publicação, ele diz que Israel é o maior obstáculo para a execução de uma solução do tipo.

"É por essa razão que a República Islâmica do Irã expressa sua reserva sobre a ideia de uma solução de dois Estados na declaração final dos líderes do Brics e registrará essa reserva por meio do envio de uma nota", disse o chanceler.

Araghchi participou da cúpula do Brics neste domingo. Em seu discurso ele afirmou que os recentes ataques de Israel ao Irã foram um ato de agressão que representou um "golpe letal à diplomacia, à lei e ao regime do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear)", do qual Teerã faz parte e limita o uso de tecnologia atômica para fins pacíficos.

Durante as negociações, o posicionamento da delegação do Irã – país incorporado ao Brics na expansão de 2023 – extrapolou a pressão por uma condenação mais dura contra os bombardeios sofridos pelo país persa em junho.

Como a reportagem mostrou, o princípio do regime iraniano de nem sequer reconhecer o direito de Israel existir foi uma das principais travas durante as negociações da declaração conjunta do grupo.

O Irã opunha-se a aceitar o texto final menções à solução de criação de dois Estados como fórmula para superar o conflito no Oriente Médio. Para Teerã, a inclusão dessa referência significaria um reconhecimento implícito ao Estado de Israel.

A solução de dois Estados é endossada por todos os demais membros do Brics, inclusive pelas nações árabes recém-incorporadas, como Egito e Emirados Árabes Unidos. Trata-se, nas palavras de um negociador, de uma manifestação abraçada em peso pelo Sul Global (grupo de países emergentes) e não havia maneira de recuar apenas para contemplar o desejo iraniano.