O Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW), nos Estados Unidos, confirmou que javaporcos capturados na região de Salinas, no condado de Monterey, apresentam carne e gordura que emitem um brilho azul neon. A descoberta ocorreu em março de 2025, quando caçadores encontraram os animais com a coloração anormal. Testes laboratoriais identificaram que a fluorescência é resultado da contaminação por difacinona, um rodenticida anticoagulante ao qual os animais foram expostos "por um período prolongado".

Dan Burton, especialista em controle da fauna selvagem, foi quem primeiro notou a coloração incomum nos tecidos dos javaporcos durante atividades rotineiras de captura. Segundo reportagem da Deutsche Welle, o Laboratório de Saúde da Vida Selvagem do CDFW, em parceria com o Laboratório de Saúde Animal e Segurança Alimentar da Califórnia em Davis, conduziu a investigação que confirmou a contaminação.

A difacinona, substância intencionalmente colorida de azul para alertar humanos sobre sua presença, age como anticoagulante nos animais que a ingerem. O veneno interfere nas enzimas responsáveis pela reciclagem da vitamina K, comprometendo a capacidade de coagulação sanguínea.

"Não estou falando de um pouco de azul. Estou falando de azul neon, azul mirtilo", declara o especialista em controle da fauna selvagem, Dan Burton, ao Los Angeles Times. "É uma loucura".

Embora as doses de difacinona em armadilhas sejam letais para roedores, elas não são suficientes para causar morte imediata em javaporcos, que pesam entre 45 e 90 quilos. Isso permite que os animais acumulem a substância em seus tecidos ao longo do tempo.

Um estudo realizado pelo CDFW em 2018 já havia detectado vestígios de rodenticida em 8,3% dos javaporcos analisados na Califórnia. Os dados mais preocupantes revelaram que 83% das amostras de ursos examinadas continham o veneno, principalmente em áreas próximas a projetos de controle de roedores.

Desde 2024, o uso de difacinona na Califórnia está restrito a técnicos certificados. No entanto, os cientistas ainda não determinaram completamente o alcance da contaminação atual nem quantos animais podem estar afetados sem apresentar a coloração azul visível.

O CDFW solicitou aos caçadores que tomem precauções ao coletar carne na área e que relatem qualquer anomalia ao Laboratório de Saúde da Vida Selvagem. Os agricultores estão sendo orientados a adotar métodos alternativos de manejo de pragas, como cercas, armadilhas e uso de predadores naturais.

"Os caçadores devem estar cientes de que a carne de animais caçados, como javalis, veados, ursos e gansos, pode estar contaminada se esses animais tiverem sido expostos a rodenticidas", alertam os especialistas do CDFW. Eles acrescentam que, "A exposição a rodenticidas pode ser motivo de preocupação para a fauna silvestre não-alvo em áreas onde esses produtos são aplicados muito perto do habitat dos animais".