O Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW), nos Estados Unidos, confirmou que javaporcos capturados na região de Salinas, no condado de Monterey, apresentam carne e gordura que emitem um brilho azul neon. A descoberta ocorreu em março de 2025, quando caçadores encontraram os animais com a coloração anormal. Testes laboratoriais identificaram que a fluorescência é resultado da contaminação por difacinona, um rodenticida anticoagulante ao qual os animais foram expostos "por um período prolongado".
Dan Burton, especialista em controle da fauna selvagem, foi quem primeiro notou a coloração incomum nos tecidos dos javaporcos durante atividades rotineiras de captura. Segundo reportagem da Deutsche Welle, o Laboratório de Saúde da Vida Selvagem do CDFW, em parceria com o Laboratório de Saúde Animal e Segurança Alimentar da Califórnia em Davis, conduziu a investigação que confirmou a contaminação.
A difacinona, substância intencionalmente colorida de azul para alertar humanos sobre sua presença, age como anticoagulante nos animais que a ingerem. O veneno interfere nas enzimas responsáveis pela reciclagem da vitamina K, comprometendo a capacidade de coagulação sanguínea.
"Não estou falando de um pouco de azul. Estou falando de azul neon, azul mirtilo", declara o especialista em controle da fauna selvagem, Dan Burton, ao Los Angeles Times. "É uma loucura".
Hunters in California were shocked to find wild pigs with neon blue flesh.
— swendotsz (@swendotsz) August 18, 2025
They had eaten rat poison pellets dyed with diphacinone a chemical once widely used on farms but now heavily restricted in California. The dye spreads through the meat, making it unsafe even after cooking pic.twitter.com/0uHsdGA0Js
Embora as doses de difacinona em armadilhas sejam letais para roedores, elas não são suficientes para causar morte imediata em javaporcos, que pesam entre 45 e 90 quilos. Isso permite que os animais acumulem a substância em seus tecidos ao longo do tempo.
Um estudo realizado pelo CDFW em 2018 já havia detectado vestígios de rodenticida em 8,3% dos javaporcos analisados na Califórnia. Os dados mais preocupantes revelaram que 83% das amostras de ursos examinadas continham o veneno, principalmente em áreas próximas a projetos de controle de roedores.
Desde 2024, o uso de difacinona na Califórnia está restrito a técnicos certificados. No entanto, os cientistas ainda não determinaram completamente o alcance da contaminação atual nem quantos animais podem estar afetados sem apresentar a coloração azul visível.
O CDFW solicitou aos caçadores que tomem precauções ao coletar carne na área e que relatem qualquer anomalia ao Laboratório de Saúde da Vida Selvagem. Os agricultores estão sendo orientados a adotar métodos alternativos de manejo de pragas, como cercas, armadilhas e uso de predadores naturais.
"Os caçadores devem estar cientes de que a carne de animais caçados, como javalis, veados, ursos e gansos, pode estar contaminada se esses animais tiverem sido expostos a rodenticidas", alertam os especialistas do CDFW. Eles acrescentam que, "A exposição a rodenticidas pode ser motivo de preocupação para a fauna silvestre não-alvo em áreas onde esses produtos são aplicados muito perto do habitat dos animais".