O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu a promessa feita e anunciou uma taxa de 50% sobre as exportações brasileiras. O comunicado foi feito na tarde desta quarta-feira (09/07), em carta direcionada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"A partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a tarifa mais alta", disse o republicano no documento.
O endurecimento da política tarifária ocorre mesmo com a balança comercial entre os dois países sendo mais favorável aos EUA. Em 2024, considerando todos os setores, o Brasil exportou R$ 40,3 bilhões para os Estados Unidos. As importações de insumos norte-americanos, porém, somaram R$ 40,6 bilhões.
O anúncio de Trump ocorre em meio a um período de tensão política entre os dois países. Nos últimos dias, o presidente dos EUA saiu em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao afirmar ele é alvo de uma 'caça às bruxas'. Bolsonaro é réu no STF por suposta tentativa de golpe de Estado para continuar no poder depois de ter perdido as eleições em 2022.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente liderou uma organização criminosa, composta também por seus aliados políticos. Após a manifestação, Lula retrucou e afirmou que o Brasil é um país soberano. "Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja", disse o Planalto.
No comunicado, Trump além de citar o processo contra Bolsonaro, criticou o Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o chefe da Casa Branca, o judiciário "emitiu centenas de ordens de censura secretas e ilegais a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro", disse.
Em agosto do ano passado, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, bloqueou o X, rede social do bilionário e ex-aliado de Trump, Elon Musk, no Brasil. A liberação só foi feita no dia 1 de outubro após o X informar que pagaria a multa fixada em R$ 18,3 milhões em função do descumprimento de decisões. Outros R$ 10 milhões em multas também teque ser pagos em função do artifício utilizado pela rede social para voltar a funcionar no país há cerca de 15 dias.
Trump argumentou que a tarifa de 50% é menor do que o necessário para se chegar a uma condição de igualdade. "E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual", escreveu. Após o aumento de taxas, Trump ameaçou novos aumentos, caso o governo brasileiro anuncie uma retaliação.
"Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos", ameaçou Trump.
A tarifa de 50% só poderá ser revista, conforme o norte-americano, caso o Brasil decida abrir mercados comerciais que estão fechados aos Estados Unidos. Ele também colocou como condições a eliminação de tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais.
"Nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América", finalizou Trump.
Procurado, o STF informou que não se posicionará sobre o comunicado de Trump. O governo brasileiro, por sua vez, não se pronunciou até o momento.
Queixas contra o Brics
A reação de Trump também tem como pano de fundo a reunião da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro. O encontro reuniu representantes de 11 nações, entre elas o Brasil, Rússia Rússia, Índia, China e África do Sul. Em uma rede social, Trump disse que as políticas do Brics são 'antiamericanas'.
Em sua declaração de líderes, divulgada no domingo (6/7), o Brics criticou medidas protecionistas adotadas no comércio global. "Reiteramos nosso apoio a um sistema multilateral de comércio baseado em regras, aberto, transparente, justo, inclusivo, equitativo, não discriminatório e consensual, com a OMC em seu núcleo, com tratamento especial e diferenciado (TED) para seus membros em desenvolvimento", destaca a declaração do Brics.
Pressão sobre produtos brasileiros
Com o anúncio de Trump, alguns setores da economia brasileira serão mais prejudicados. Entre eles estão as indústrias de alumínio e de aço, que já tinham uma alíquota de 25% estabelecida por Trump anteriormente. A nova taxação impõe, agora, uma tarifa de 75%.
Do total de produtos comercializados com outros países pelo Brasil em 2024, cerca de 12% do volume total foi destinado aos EUA. Os principais produtos exportados à indústria norte-americana pelo Brasil são óleos brutos de petróleo, produtos semimanufaturados de aço e ferro, aviões e café.
A reportagem de O TEMPO demandou a Presidência da República, o Governo de Minas, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e aguarda retorno.
Leia a carta de Trump na íntegra
"Prezado Sr. Presidente:
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes.
Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta. Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América. Muito obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA"