A Venezuela anunciou, na terça-feira (26/8), que passará a patrulhar suas águas territoriais com drones e navios da Marinha em resposta à movimentação militar dos Estados Unidos no Caribe. A medida aumenta a tensão entre Caracas e Washington que, por sua vez, mobilizou destróieres e milhares de fuzileiros navais na região sob o argumento de combater o narcotráfico internacional.
Na véspera, o ditador Nicolás Maduro já havia informado o envio de 15 mil militares à fronteira com a Colômbia para operações antidrogas, enquanto acusa os EUA de promover uma "escalada de ações hostis".
Já nesta terça, o regime venezuelano divulgou vídeo no qual o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, fala em "drones com diferentes missões", além de "percursos fluviais com infantaria da Marinha" no noroeste do país. "Vamos fazer um reforço. Estamos confiantes e alcançaremos ótimos resultados", diz, sem entrar em detalhes.
A mobilização venezuelana é uma resposta a Washington. Na semana passada, três destróieres lançadores de mísseis guiados da classe Arleigh Burke haviam sido enviados para a região, mas deram meia volta devido à força do furacão Erin. Nesta segunda (25/8), eles retomaram o deslocamento.
Na semana que vem, mais um navio de guerra e um submarino de propulsão nuclear chegarão às águas caribenhas em torno do país liderado por Maduro. Os EUA também enviarão um cruzador, navio maior e mais armado que os destróieres, o USS Lake Erie, além de cerca de 4 mil fuzileiros navais.
Os EUA anunciaram no começo do mês que começariam uma operação militar contra o tráfico no Caribe, empregando suas vastas forças navais. Na semana passada, contudo, o foco foi direcionado para Maduro, cuja cabeça está a prêmio -Trump aumentou para US$ 50 milhões (cerca de 270 milhões) a recompensa a quem der dicas de como prender o ditador.
Washington ainda classificou o Cartel de los Soles - suposta rede de narcotráfico que seria liderada pelo ditador venezuelano - de organização terrorista.
A Casa Branca ainda afirmou que usaria "toda a força" contra Caracas, ao mesmo tempo em que enviou os navios. A mobilização do submarino e do cruzador já vinha sendo especulada desde o início da operação, mas foi revelada na noite de segunda pela agência Reuters. Até agora, porém, não há informações sobre o destino nem a data de chegada da frota ao Caribe.
Maduro, por sua vez, iniciou novo alistamento à Milícia Nacional Bolivariana, força composta de civis alinhados às Forças Armadas, e afirmou que a Venezuela conta com 4,5 milhões de reservistas prontos para enfrentar ameaças, número contestado por especialistas.
Entre os venezuelanos, a possibilidade de uma invasão americana é tema de piadas, receios e expectativas entre opositores, embora analistas considerem improvável uma ofensiva direta. "O que estamos vendo é uma tentativa de criar ansiedade dentro do governo e forçar Maduro a negociar algo", disse à agência de notícias AFP Phil Gunson, do Crisis Group.
Caracas também levou o tema à ONU, exigindo "o cessar imediato do deslocamento militar americano no Caribe" e pedindo ao secretário-geral da organização, António Guterres, que intervenha para "restabelecer o bom senso".
A política de Washington em relação à Venezuela tem oscilado nos últimos anos. Durante seu primeiro governo, Donald Trump aplicou uma estratégia de máxima pressão, impondo sanções e um embargo ao petróleo.
Já no segundo mandato, autorizou contatos com o chavismo para tratar da deportação de venezuelanos em situação irregular e flexibilizou medidas contra a petroleira Chevron, que continua exportando petróleo da Venezuela para os Estados Unidos.