A Ucrânia lançou uma série de ataques com drones contra a Rússia neste domingo (24), dia de sua independência, no momento em que os esforços diplomáticos para acabar com o conflito parecem perder ímpeto.
Em Kiev, as comemorações pelo 34º aniversário da independência foram marcadas pela participação do enviado americano para a Ucrânia, Keith Kellogg, e do primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney.
"Juntos, os ucranianos e nossos parceiros, nos esforçamos para empurrar a Rússia para a paz", declarou o presidente Volodimir Zelensky durante a cerimônia, na qual entregou a Kellogg a Ordem de Mérito ucraniana, na presença de Carney e outros funcionários ocidentais.
As possibilidades de paz neste conflito e os esforços do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para organizar uma cúpula entre os mandatários de Rússia e Ucrânia foram paralisados na sexta-feira, quando o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, descartou qualquer encontro imediato entre Putin e Zelensky, afirmando que "não há nenhuma reunião prevista".
Lavrov voltou a insistir em uma entrevista divulgada neste domingo pelo canal público Rossia.
O chanceler russo acusou as potências ocidentais de "buscar um pretexto para impedir as negociações", e Zelensky de "teimar, impor condições e reivindicar qualquer forma um encontro imediato" com Putin.
A guerra, que está em curso há três anos e meio e já deixou dezenas de milhares de mortos, encontra-se atualmente em um impasse, embora a Rússia tenha obtido avanços recentes em uma ofensiva desgastante que inclui a tomada de duas localidades da região oriental de Donetsk no sábado.
Necessidade de uma "paz justa"
Neste domingo, a Ucrânia lançou novos ataques de drones em território russo. Um deles foi abatido sobre a usina nuclear de Kursk e explodiu ao cair, causando um incêndio na instalação.
"É assim que a Ucrânia ataca quando seus apelos pela paz são ignorados", afirmou Zelensky, ilustrando o impasse nas negociações.
Os responsáveis pela usina russa disseram que não houve vítimas nem foram registrados níveis anormais de radiação, e que o incêndio foi extinto.
As autoridades russas declararam, por sua vez, que haviam abatido outros drones ucranianos longe da frente de batalha.
Na costa do mar Báltico, 10 drones foram interceptados no porto de Ust-Luga, perto de São Petersburgo, o que provocou um incêndio em um terminal de petróleo do grupo russo Novatec, informou no Telegram o governador regional, Alexander Drozdenko.
Os serviços de segurança ucranianos e as forças especiais do país reivindicaram este ataque, assegurando ter atingido o complexo do "maior produtor de gás liquefeito da Rússia".
O exército ucraniano, menor e com menos armamentos que os militares russos, depende, em grande medida, de drones para responder à invasão russa, focando principalmente na infraestrutura petrolífera, uma fonte-chave de receita de Moscou para financiar a guerra.
Kiev relatou, ainda, que a Rússia atacou durante a madrugada do domingo com um míssil balístico e 72 drones Shahed, de fabricação iraniana, dos quais a Força Aérea derrubou 48.
Um drone russo matou uma mulher de 47 anos na região oriental de Dnipropetrovsk, segundo o governador local.
Neste domingo, o comandante em chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Sirski, afirmou que suas tropas recuperaram as aldeias de Mikhailivka, Zelenyi Hai e Volodimirivka na região oriental de Donetsk que estavam ocupadas pelas forças russas.
Para apoiar a defesa aérea da Ucrânia, a Noruega anunciou, no mesmo dia, um financiamento de 7 bilhões de coroas (cerca de R$ 3,8 bilhões, na cotação atual) para fornecer ao país dois sistemas antimísseis americanos Patriot, em colaboração com a Alemanha.
Aniversário com gosto de "suor e sangue"
Os últimos confrontos ocorrem em meio à comemoração do 34º aniversário de independência da Ucrânia, após a dissolução da União Soviética em 1991.
Para Dobrii, um médico de combate ucraniano na frente oriental, a celebração tem "gosto de suor e sangue". "Sou um patriota de coração, mas quando o Dia da Independência se tornou um dia de combate, o sentimento é um pouco diferente", disse à AFP.
Na cerimônia realizada em Kiev, Zelensky agradeceu a outros líderes mundiais, incluindo Trump, o presidente da China, Xi Jinping, o rei Charles III da Inglaterra e o papa Leão XIV, pelas mensagens que lhe enviaram por ocasião do aniversário.
A Rússia agora controla cerca de 20% da Ucrânia, incluindo a península da Crimeia, que anexou em 2014.
Putin rejeitou repetidamente as exigências da Ucrânia e da Europa por um cessar-fogo imediato e incondicional.
Neste domingo, Rússia e Ucrânia trocaram 146 prisioneiros de guerra, anunciou o Ministério da Defesa russo, em uma das poucas áreas de cooperação entre os dois países desde o início da ofensiva russa em 2022.
Em uma mensagem em seu canal do Telegram, o ministério russo confirmou que "146 militares russos foram devolvidos do território controlado" por Kiev na Ucrânia, e "em troca, 146 prisioneiros de guerra das Forças Armadas da Ucrânia foram transferidos" para seu país.
Moscou acrescentou que a Ucrânia devolveu à Rússia oito cidadãos residentes na região russa de Kursk (oeste), "detidos ilegalmente" por Kiev.