O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta quinta-feira (28), a soberania do Panamá sobre o canal que corta o país centro-americano e criticou "ameaças ilegais de uso da força" sob justificativa de combate ao crime organizado - uma queixa direcionada ao deslocamento de navios de guerra dos Estados Unidos para áreas próximas à costa da Venezuela.
"O Brasil apoia integralmente a soberania do Panamá sobre o canal, conquistada após décadas de luta. Há mais de 25 anos, o país administra o corredor marítimo com eficiência e respeito à neutralidade, garantindo trânsito seguro a navios de todas as origens", declarou Lula, após receber no Palácio do Planalto o presidente panamenho, José Raúl Mulino.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou retomar a rota marítima que os EUA construíram, sob o argumento de que ela está sob influência da China - o republicano chegou a dizer que não descartava uma recuperação pelo uso da força.
Em seu discurso, Lula fez outras críticas a políticas de Trump, embora não tenha citado o americano. Disse que tentativas de restaurar antigas hegemonias "colocam em xeque a liberdade e a autodeterminação" dos povos na América Latina.
"Ameaças de ingerência pressionam instituições democráticas e comprometem a construção de um continente integrado, desenvolvido e autônomo", declarou. Em outro momento, Lula fez referência à mobilização militar dos EUA na costa da Venezuela.
Embarcações de guerra americanas, armadas com sistemas de mísseis de ataque, foram enviadas à costa do país sul-americano como parte de um esforço para combater os cartéis de drogas da América Latina.
Em paralelo à movimentação, a porta-voz do governo americano, Karoline Leavitt, afirmou na terça que o país usará "toda a força" contra o regime de Maduro. Em reação, o ditador anunciou a mobilização de 4,5 milhões de membros de milícias paramilitares em resposta ao que chamou de ameaça contra o seu país.
Lula disse que o combate às organizações criminosas não pode ser pretexto "para ameaças ilegais de uso de força em violação à carta das Nações Unidas".
A preocupação do governo brasileiro com a movimentação militar dos Estados Unidos já tinha sido expressada em reunião recente da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), realizada em Bogotá, na Colômbia.